Capítulo LXI

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— Born to die; Lana del Rey

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POV Marjorie Cerrado

— O que faz aqui? — Dispensando apresentações, entro com arrogância no escritório.

Ver Joseph me faz lembrar de tudo o que me forcei a esquecer. Minha história começou exatamente na noite em que nos conhecemos. A minha vida começou a virar esse quebra cabeça, esse mar de drama, no dia em que nos conhecemos. Naquele maldito dia em que fomos àquele restaurante.

— Marjorie... — Vindo até mim, Diógenes fala com um certo desconforto. — O que faz aqui uma hora dessas?

— Eu moro aqui. Eu quero saber o que Joseph faz aqui. — Sem tirar os olhos de Joseph, falo.

— Marjorie... O que faz here? — Ele parece finalmente notar a minha presença.

— Eu moro aqui, porra! E você já vive no Brasil tempo o suficiente pra aprender o português. — Já perdi a paciência há muito tempo, mas agora não foi só a paciência que perdi. Perdi também a pouca fé que tinha em Diógenes.

— Você não ser neta de Marcelo? — Joseph se aproxima, cruzando os braços.

O que eu deveria fazer? Deveria desmentir? Marcelo vai ficar puto com isso. Mas que merda Joseph faz aqui?

— É, ela é neta de Marcelo. — Desconversando, Diógenes da algumas batidas no ombro de Joseph.

— E o que ela faz aqui?

— Só veio resolver algumas coisas do avô dela. Não é nada demais. — Me segurando pela mão, Diógenes me induz a ir até a porta. — Marjorie, espere lá fora.

— "Espere lá fora"? Eu não. O que está acontecendo aqui, Diógenes? — Meus olhos são tomados por lágrimas, mas não de tristeza pela decepção que sinto, mas pela raiva. Se a minha raiva não sair em forma de lágrimas, vai sair em forma de murros. Velho traidor.

— Eu mandei você esperar lá fora! — Me assusto com o grito de Diógenes, e paro o encarando por um tempo. Oscilo entre olhar para Diógenes e Joseph, até que finalmente me dou por vencida. Por que eu achei que comigo seria fácil? Por que eu realmente achei que teria um pai que me amasse?

— Foda-se. Velho maldito. — Em um ato histérico, bato a porta atrás de mim e saio marchando em direção ao meu quarto. Eu já não fico mais nenhum minuto nesse inferno.

Ele me jurou. Me jurou que me amava desde o dia que soube da minha existência mas hoje me tratou daquele forma. Hoje me tratou do mesmo jeito que havia me tratado naquele tribunal e naquele batalhão. Gritou comigo. Maldito. Minha mãe estava certa.

Jogo as minhas roupas dentro da mala, choramingando. Não consigo chorar. Não consigo deixar as lágrimas saírem de vez. Eu não acho que essa situação seja digna, seja o suficiente pra que eu chorei.

Sem sequer olhar pra trás, deixo aquela casa... Aquela casa que nunca foi e nunca será minha. Dirigindo em direção ao meu apartamento, decido mandar as malditas lembranças pra puta que pariu. Estou farta! Estou farta de ser culpada pelos outros me magoarem e estou farta de desculpar as pessoas e ninguém me perdoar. Eu sou pior que todo mundo? Eu sou a única desse mundo que não merece perdão?

Seremos apenas eu e meu bebê. Não posso e não vou fazê-lo viver como eu, mas também estou desistindo de Roberto e de Diógenes.

Em um ato impulsivo e até idiota, mando mensagem pra Ludmilla.

— Diógenes está envolvido nessa merda.

Melhor que ele se foda do que eu. Estou no meu limite. Eu vi aquele mesmo Diógenes do tribunal hoje, quando ele gritou comigo, e mesmo tendo vivido esses dias comigo, eu não sei do que ele é capaz. Eu não estava segura perto dele. Eu estava na ilusão de uma vida perfeita, mas essa merda nao existe. Ao menos, não para mim. Eu não vou e não quero mais ele perto de mim. E foda-se quem julgar a minha decisão. Quem decide isso sou eu!
A vida vai ser só eu e meu bebê, e ele sim terá uma vida perfeita. E isso eu vou garantir.

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora