Prólogo

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- Diet Mountain Dew; Lana del Rey

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POV Marjorie Cerrado


Eu sempre me perguntei o que havia de errado comigo, com minha mãe, com minha irmã. Sempre me perguntei o que tínhamos feito de errado para que meu pai não nos quisesse, até que eu descobri que não fizemos nada. Nunca fizemos. Ele só é um babaca idiota. Ele só é um homem.

Eu não conheço meu pai. Minha mãe diz que ele era impossível para ela, então ele a engravidou e quando descobriu, mandou ela me abortar. Ela disse também que ele era envolvido com bastante dinheiro, coisa absurda. Eu o odeio por ter abandonado minha mãe, mas o odeio principalmente porque eu poderia ter uma vida diferente.

Aqui no morro, se você for homem, você vira traficante, se for mulher, vira esposa de um. Eu não quis me submeter a isso. Onde já se viu? Eu sou inteligente pra caralho, aprendo rápido, sou ágil... Isso tudo para ficar em casa, sendo esposa troféu e fugindo de polícia? Não. Não é isso o que eu mereço. Não é isso o que eu quero.

De braços dados com meu chefe da noite, entramos em um restaurante chique. Ele me pagou três mil para fingir ser neta dele e seduzir um gringo para fechar um negócio. Até onde as pessoas vão por incompetência? Bom, para minha sorte, ele é burro o suficiente para me pagar essa grana toda.

Um galego se levanta ao nos ver, então imagino que esse seja o gringo. Eu não mencionei antes, mas sou poliglota. Eu falo português, inglês, francês e italiano. Tudo isso com a grana dessas noites. É óbvio que nem toda noite eu tenho que apenas acompanhar, e eu não tenho problema com isso desde que usem camisinha. Mas esse dinheiro me ajuda tanto e eu tenho fé que vou conseguir sair e tirar minha mãe e minha irmã daquele buraco que moramos, e se para isso eu tiver que dar para caras velhos e ricos, ou para feios, ou para alienígenas... Não me interessa quem é. Dinheiro na mão, calcinha no chão. Se bem que eu também aceito Pix.

- So... Is this your granddaughter? (Então... É sua neta?) - Joseph é o britânico. Quem sabe se eu seduzir ele pra valer, ele me leva pra Londres também? É um sonho que eu ainda vou realizar: ir a Londres. Talvez eu até tire foto com aqueles guardas mal encarados.

- Yes. She was so insistent on coming with me. She loves London and has been there countless times. (Sim. Ela insistiu tanto para vir junto. Ela ama Londres e já foi inúmeras vezes.) - Meu querido vozinho responde, passando a mão em meu rosto.

É óbvio que eu nunca fui a Londres, mas eu não sou idiota de vir até um encontro com um britânico sem saber no mínimo uma peculiaridade da cidade dele. Eu não sou amadora nisso.

- It's so exciting... Just let me ask... What do you think of the ravens in the Tower? Do you think it's a silly superstition or do you really believe it? (É tão excitante... Só me deixe perguntar... O que acha dos corvos da Torre? Acha uma superstição besta ou realmente acredita?) - Debruço sobre a mesa, tentando demonstrar conforto e domínio sobre o assunto.

Meu "avô" me encara, confuso. Dois segundos de pesquisa no Google e a gente acha sobre essa superstição dos britânicos, mas esse velho, que já foi lá várias vezes, não conhece? Ah sério, esse homem é muito burro.

- I really believe that. Did you see that one is missing? (Eu acredito muito nisso. Viu que um está desaparecido?). - Joseph parece interessado na minha pessoa e nos meus assuntos. É óbvio que não vamos ficar a noite inteira conversando apenas sobre essa bobagem, mas é bom deixar o receptor confortável antes de tentar manipular ele para que goste de você.

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora