Capítulo LXXXV

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POV Marjorie Cerrado

Ao ouvir os passos pesados sobre o piso, abro imediatamente meus olhos. Eu sei que é Roberto, mas às vezes tenho alguns desses reflexos e meu coração começa a acelerar.

Solto um suspiro, passando as mãos pelo rosto. Encarando o teto, me recordo dos tormentos que passei ao lado de Ludmilla.

Lembre-se, Marjorie, ninguém pode te machucar aqui.

— Está acordada? — Esta foi a primeira noite de curso. Sabe quando você não quer falar nada porque sabe que vai iniciar uma briga? É exatamente como estou agora. Não quero falar. Não quero nem ouvir o que ele tem a falar porque sei que não vou me controlar, vou agir impulsivamente e vou falar merda. Será melhor para nós dois que eu volte a dormir ou ao menos finja.

Roberto se senta na cama e tira a camisa que vestia. Olhando para mim a todo momento, ele leva a mão até minha barriga, como ainda tem o costume de fazer, e acaricia.

Eu estou com raiva. Eu quero chorar por ele estar me fazendo ficar sozinha esse tempo todo. Havíamos marcado o casamento para o dia treze de março do ano que vem, daqui a seis meses, e eu estou resolvendo tudo sozinha. O que ele se comprometeu a fazer, que é preparar documentação e que é uma coisa que demora muito, eu é quem estou fazendo. E isso me irrita. Isso me irrita e me decepciona porque eu esperava um casamento tranquilo e só o namoro já me deu tanta dor de cabeça e agora esse noivado.

— Eu não estou feliz, Roberto. — É, eu não me controlei. Eu iria ficar quieta, mas sentir ele me acariciar dessa maneira, achando que estou satisfeita ou conformada com essa situação, me fez repensar na nossa falta de diálogo.

Roberto suspira, tirando sua mão e encarando o chão, em silêncio. Porra, fala alguma coisa.

— Não vamos dar certo se a gente não conversar. — Engulo todos os meus piores sentimentos, minhas vontades repromidas, e me sento, o encarando.

— O que mudou? — Ele me perguntou isso mesmo? — Você não se importava com meu trabalho quando namorávamos.

— “O que mudou”? Olha o berço, Roberto. Eu sou mãe mas ainda sou um ser humano. Rafael não pode me ajudar o tempo inteiro porque ele tem a própria vida, ele tem a escola… Victoria é a mesma situação. E ninguém, além de você, tem a obrigação de ser meu apoio. — Mesmo falando baixo, minha voz é firme. Não quero brigar, embora eu já esteja quase voando nele de raiva.

— Eu só preciso terminar esse curso e encontrar alguém bom o suficiente pra ficar no meu lugar, Marjorie. É tudo questão de tempo. — Roberto repousa a mão na minha coxa, acariciando-a.

— E será que eu sobrevivo todo esse tempo? — Será que eu dou conta?

— Não consegue viver sem mim? —  O alívio finalmente surge no rosto de Roberto e, rapidamente, Roberto me envolve em seus braços, me puxando para deitarmos juntos.

Homem manipulador. Ele sabe que não consigo ficar chateada quando ele é carinhoso assim. Me esqueço de tudo quando ele faz com que eu me sinta protegida e amada em seu abraço.

— Para. — Relutante, tento me afastar dele, mas Roberto me segura com ainda mais força, então me dou por vencida. Colocando seu braço por baixo da minha cabeça, Roberto encara o teto, enquanto acaricia meu braço com a outra mão. Me junto a ele, encarando o teto e pensando. — Eu consigo viver sem você, mas eu não quero. 

— Prometo que serei somente seu em pouco tempo.

— Pouco tempo quanto? Nosso casamento é em seis meses e essa merda de curso demora seis meses, amor. — Encaro Roberto com o olhar manhoso e carente de sempre.

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