Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO

Capítulo XXI

- Feel; Maneskin

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POV Marjorie Cerrado

Nascimento está adormecido, ao meu lado. Adormecido não, em coma. Ele dorme profundamente e, pelo primeira vez, parece que eu o cansei. Lentamente, me levanto para ir a cozinha. Meu corpo arrepiar graças ao frio, então visto uma camisa qualquer, jogada ao chão, que coincidentemente é de Nascimento, e sigo para a cozinha com a camisa azul marinho cobrindo metade do meu corpo.

Pego um copo d'água, e enquanto bebo, coloco água para fazer um café. Há pão de queijo na geladeira, que eu vou esquentar no forno, e bolo de banana com chocolate, um dos preferidos de Nascimento.

Pego meu café e um prato com bolo e pão, e sento no sofá, perdida em meus pensamentos. Eu amo Roberto. Amo ele. E se eu amo ele, não posso deixar que ele ame alguém que não conhece completamente. Eu deveria contar a ele. Deveria dizer tudo o que já fiz pra ter dinheiro. Mas dado ao temperamento de Nascimento, ele vai me odiar se souber. Merda, que vida de merda. Eu não consigo ser feliz sem sentir culpa. Culpa do capitalismo desgraçado.

Encaro a tela do celular, são quatro da manhã. Beto não vai acordar agora e eu não vou voltar a dormir. Preciso fazer alguma coisa antes que eu enlouqueça.

Discretamente, entro no quarto e pego uma roupa de academia. Visto, sem nem tomar banho, e pego meu fone. Eu preciso correr. Preciso liberar todas as emoções que estão presas e acorrentadas dentro de mim.

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O suor escorre pelo meu rosto e minha respiração está ofegante e cada vez mais difícil. Deveria ter trazido uma água. Apoio as mãos em meus joelhos, tentando voltar a respirar. Enquanto em meu fone toca "White Mustang", tento afastar os meus pensamentos.

"Mentira e omissão também são traição..."

Oh, porra. Eu não tenho paz.

Correndo de volta pra casa, uma viatura passa por mim lentamente. Lá está a puta fardada, com o olhar fixo em mim, com o braço apoiado na janela. Que raiva dessa mulher.

Finjo maturidade e a ignoro, mas a minha vontade mesmo é jogar uma pedra na cabeça dela.

De volta a minha casa, vejo Beto sentado, comendo. Antes de ir tomar um bom banho, dou um beijo nele.

- Onde estava? - Ele pergunta, levantando e vindo até o banheiro.

- Caminhando. Precisava espairecer. - Tiro minha roupa, e o vejo sorrir, enquanto come bolo.

Me sinto culpada por não ter falado nada a ele, mas eu vou falar. Em algum momento.

- Preciso me arrumar. Daqui a pouco vou a defensoria. - Sou alguns pulinhos histéricos, enquanto a água quente cai sobre meu corpo.

- Eu já tomei banho mas adoraria tomar de novo. - Beto coloca o prato na pia.

- Não. Eu disse que preciso me arrumar e você só me desarruma. - Molho o cabelo, ensaboando o corpo.

- Isso não é verdade... - Ele se senta na tampa da privada, me observando.

- Ai, Roberto, vira pra lá. - Jogo um pouco de água nele, enquanto sorrio. Amo tomar banho com ele mas não quero que ele me veja tomar banho. É vergonhoso.

- Não tem nada aí que eu não tenha provado.

Em resposta, viro de costas pra ele e começo a lavar meu cabelo.

- Que bunda gostosa... - Ouço Roberto falar, então viro meu rosto para ele e o vejo se ajeitar e ficar com os cotovelos apoiados na descarga.

- Vi a puta fardada hoje. - Eu sei que vai ele vai defender ela porque ela é colega dele e ele não gosta que falem dela. Ah vai para o caralho.