Capítulo LI

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POV Marjorie Cerrado


— Você disse o quê? — Isso seria uma piada de muito mau gosto mas também seria uma verdade muito dura de aceitar. Que merda tá acontecendo aqui?

— Eu sou seu pai, pirralha. — Mesmo tentando demonstrar desdém, ele transmite uma insegurança, até medo, enquanto fala. Ele não está falando sério... Está?

— Nem fudendo. — Gargalho, passando a mão pela cabeça. — Já podem mandar internar porque esse aqui tá caduco de vez.

— Olha a boca, menina. — Diógenes franze o cenho, fazendo uma cara repreensivo. — Vamos conversar em outro lugar.

— Conversar com você? Tá louco.

— Marjorie, eu quero conversar com você. Você é minha filha.

— Se eu sou sua filha, por que só tá falando isso agora? Teve vinte e seis anos pra falar, sabia?

— Amor, vai com ele. Deixa ele te explicar.

— E você sabia disso e não me contou? Por que fez isso? — Eu me sinto traída. Me sinto traída pelo meu próprio namorado mas não posso julgá-lo se eu mesma escondo coisas piores. Seria hipócrita da minha parte.

— Marjorie, vai com ele. — Tocando meu braço com delicadeza, Beto cola nossas testas e sussurra pra mim enquanto olha nos meus olhos. Como dizer não pra esses olhos?

Me afasto de Roberto, respirando fundo, e então, sem falar nada, vou seguindo para o lado de fora do salão. Ao chegar na parte verde, onde tem um banquinho de concreto, me sento lá, observando a grama.

Eu não quero que ele seja o meu pai. Não quero. Não quero porque nada do que ele fez até hoje me interessa, mas ter me rejeitado quando minha mãe estava grávida é o que me magoa. Foda-se se ele me xingou, foda-se se ele foi um babaca completo, mas ele abandonou minha mãe grávida e isso não se faz.

— Você não pode, depois de anos, aparecer na minha vida e dizer "oi eu sou seu pai" e esperar que eu te receba de braços abertos.  — Sem nenhuma expressão no rosto, começo a falar. Não consigo olha-lo. Não consigo encarar esse homem porque eu me recuso a acreditar que sou filha desse babaca. Mas faz sentido. Faz sentido minha mãe ter ignorado ele no batalhão, mas ele ter feito de tudo pra se aproximar de mim. Faz sentido minha mãe odiar policiais. Faz sentido Roberto ter insistido tanto para nós conversarmos.

— Eu sei que não. — Ele permanece em pé, a minha frente. Parado, com a postura ereta e arrogante, ele fala.

— E você não pode esperar que eu goste de você depois de ter rejeitado minha mãe grávida. — Ainda não o encaro.

— Eu tenho muita coisa pra te contar, é verdade, mas acredita em mim quando digo que eu não sabia que você existia, Marjorie. Sua mãe não me contou sobre você

— Então como sabe que eu sou sua filha? — Finalmente ergo o olhar, dando com o dele.

— Quando eu li o nome "Cerrado", eu já desconfiava. Quando você começou a me enfrentar, eu tive certeza. Só um Camargo teria tanta afronta. — Com um riso nasal, ele se senta ao meu lado. — Quando eu ouvi você falar de Julieta, eu logo juntei o sobrenome.

—  Você não espera que eu goste de você depois de ameaçar Ludmilla, não é?

— Aquela vagabunda também não é perfeita como você imagina.

— Nossa, que pai maravilhoso. — Respondo diante a frase mais manipuladora que já ouvi.

— Olhe, eu não sou uma pessoa que costuma ter papas na língua e não sou muito amigável... — Diógenes faz uma breve pausa. — Mas desde que eu soube que você existia, eu me sinto um homem melhor. — Ele não parece melancólico ou pensativo. Parece arrogante como sempre. Mesmo falando as mais belas palavras, parece arrogante. — Porque eu sempre quis ter um filho. E ainda seria melhor se fosse com a sua mãe. — Agora toda a arrogância dele cai por terra, e um sorriso triste surge em seu rosto. Apoiando as mãos no joelho, ele deixa a postura ereta novamente.

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