Capítulo LXXI

656 73 188
                                    

- Black Beauty; Lana del Rey

______♡______
POV Capitão Nascimento

Eu já não aguento ver ela assim. Já faz uma semana, e ela ainda chora todas as noites. Eu finjo que não percebo porque ela finge que não acontece, mas eu queria ir até ela e dizer que não precisa fingir que é forte e que pode me dizer o que ela sente. Eu sei que tudo isso que ela viveu, coisas que eu nunca vou imaginar, a deixou perturbada. Ela mal dorme, e só come por causa do bebê. Mas ela deveria saber que se ela não estiver bem, o nosso filho também não vai estar.

Eu sinto falta daquela Marjorie que eu conheci, bem no início. Ela costumava ser alegre e até inocente, de certa forma. Minha Marjorie. Minha. Eu vou cuidar dela e do nosso filho, mesmo que ela não queira. Tenho trocado de plantão com Renan e Carvalho, tudo pra passar o máximo de tempo com ela, mas mesmo se eu estiver em ação, não vou conseguir porque minha mente sempre vai estar aqui, com ela. Pra uma pessoa que coloca o trabalho sempre em primeiro lugar e que ja perdeu muito por isso, é foda assumir a incompetência em separar o pessoal do profissional, mas eu sempre fui assim. Sempre deixei o Capitão Nascimento me guiar, mesmo em casa, e o Roberto também tem seus momentos.

- Vai pra casa. Eu fico com ela. - Victoria repousa a mão no meu ombro, enquanto Marjorie dorme. Todas as vezes que Victoria, Mathias ou Neto vêm, Marjorie está dormindo. Eu gostaria que ela visse que é muito amada porque a psicóloga disse que eu deveria fazer isso.

- Eu estou bem aqui. - Respondo, ainda disperso em meus pensamentos.

O maior problema agora está sendo essas sessões com a psicóloga. Marjorie não quer falar sobre. Não quer falar sobre nada e isso me deixa puto e desesperado ao mesmo tempo. A psicóloga falou que eu tenho que respeitar o espaço dela, mas eu queria estar agarrado nela e no meu filho agora, os apoiando. Queria repousar minha cabeça na barriga dela e dizer ao nosso bebê que o pai dele sempre vai estar aqui.

Com toda essa confusão, tenho visto Rafael poucas vezes. Ele vem aqui no hospital ver Marjorie e Rosane também vem e me dá apoio. Eu fico feliz por ela e Marjorie se darem bem e se gostarem porque Rosane sempre vai ser minha família e uma das únicas pessoas em que confio.

______♡______
POV Marjorie Cerrado

Faz uma semana desde que Ludmilla morreu. Encontraram o corpo dela jogado, no meio de uma estrada, bem longe de onde estavamos. Deixaram o corpo dela atoa, pra que qualquer um fizesse o que quisesse e eu não fiz nada. Nao fiz nada enquanto minha amiga era abusada e assassinada na minha frente. Esse bebê é a minha última esperança, e se eu o perder, eu já não tenho motivos pra estar viva. Eu já não vejo sentido em estar viva e Ludmilla não. Chega a ser injusto. Por que eu merecia e ela não? Por que ela foi tratada como apenas uma morte de uma coadjuvante sendo que a morte dela foi o que fez meu mundo parar? Por que vocês ainda sorriem se ela não pode? Por que ainda comemoram aniversários e anos de vida se ela já não pode fazer o mesmo? Eu sei que todos morrem, mas daquele jeito brutal é o que me deixa inconformada. Meu bebê é tudo o que me sobrou. Minha melhor amiga foi brutalmente assassinada, a outra sequer veio me visitar, o pai do meu filho é um babaca, minha mãe mora em outra cidade e meu pai está preso. Esse bebê é tudo o que eu tenho.

Nascimento está sentado na poltrona, distante da minha cama, me observando. Por um momento, permito que haja uma troca de olhares entre nós. Seus olhos se fixam aos meus, analisando o fundo da minha alma, se é que eu ainda tenho.

Desvio o olhar, tirando ele e o semblante cansado e preocupado de meu campo de visão. Me mexo pouco, morrendo de medo de fazer algum movimento e meu bebê piorar.

- Roberto. - Antes que eu termine de falar, Roberto já está de pé, ao meu lado. Ele está tentando se redimir, e eu vejo isso, mas eu preciso de tempo. Preciso de tempo, não apenas pra perdoar ele pelas merdas que me disse e que fez, mas pra superar tudo o que eu vivi, se é que algum dia eu vá conseguir esquecer. Eu nunca mais vou ser a mesma, mas eu vou precisar lidar com isso por causa do meu pedacinho de amor. Ele é minha única esperança e é o que me liga a Roberto, mas eu vejo que ele está tentando. Então que tente mais. Que tente até me fazer esquecer de tudo o que me chamou. - Pode me trazer uma água?

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora