Capítulo LXV

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POV Marjorie Cerrado

Eu e Felipe temos saído juntos durante toda a semana. Ele é engraçado e gentil, bem diferente de Roberto. Hoje é aniversário de Diógenes e eu pensei seriamente em não comparecer, mas é óbvio que eu vou. Eu vou encontrar alguma coisa pra Ludmilla e me afastar disso.

Vocês até podem me perguntar "se você quer seu pai preso, por que não fala a Felipe tudo o que sabe?" E eu te respondo. Ajudando Ludmilla, eu entrego o que tenho e pronto, estou livre dessa merda. Se eu for ajudar Felipe, eu vou estar presa nessa história pra sempre. Eu vou ser apenas a filha do Major corrupto que vai que entregou o pai, que vai testemunhar... Eu sou mãe agora, sabe? Eu tenho que priorizar meu bebê sempre e é isso o que eu estou fazendo. Não sei se o que vai ser, mas pretendo ir a Niterói semana que vem e vou ver se é lá que vou criar meu bebê. Não interessa onde será, meu bebê vai ser feliz bem longe dessa loucura toda. Vou proibir Roberto de envolver nossa criança nisso.

Adentrando a enorme porta da casa de Diógenes acompanhada de Felipe, ajeito minha saia preta, tipo napa. Acredito que seja a última vez que eu vá usar ela porque minha barriga já está surgindo um pouco. A camisa branca social que visto está por dentro, então mostra ainda mais. Seria uma insegurança se fosse por algum outro motivo, mas eu tenho um bebê muito amado aqui dentro.

Quando recebi o convite por whatsapp, imaginei que seria aqueles jantares sociais pacatos e sem graças em que eu teria que dizer que iria ao banheiro pra ir fuçar a casa, mas não. É uma festa. Isso provavelmente foi ideia de Lilian e eu quero só ver o que Diógenes vai falar quando ver isso aqui.

As luzes da casa estão todas apagadas, com um globo espelhado iluminando a enorme sala de estar. Imagino que as portas estejam trancadas mas se tem uma coisa que eu consegui, enquanto estive morando aqui, foi a cópia de todas as chaves. Sorrio para ao ouvir tocar "Evidências" do Chitãozinho e Xororó. Gosto dessa música. Me lembra...

Diógenes está parado no canto, bebendo algo que não consigo identificar. Me aproximo com Felipe, entregando uma foto minha da época que eu era um bebê, juntamente com meu sapatinho de bebê que minha mãe guardou, embrulhado para presente. Eu sei que ele é um babaca e que obviamente não me ama, mas eu vou fingir que estou arrependida de tê-lo o afastado de mim. Vou fingir que acredito nas juras de papai amoroso.

— Eu não gostei quando gritou comigo, mas eu nunca tive um pai e não quero perder isso. — Dou de ombros, aparentando arrependida e melancólica.

Ele aceita o presente, olhando para os lados e observando tudo. Ele está com medo?

— Podemos conversar depois? Eu quero falar com você sobre aquele dia...

— Aproveite sua festa. Não quero estragar sua noite com meus dramas. — Sorrio. — Esse aqui é Felipe, um amigo meu.

— Como se eu não conhecesse o Subsecretário, Marjorie. — Rindo, Diógenes cumprimenta Felipe.

Trouxe Felipe porque Diógenes vai ficar inseguro com a presença dele. E isso vai distrai-lo o suficiente para que eu entre no escritório e ache alguma coisa de importante.

Diógenes sorri, suspirando aliviado, enquanto olha para a porta. Sigo seu olhar, dando de encontro exatamente com o olhar de Roberto, que se direciona ao meu também. Ao vê-lo, tudo o que passa pela minha cabeça é uma frase que eu adoro de Clarice Lispector: "Como fazer se não te enterneces com meus defeitos, enquanto amei os teus." Acho que resume muito bem tudo o que está me acontecendo, não é? Amei ele mesmo com o maldito capitão Nascimento sendo base da personalidade dele, mas ele não me amou mesmo depois de eu ter excluído a antiga Marjorie. Mas isso não importa agora.

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora