- Não sei dançar; Marina Lima
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POV Marjorie CerradoEu não sei se eu deveria falar para conversarmos. Ele não parece apto a isso, mas eu queria saber o porquê dessa reação. Primeiro eu queria saber o porquê de ele ter me tratado dessa forma e agora estar chorando no meu colo, mas também quero saber o que vai ser de nós. Eu tenho muitas preocupações na vida. Eu tenho muitos medos, muitos anseios e muitos sonhos mas nada disso importa se eu não tiver ele.
Não consigo. Beto não parece nada bem e eu não consigo fazer ele se preocupar ainda mais com isso. Tudo o que eu consigo fazer é acariciar a cabeça dele, enquanto ele se acalma no meu colo.
- Vem. - Paro com as carícias, e o vejo erguer o olhar com frustração. - Vamos tomar um banho e depois um chá e vamos dormir. - Ele não fala nada, apenas se levanta e segue para o banheiro.
Ele tem cuidado de mim a todo instante. Fez coisas que eu nunca pensei que ele faria, como tirar uma folga, por exemplo. Isso, para o Roberto, era o mesmo que o Bentinho acreditar que a Capitu não traiu ele, ou seja, impossível. Então, agora é a minha vez de cuidar dele. Ambos estamos quebrados por coisas externas e nós dois nos vemos como a segurança e salvação um do outro. Eu estou aqui por ele e ele esteve e está aqui por mim, mesmo que tenha me magoado profundamente no passado. Essa história ainda não está acabada, mas eu não vou remoer isso agora.
Com a água na temperatura que ele gosta, estupidamente gelada, entro juntamente com ele debaixo do chuveiro. Horrível, devo dizer, mas ajuda ele a esfriar a cabeça.
Beto apoia a testa no meu ombro, envolvendo minha cintura com os braços. Sua pele fria toca a minha com uma calma e carinho evidentes. Seguro seu rosto com as duas mãos, e o beijo. Colo nossas testas, sentindo a respiração dele um pouco vacilante graças a água fria. Acaricio seu rosto com o polegar, e nos deixo naquela posição por muito tempo. Tempo o suficiente pra que se acalmasse de verdade.
Deixo Beto terminar seu banho, enquanto vou para a cozinha fazer chá de camomila. Tenho evitado chás desde que descobri da minha gravidez, então só pego um copo de suco para acompanhar Roberto. Visto uma camisa dele, enquanto analiso meu corpo em frente ao espelho que eu coloquei na sala. Minha barriga já aparece. Bom, eu sempre fui magrinha e minha cintura não está sumindo completamente, mas a barriguinha já está aqui e eu tô muito feliz com isso. Esse bebê é a minha salvação.
Roberto sai, com a toalha envolta na cintura e o cabelo molhado. Antes que ele se vista, me aproximo e o abraço. O peitoral ainda molhado, molha um pouco a camisa que visto, mas isso não me importa. Só quero sentir ele próximo de mim o máximo de tempo que eu puder. Ficamos muito tempo longe um do outro, nesse sentido, e eu não quero mais ficar. Não quero mesmo. Eu sei que eu mereço uma conversa séria sobre tudo o que aconteceu e sobre as coisas que ele me disse, mas não me importo tanto com isso. São coisas que vão me deixar insegura, mas eu prefiro mil vezes esquecer tudo isso a ficar longe dele. Ele é minha obsessão, meu calcanhar de Aquiles. Roberto é minha fraqueza. Minha perdição.
- Pode me dizer o que houve? - Sem me afastar, acaricio a nuca de Roberto.
- Um garoto morreu no meio do confronto. Era uma criança. Não tinha nada a ver com aquilo. - Com o rosto apoiado em meu ombro, Beto continua me envolvendo com seus braços grandes. Eu me sinto protegida aqui, mesmo que eu é que esteja o consolando.
- Não foi culpa sua, Beto.
- Poderia ser Rafael. Poderia ser o nosso filho. Eu deixei aquele menino morrer.
- Não foi culpa sua. Você podia fazer alguma coisa? Foi você quem matou ele?
- Os caras estavam atirando e o moleque ia passar quando ele me viu. Foi tudo muito rápido. Atiraram nele, mas queriam me acertar. Ele morreu por minha causa. - Pensando numa resposta para Roberto, me recordo do que a minha psicóloga disse e começo a entender o que ela falou. Essa culpa só vai embora com o tempo e só vai embora quando eu entender que não fui eu quem matei Ludmilla e que a culpa não é minha. Roberto não matou esse menino e a culpa não é dele pelo garoto ter morrido. O foda é que falar e pensar assim é fácil, mas na prática é difícil.
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Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO
FanfictionNa favela onde Marjorie cresceu, há pouca expectativa de vida; ou você vira um traficante ou vira fiel de um. Ela não queria isso. Ela não queria ser usada por um traficante como troféu, então decidiu se tornar acompanhante de luxo de ricaços do Leb...