Capítulo XC

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- Young and Beautiful; Lana del Rey

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POV Marjorie Cerrado

"Dizem que o amor é como uma tempestade, que chega bagunçando tudo. Mas eu, particularmente, acredito que o amor é a calmaria, que chega para arrumar a bagunça que a tempestade faz na vida."

Assim que Diógenes chegou em meu quarto e me viu sentada na cama, sem maquiagem e sem sapatos, me encarou como se estivesse pronto para ser meu piloto de fuga. Me abraçou, calado, e ali eu me senti protegida. Senti que, não importa o que acontecesse, sempre terei o meu pai.

Segurando meu simples buquê de margaridas, caminho pela estreita passarela de flores brancas que colocaram ao chão. As três madrinhas: Luana, Victoria e Rosane, estão vestidas de lilás. Os outros convidados estão multicoloridos, a pedido meu.
Eu não imaginava que Beto iria casar de branco, mas parece que veio a calhar porque apenas eu e meu amor estamos assim. Como dois floquinhos de neve, perdidos na primavera de algum país norte-americano.

Meu salto novo não ditava por onde eu havia caminhado. Aquela maquiagem escondia cada minúscula ruga que dizia tudo o que eu havia vivido e sentido. Sinto que meu coração vai sair pela boca quando vejo Roberto sorrir com o sorriso mais largo que já vi. Ele me tem de tantas maneiras e agora nosso amor está escancarado para que todos o veja.

As lágrimas fogem de mim com uma força incontrolável ao ver a foto de Ludmilla logo na primeira fileira. Eu não sei de quem foi essa ideia, mas eu amo essa pessoa. Era tudo o que eu realmente precisava. Eu precisava da minha amiga aqui.

A cada passo que eu dou, tenho mais certeza da minha escolha. Esse velho caquético, de longos e vívidos quarenta e sete anos, foi e continua sendo a minha melhor escolha. Ter intimado aquele cara triste e solitário naquele restaurante, ter pedido que me desse carona, ter aceitado seu pedido de desculpas em forma de jantar quando me destratou por ter achado que eu era namorada de Mathias, ter proposto um jantar no meu apartamento, ter perdoado ele e ter um filho com ele, foram as minhas melhores decisões. Foram as minhas melhores escolhas e escolheria tudo de novo. Faria tudo exatamente igual.

Quando você é jovem, eles assumem que você não sabe de nada. Mas já sou grande o suficiente para saber que Roberto Nascimento é o homem da minha vida e é com quem vou passar o resto dos meus dias.

Encarando os pés por um breve momento, Roberto abre um sorriso enorme. Sorriso que me alucina.
Eu já não me lembro de nada e nem ninguém. Eu só quero chegar até ele e dizer "sim" um milhão de vezes. Roberto e me encara com tanto amor que me sinto anestesiada. Me sinto deslumbrada. Eu me sinto a mulher mais linda do mundo só por estar sendo admirada assim e toda mulher deveria se sentir dessa forma. Caminhando ao lado de meu pai, não tiro os olhos do meu Beto. Tudo que ele faz é captado pelos meus olhos. Cada suspiro, cada movimento de seu pomo-de-adão indicando que está engolindo a vontade de chorar e a emoção, cada movimento que aquelas mãos trêmulas fazem e, principalmente, cada sorriso tímido que surge em seu rosto, são notados por mim.

Ao ser entregue pelo meu pai à Beto, encaro meu quase marido com um sorriso no rosto. Eu me sinto uma adolescente, no ensino médio, toda vez que eu o vejo.

- Ninguém nunca me teve. Não como você. - Sussurro em seu ouvido, antes de finalmente me virar para a frente. O que eu falei foi a mais pura verdade. Eu transei com inúmeros caras, e Beto não foi meu primeiro nisso, mas foi o primeiro homem que amei, meu primeiro namorado, meu primeiro e último homem.

Só ele me teve por inteiro. Com ele, eu descobri que o amor realmente existe. Com ele, aprendi a amar. Eu achava que o amor era preto e branco. Achava que o amor era uma rua deserta numa noite escura e amedrontadora. Mas não. O amor é dourado. Dourado como o mais reluzente e puro ouro.

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