Capítulo LVIII

690 56 315
                                    


Flawless; The Neighbourhood

______♡______
POV Marjorie Cerrado

Minha cabeça não me deixou dormir a noite. Eu estava melhorando. Estava conseguindo seguir em frente com a ideia de que não o teria mais, mas agora eu tenho medo que alguém tome o meu lugar. Tenho medo que alguém tenha o coração dele como eu tinha.

Não contei a ninguém sobre o bebê. Só quem sabe é quem estava naquela maldita sala. Se eu contasse, iriam me dar os parabéns e mentiriam pra mim que é uma benção. Quer dizer, é uma benção, mas eu vou fazer minha criança crescer como eu? Achando que o pai a odeia? Porque eu não quero contar a Nascimento. Não quero contar a ele porque não vou suportar se ele disser que estou inventando pra ser perdoada. Ele me fez sentir coisas indescritíveis. Me fez acreditar que eu era digna de tudo de mais maravilhoso e agora eu não sou mais. Ele desenhou estrelas nas minhas cicatrizes, mas agora estou sangrando. Estou sangrando por todas elas novamente.

Agora, eu preciso levantar e tentar trabalhar pra dar um futuro a esse bebê. Com ou sem pai, ele terá a mim e eu vou ser uma mãe foda pra caralho. Eu vou cuidar desse bebê, vou ouvir sempre que precisar e não vou deixar que nada o aconteça. Eu nunca vou abandonar meu bebê e eu nunca, nunca, vou fazê-lo chorar por minha causa. Palavras machucam, mas palavras cortantes vindas de alguém que deveria te proteger do mal do mundo, machucam ainda mais. Eu nunca entendi o porquê de minha mãe não me amar como amava Luana. Nunca entendi o motivo de ser sempre o objeto no qual ela despejava todas as frustrações dela. Mas depois de tudo isso, acabei percebendo que ela me odiava porque eu a lembrava de meu pai. Eu sou igual a ele. Isso não é necessariamente bom e nem ruim, mas, na concepção dela, isso é péssimo, mesmo que ela negue. E talvez ela negue porque mente até para si mesma. Bom, isso não vai importar agora porque eu vou ser uma mãe foda. Vou ser a mãe que eu nunca tive.

Levanto, com a cara amassada de tanto chorar na noite anterior, e vou para o banheiro.
Depois do ótimo banho quente, analiso meu corpo no espelho. Faz sentido tudo o que senti esses tempos. Faz sentido todas as minhas mudanças de humor e as tonturas que senti. Vou fazer um exame pra ter certeza e ter certeza de quanto tempo estou grávida, mas eu sei que estou. Eu sinto.

Eu vou ser mãe... Caralho, eu vou ser mãe. Vou ter um bebê do meu Beto.

Fecho os olhos, engolindo o nó que se formou em minha garganta ao lembrar de que ele já não é mais meu Beto. Puta merda, o que eu vou fazer? Eu deveria contar a Diógenes? Deveria contar a minha mãe? Por que bebês não vem com manual de instrução para informar a família?

Em outras circunstâncias, eu pularia o desejum, mas eu tenho um bebê pra nutrir, então me sento ao lado de minha avó, que come seu bolinho de forma graciosa.

— Como Diógenes era quando era pequeno? Era uma peste? Aposto que era. — Sorrio, me servindo de café. Eu posso tomar café, né? Será que faz mal ao bebê? Não quero que nada o afete.

— Ah, esse meu menino nunca me deu trabalho. Seu pai buscava os irmãos na escola e cuidava deles o tempo todo.

— Não consigo imaginar Diógenes sendo amoroso. — Faço uma careta, o provocando. É mentira. Eu consigo imaginar Diógenes sendo amoroso porque ele é um amor comigo. Temos nossos momentos. Eu ainda não confio nele completamente. Eu sei que deveria, mas, como eu disse anteriormente, palavras machucam. Mesmo que não soubesse que era meu pai, ele me magoou com aquilo.

— É porque você não merece. — Eu sei que ele está falando isso pra me provocar, então não deixo passar desapercebido.

— E ainda diz que me amou logo quando soube que eu era sua filha. Velho sonso. —  Passo manteiga no pão. Eu posso comer pão? Será que não seria melhor uma frutinha?

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora