Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO

Capítulo XXX

— Blue Jeans; Lana del Rey

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POV Marjorie Cerrado

Ainda estou puta pelo que aconteceu mais cedo com o Major, mas hoje é aniversário de Dedé e eu preciso me desvencilhar disso. Reclamava tanto de Nascimento, e estou igual a ele, trazendo a Cerrado pra casa e com dificuldade em separar Cerrado de Marjorie.

Pego "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Hollanda, que está embalado para presente. Eu sei sobre a visão de Mathias sobre a esquerda, mas, diferente de Nascimento, ele é adepto a ideias que eu falo e acho que, independente do lado que você é, deveria ler Sérgio Buarque, ou ao menos "Raízes do Brasil", uma vez na vida.

Com o cabelo inteiramente solto, analiso meu corpo nu na frente do espelho que fica a frente da minha cama. Eu sei que ele estará lá e estará com ela. O que eu visto? Eu quero mostrar que ele perdeu e muito, mas não há muito o que eu precise fazer porque eu sou bem mais gostosa que aquela loira sem sal.

Caminhando com meu coturno preto, observo meu corpo já vestido, no espelho. Gostosa. Vestindo um corset vermelho, juntamente com uma minisaia preta de seda, e uma jaqueta de couro também preta, saio carregando o presente de Mathias.

Victoria, com um vestido verde água, também curto,  me segue até meu carro. Dorival nos cumprimenta, recomendando que tomemos cuidado.

— Seu Dorival, quem precisa tomar cuidado são eles. — Victoria sorri, respondendo pela janela do carro.

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POV Fernanda Silva

Apoiada no braço do sofá, observo Nascimento se servir de cerveja, enquanto o Major e o Comandante se servem de um conhaque. Como eu que estou dirigindo, decido não beber.

Os olhares param na porta quando ela aparece. Acompanhada pela amiga, Marjorie desfila adentrando o imóvel. Instantaneamente, todos vão cumprimenta-la, principalmente os meninos do batalhão. Cerro os olhos, analisando a feição de Nascimento, mas ele abaixa o olhar e encara o copo. Eu deveria me preocupar? Não. Não preciso ficar insegura porque eu nunca fui uma opção, não é mesmo? Nunca vou competir por um espaço na vida de Nascimento com essa putinha de esquina. Embora eu goste dele, o fim dessa guerra é bastante óbvio.

Eu que não vou ficar vendo essa cena ridícula de todos babando nas duas piriguetes. Me direciono até a varanda, observando a noite daqui. Ninguém aqui nessa festa gosta de mim e só me convidaram por causa de Nascimento. Que merda eu tô fazendo?

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POV Marjorie Cerrado

Sorrio de canto ao ver a puta fardada se afastar. Vou mostrar a ela o gostinho da traição mas também vou mostrar a ela que, enquanto eu existir, ela sempre, SEMPRE, será a segunda. Foda-se a sororidade.

Me aproximo de Nascimento, recuando assim que vejo o desgraçado do Major parado, me encarando. Nascimento percebe nossos olhares, então repousa a mão no ombro do velho caquético e sussurra algum coisa.

Sorrindo, Nascimento se aproxima, segurando o copo de cerveja. Me afasto dele, querendo que ele me deseje e me siga durante toda a noite.

A quem eu quero enganar? Tô com saudade desse babaca traidor, e por isso estou fazendo essa palhaçada toda. Eu não quero me vingar de Fernanda, tô pouco me fodendo pra ela na verdade, mas só a ideia de ter Nascimento nas mãos me anima, me alegra.

— Dedé! — Pulo nos braços do meus amigo, entregando o embrulho de presente. — Olha, leia antes de julgar apenas pelo escritor. — Bato na testa dele de leve, enquanto Dedé me abraça e abraça Victoria ao mesmo tempo.