Capítulo XLVI

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POV Marjorie Cerrado

Me sento no sofá próximo a mesa de Ludmilla, impressionada com o que eu acabei de ouvir.

— Você foi amante daquele homem? — Olho pra ela, indignada. Não estou a julgando, mesmo que seja nojento, mas eu não posso deixar de me impressionar. Minha mentora é linda, inteligente. O que um homem daqueles teria pra oferecer a ela?

— Nós nos conhecemos em uma visita ao presídio. Ele estava lá. Ele que me ajudou a começar a trabalhar aqui e fiquei apaixonada. Só que não terminou muito bem. — Ludmilla faz uma breve pausa antes de prosseguir. — Quanto mais eu ficava com ele, mais eu o conhecia. E eu não gostava de quem ele era. Ele era um homem agressivo, manipulador. Ele tinha o perfil de um criminoso e eu sou advogada. Esse não é o tipo de cara que eu queria, então eu terminei com ele. Só que o Major não sabe ouvir não. Ele me perseguiu, invadiu a minha casa. Ele me ameaçou. A minha sorte foi que ele encontrou outro brinquedo e me deixou em paz. Desde então não tinha visto ele até aquela audiência.

— Então por isso que você ficou com medo dele fazer alguma coisa com você?

— Eu não fiquei com medo. Eu estou com medo. Eu sei muito bem da capacidade dele. Ele quebrou a minha casa inteira quando eu disse não, imagine o que ele pode fazer comigo por tê-lo acusado de matar uma criança.

— A gente vai dar um jeito nisso ele não vai chegar perto de você de novo

— Eu sei que não vai. Eu não sou mais uma garota idiota. Eu sei muito bem me defender e eu estou a três passos à frente dele.

— Está tão na frente dele que a sua estagiária estava dentro da casa dele coletando provas.

— Exatamente. Eu vou fazer ele pagar por cada crime que cometeu e por cada noite em que eu dormi com medo.

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Era perceptível o rancor na voz de Ludmilla e não é para menos. Um cara que faz esse tipo de coisa com uma mulher tem que morrer.

Diógenes me pareceu um homem muito bom ontem e ele fez isso porque queria me impressionar para entrar na minha ONG. Ele tem algum interesse por trás daquele homem bonzinho.

Depois de falar com Ludmilla, eu e Pedro conversamos muito, principalmente sobre as ONGS. Enquanto falava com ele, eu tive uma ideia maravilhosa. Pensei em levar as crianças da ONG para o batalhão. É arriscado, eu sei, mas seria ótimo.

Dedé trabalha lá, mesmo que indiretamente, mesmo que ele não vá mais lá, então eu acho que seria uma ideia ótima. Vai ser bom  para as crianças saberem que não existe só aquela realidade triste e assustadora dos policiais. Elas conhecerem também a parte humanizada da polícia, porque como meu Beto diria, policial também tem família.

Agora, estou indo até o Batalhão pegar o meu namorado para levar para almoçar.
Estacionada em frente ao batalhão, vejo Beto sair. Lá vem ele, com um sorriso bonito e aquela farda que deixa ele maravilhoso.

— Tenho uma proposta que você não pode me dizer não. — Assim que Beto entra, dou partida no carro.

— Olá, Marjorie. Tudo bem? Como foi sua manhã? A minha foi corrida, obrigada por perguntar.

— É sério. É uma coisa muito importante. Temos que conversar logo agora.

— Então fala.

— Eu poderia trazer as crianças da ONG para o batalhão? Pra eles conhecerem a rotina, os soldados.

— Por que?

— Beto, aquelas crianças têm poucas perspectivas. A imagem de riqueza que eles têm são os criminosos que esbanjam ouro no pescoço. Eles querem ser traficantes, donos de boca porque é essa a maior referência que eles têm. — Ainda de olho no caminho, continuo a falar. — Eu quero mostrar a eles a vida fora daquela realidade. Quero mostrar a eles que, mesmo sendo inimigo dos criminosos, a polícia não é inimiga deles. Porque ninguém quer ficar do lado do vilão, e lá, os vilões são vocês.

— Tá defendendo a polícia, esquerdista? — Colocando a mão na minha coxa coberta pela calça que uso, Beto me provoca.

— Eu defendo a Instituição, não os policiais. — Empurro a mão dele com arrogância.

— Não precisa ficar emburrada, marrenta. Eu vou falar com meu pessoal e a gente marca. Tá bom pra você?

— Está ótimo.

Ao chegarmos em casa, coloco nosso almoço para esquentar no microondas, enquanto Beto lava a louça do café da manhã. Somos uma boa dupla.

Sento ao lado de Beto para comermos. Eu não quero esconder dele o que eu estou fazendo porque eu sei que ele não esconde nada de mim. Eu confio nele plenamente. De olhos fechados. E acho que ele confia em mim também mas eu estou o enganando e toda vez que eu lembro disso, meu medo de perde-lo aumenta ainda mais. Conforme o tempo passa, eu esqueço da existência do meu passado e eu esqueço que ele pode descobrir isso. A vida é longa e em algum momento ele pode descobrir. E é isso que me mata.

Ao terminarmos de comer, Beto vai para o banho enquanto eu termino de lavar a louça do almoço.

Seguindo para o quarto, vejo meu namorado já deitado, mexendo no celular. Exausta, me deito ao lado dele, apoiando a cabeça em seu braço. Aninhando o rosto em seu pescoço, sinto o cheiro delicioso do perfume dele. Nascimento deixa o celular de lado, me envolvendo com os dois braços para descansarmos um pouco.

— Seu aniversário está chegando, não é? — Acariciando meu cabelo, Beto quebra o silêncio entre nós dois.

— Sim. Qual vai ser meu presente? — Ainda de olhos fechados, pergunto. Sempre que estamos assim, eu sinto um sono. Acho que meu momento preferido é a tarde, quando ele vem para casa almoçar e ficamos desse jeito, abraçados esperando o tempo passar.

— Posso te dar agora, se quiser.

— Ah é? Cadê?

Um silêncio se instala no quarto, então começo a rir ao entender qual é o meu presente.

— Idiota. — Dou um leve tapa em seu peito.

Eu não consigo imaginar ele com outra mulher, antes de mim. É estranho. É como se ele tivesse nascido unicamente pra ser meu e eu também. Me mata a ideia de que outra mulher já esteve nessa mesma posição com ele. Mesmo gostando de Rosane, me mata a ideia de que ela já esteve aqui também.

— Beto, você teve muitas mulheres antes de mim? Além de Rosane, óbvio. — Deixo a pergunta escapar inconscientemente. Não é como se eu quisesse dar uma de namorada surtada que sente ciúmes do passado dele, mas é estranho. É estranho imaginar ele com outra.

— Quando você nasceu, eu já fodia, Marjorie. — Essa resposta é o suficiente pra me calar por um tempo. O que esse homem comia de mulher, eu não tomava de Mucilon. Eu me sinto tão idiota perto dele.

— Como foi seu casamento com Rosane? — Começo a acariciar seus peitoral com meus dedos.

— Por que está perguntando essas coisas hoje? — Afastando o corpo do meu, Nascimento me olha nos olhos. Deus te abençoe, gostoso.

— Estou melancólica esses dias. — A verdade é que estou melancólica porque eu imagino que o passado dele com essas mulheres não seja igual ao meu passado com os homens. Eu me vendia por dinheiro. É foda falar assim, mas era o que acontecia. Eu vendia meu corpo por dinheiro e ele vai sentir nojo de mim se souber disso e por isso estou melancólica. Eu tô com medo de perder isso aqui.

— Vem aqui pra eu acabar com a sua melancolia então. — Com uma mão em minha coxa, Beto ergue minha perna, a colocando sobre seu quadril.

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Olá, docinhos. Tudo bem?

Não tenho nada pra falar. É isso
um beijo

⚠️Para melhor experiência, escute a música enquanto lê. Eu juro, é outra sensação.⚠️

Nos vemos em breve.

         — Milésima esposa do Capitão Nascimento 💋

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