Capítulo LIV

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POV Marjorie Cerrado

O porta-malas do carro escondia o corpo dele, até não esconde mais. Beto surge com uma cesta de chocolate com um ursinho dentro, e se apoia na lataria do carro.

— É pra mim? — Admirada e apaixonada, me aproximo, sorrindo.

— É. — Com aquele sorriso pequeno de sempre, ele me entrega a cesta.

Coloco-a encima do carro e envolvo o pescoço dele com meus braços.

— Está merecendo uma recompensa. — Sorrio maliciosamente, dando um beijo rápido nele. Me esqueço completamente da existência de Diógenes dentro do carro, até que ele me obriga a lembrar.

— Olá, filhinha. — De um jeito sínico, Diógenes vem até mim e coloca o braço por cima de meu ombro.

— Não força. — Empurro o braço dele, me afastando de Beto.

Eu me senti bem quando eu e Diógenes nos abraçamos. É estranho porque eu deveria me sentir péssima, mas me senti bem e queria abraça-lo de novo. Porém, se eu pedir, ele vai achar que está tudo bem e não está. Meu coração está dividido entre gostar dele em um momento e odia-lo sempre.

Diógenes e Roberto vão até a cozinha com as sacolas, enquanto eu os observo de longe. Beto faz de tudo por mim. Ele ajudou Diógenes com essa palhaçada por mim, ele vive cuidando de mim e eu me sinto mais amada do que nunca. Eu não deveria esconder dele. Ele vai me entender. Ele não vai jogar fora tudo que a gente tem por uma coisa do meu passado. Eu deveria contar a ele. É isso. Eu vou contar a ele. Não hoje. Mas vou contar.

— Por que a mamãe não vem também?

— Lua, no momento, a nossa mãe não quer ver nem a mim e nem ao Major. — Encaro minha irmã, pensando em como minha mãe pode estar. Eu amo a minha mãe, sabe? Mas eu fico tão bem quando tô longe dela. E ela sempre faz questão de me deixar mal e provavelmente iria dar uma merda do caralho juntar ela e Diógenes em uma casa.

— Que loucura né? Seu pai é amigo do seu namorado.

— Coisa que só acontece em filme. — Gargalho.

— E em livro.

Indo em direção a cozinha, lembro daquela foto que achei quando invadi a casa de Diógenes. Era a minha mãe. Eu sabia que conhecia aquela mulher. Eu só não me toquei na hora, mas eu sabia que conhecia.

Meu Deus, eu esqueci de Ludmilla. O que eu vou fazer agora? Eu vou continuar com essa investigação contra meu próprio pai? Seria mais fácil coletar informações agora, mas eu fiquei tanto tempo sem pai e ele nem teve a chance de me mostrar se é bom ou não. Porra, o que esperar desse velho lazarento? Por que ele tinha que aparecer justamente agora?.

— Aí, Nascimento, lembra quando a gente fez aquele churrasco lá em casa e você levou a... — Diógenes está servindo Roberto com uma cerveja, enquanto fala baixo. Acho que ele não quer que eu ouça e agora mesmo que eu quero ouvir.

— Levou quem? — O interrompo.

— Não, ninguém.

— Se for começar a nossa relação de papai e filhinha mentindo, já começou errado. — Pego o copo que Diógenes ia beber, e bebo de vez. Essa cerveja tá quente. Cruzes.

— É que teve uma vez que eu levei uma garota pra casa de Diógenes e ele encontrou a gente num momento não muito agradável. É só isso. — Roberto fala, dando de ombros. Só isso? Só isso. Passado é passado. Mas quem foi essa vagabunda?

— Ah... — Passo a língua nos dentes, tentando não demonstrar o leve ciúmes que me invade com intensidade.

Respiro fundo, arqueando as sobrancelhas por um breve momento e volto a me servir de cerveja. Depois de Beto colocar o pão de alho pra assar, ele se senta junto com a gente na mesa que eu e Rafael colocamos no quintal.

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora