Capítulo LXII

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- Without me; Halsey

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POV Marjorie Cerrado

Quando eu vi aquele sangue, eu jurei que perderia meu bebê. As dores que eu sentia no meu abdômen eram fortes o suficiente pra me fazer pensar em tanta coisa. Eu pensei em mil coisas, mas a principal foi: ele é tudo o que eu tenho agora. Eu não posso perder o meu pequeno objeto de amor...
Desesperada e ansiosa, corri até a porta de Victoria. Pedi que me levasse ao hospital e ela me fez esperar por Nascimento. Estava tão ansiosa que pensei em vir sozinha, de carro, mas Roberto chegou rápido.

Agora, estou deitada, acatando as ordens do médico. Nascimento está parado, escorado na parede, com os braços cruzados e a cabeça baixa. Por que ele tinha que vir com essa farda?

- Isso tudo é culpa sua. - Quebro o silêncio que estava, cansada demais pra esboçar qualquer emoção em minha voz além da exaustão e aflição. Roberto ergue o olhar, dando de encontro com o meu - Se eu perde o meu bebê eu nunca vou te perdoar, Roberto. - Ele permanece calado. Não é culpa dele. Não necessariamente. Não consigo não culpa-lo por tudo o que está me fazendo passar, mas não é só ele. Eu também tenho culpa nisso e Diogenes tem culpa nisso. Se bobear, até Ludmilla tem culpa nisso. Tudo me afeta cada vez mais e com mais intensidade.

A porta se abre, e então Diogenes entra. Era só o que me faltava. Eu não quero vê-lo. Quero ele longe de mim.

- Tira esse desgraçado de perto de mim. - Esqueço, por um momento, com quem estou falando e peço à Roberto que tire Diógenes do quarto.

- Marjorie, vamos conversar...

- Não! Eu estou farta de conversar. Quero você fora da minha vida e da vida desse bebê.

- Senhores, algum problema? - Adentrando ao quarto, o médico oscila entre me encarar e encarar Diógenes.

- Sim. Quero esse homem fora. Agora!

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POV Capitão Nascimento

- Tudo indica que você teve um deslocamento de placenta. Não é uma coisa muito comum de acontecer e geralmente acontece no final da gestação. Vou te passar uma ultrassonografia pra confirmarmos e você fica essa noite aqui para monitorarmos você e o bebê, está bem? - Eu não entendi nada do que o médico disse, mas eu sei que não vou deixar Marjorie aqui sozinha. Eu não posso. Fiz isso com Rosane e eu não quero repetir o mesmo erro. Mas eu preciso voltar ao trabalho...

- Tudo bem. - É tudo o que Marjorie responde. Ela está com medo. Eu posso ver isso, o médico pode ver isso.

- O senhor vai ficar com ela? - Eu costumo priorizar sempre meu trabalho. Até mesmo quando namorávamos, eu não faltava meu trabalho por nada. Afinal, qualquer emergência que tiver, eu vou ter que resolver e não tem outro jeito, mas ela está aqui. Está sozinha, vulnerável... Não deveria, mas me sinto mal em deixá-la sozinha. Ainda mais nesse estado, esperando um filho meu.

- Vou. - Ela me olha rapidamente, incrédula. Também estou. Nunca fiz isso.

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- As dores... - Faço uma pausa para respirar. - Elas passaram?

- Estão diminuindo. - Ainda de olhos fechados, Marjorie responde.

- Deveria ter me ligado. - Me sento na poltrona próxima à cama.

- Se você não quer estar perto de mim, por que vou ligar? - Ela finalmente abre os olhos.

- Porque o filho também é meu, Marjorie. - Apoio os antebraços nos joelhos, encarando ela.

- Eu só preciso de paz. Preciso ficar longe de você e de Diógenes.

- Você tá agindo como se o errado da história fosse eu... - Balançando uma perna, abaixo a cabeça, encarando os sapatos. Porra, isso tudo é uma merda. Ela escondeu de mim a coisa mais importante da vida dela mas eu não consigo parar de achar essa mulher a mais linda. Eu odeio isso. Odeio porque eu quero odiar ela. Eu quero não me importar com ela porque eu sinto nojo dessa Marjorie do passado. Parece cruel e talvez seja mas é o que eu sinto. Não sei mas nada que ela fizer vai mudar o que eu sinto por ela desde que descobri essa merda toda.

- Roberto, eu tô cansada. Tô cansada de ficar esperando que me perdoe.

- Não vamos falar sobre isso agora. - Passo a mão pelo rosto, respirando fundo e recostando na poltrona.

- E quando vamos falar? Vamos ficar remoendo isso até a nossa morte? Vamos fazer da vida dessa criança um inferno graças a nossa imaturidade. - Marjorie está obviamente irritada. Eu não sei se não falar sobre isso a irritaria menos. Mas eu não quero falar nada porque eu sei que se eu falar, eu vou falar o que penso e o que eu penso nesse momento não é conveniente.

- Por que entrou nisso? - Resolvo, então, falar sobre. Não vou comentar, só quero saber o que leva uma pessoa a se vender.

- Nisso...?

- Nessa vida de puta, po. - Abro os braços por um rápido momento.

- Eu não era uma puta convencional. Eu era acompanhante de luxo. Só que muitas vezes os caras queriam transar também. Mas eu era paga pra acompanhar caras. - Eu não sei se isso melhora. Ela era paga pra passar um tempo com homens. E ainda fala na maior naturalidade que às vezes eles queriam transar. É óbvio. Que homem gastaria dinheiro com uma mulher, por mais gostosa que Marjorie seja, só pra conversar?

- Você não sentia nojo disso? - Franzo o cenho.

- Não pensava em nojo quando eu via Luana sorrir quando ganhava algo que queria muito. Ou quando eu pude comprar coisas para as crianças da ONG. - Aí é foda. Eu já não sei nem o que pensar, porra. Eu entendo as pessoas que entram no crime por necessidade, o que me fode mesmo é sujeito que nasce com oportunidade e acaba entrando nessa vida. Mas, mesmo sabendo que Marjorie fez o que fez por necessidade, eu ainda não consigo olhar pra ela direito.

- Vai dormir. - Recosto na poltrona, cruzando os bracos e fechando os olhos.

- Você é um covarde. Não sabe lidar com seus sentimentos. - Eu pensei em responder esse comentário de Marjorie, mas fico quieto. Engulo toda a minha raiva pelo filho que ela tá esperando. Como pode ela me irritar tanto e fazer parecer tão fácil?

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POV Marjorie Cerrado

Abro os olhos vagamente,tentando acostuma-los com a claridade. Meus olhos percorrem por todo o quarto, a procura de Roberto mas a única pessoa que vejo é Rosane, sentada e lendo.

- Cadê Roberto? - Me sento rapidamente.

- Ele me pediu pra vir. - Ela coloca o livro de lado e vem até mim. - Disse que eu sou mãe, saberia lidar.

- Ah, ele me deixou aqui... - Passo a língua pelos dentes, tentando controlar a minha raiva. Eu estive com ele quando ele levou aquela merda daquele tiro. EU estive aqui. Fiquei aqui faltando trabalho, faculdade. Eu abdiquei de tudo por ele. E esse foi o meu maldito erro. Tê-lo colocado na merda do topo da minha vida. Tê-lo colocado num pedestal.

Eu não consigo não ama-lo, mas vou aprender. Como disse Pablo Neruda: "Amar é breve, esquecer é demorado" e realmente, mas voou aprender a esquece-lo do mesmo jeito que ele aprendeu a me odiar.

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Olá, docinhos. Tudo bem?

Não respondi os comentários de ontem mas assim que chegar eu respondo. Amo vcs e obrigada pelas mensagens de carinho. Amo vcs

⚠️Para melhor experiência, escute a música enquanto lê. Eu juro, é outra sensação.⚠️

Nos vemos em breve.

- Milésima esposa do Capitão Nascimento 💋

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