Capítulo XXIII

955 79 98
                                    

______♡______
POV Capitão Nascimento

Eu entendo ela, parcialmente. Eu ficaria possesso se visse outro cara a beijar, mas porra, eu não pude fazer nada. Por que ela não me deixa explicar? Merda. Eu deveria ir e dizer que amo ela ou deveria deixar ela viver e respeitar a decisão que ela tomou? Será que eu consigo fazer isso? Será que eu consigo ficar longe? Eu não quero que seja só mesmo jeito que foi com Rosane. Eu não corri atrás e perdi ela, e agora estou perdendo Marjorie também.

Quando Fernanda me beijou, eu saí do quarto e pedi a Neto que ficasse com ela. Fui direto pra viatura buscar meu celular e fui ao apartamento de Marjorie. O síndico não deixou eu subir e tentei conversar com ela. Eu fiquei tão puto e desesperado que acabei falando o quê não devia. Não deveria ter chamado ela de covarde, mas ela estava sendo. Eu sei que eu fui o primeiro namorado dela e eu sei que ela tem medo quanto a isso e por isso eu estava disposto a conversar, mas eu já não tenho mais idade pra suportar birra e imaturidade. Não é isso o que eu quero. Mas eu quero ela. Eu amo ela e deveria ter dito isso. Deveria ter deixado bem claro isso antes.

Sentado na cadeira do meu quarto, penso seriamente se quero me deitar. Na cama onde ela deitava e ficava estudando, enquanto eu admirava ela. Na cama onde ela implorava pelo meu pau. Na cama onde eu e ela ficávamos abraçados, rindo das idiotices que ela falava. Na cama onde brigávamos por ela ser esquerdista e ter as ideias mais ridículas e utópicas.

E, novamente, a cama está vazia. Minha vida está vazia. Talvez eu tenha problema. Primeiro Rosane e meu filho, agora Marjorie. Ela foi a primeira pessoa que eu namorei desde o divórcio. O que eu fiz de errado? Porra, o que eu fiz de errado?

|♡|

Quando meu telefone toca, abro os olhos a procura dele. O número é desconhecido, mas resolvo atender. Coloco no ouvido, ouvindo apenas uma respiração ao fundo. É uma risada?

— Alô? — Espero que me respondam, mas nenhuma voz sai. — Se eu te pego, tu tá fudido, filho da puta. Trote é coisa de vagabundo, caralho. — Desligo o telefone, querendo arremessa-lo na parede.

Quando consigo dormir, parar de finalmente pensar em Marjorie, um vagabundo desocupado resolve me perturbar. Por sorte, já são quatro e meia. Levanto da cadeira que adormeci, e vou até o banheiro.

A água escaldante percorrendo meu corpo de lembra ela. Eu nunca gostei muito de água quente, mas ela adorava e se eu colocasse na fria, era motivo para brigas. Éramos tão diferentes, como pudemos nos apaixonar? Talvez esse tenha sido o meu erro: me apaixonar por uma garota totalmente diferente de mim.

Em momento algum eu chorei, mas sinto como se meu coração se partisse. A melancolia presente por toda a casa é contagiante. Se a pessoa mais alegre chegasse aqui, eu acabaria com a felicidade dela. Passo as mãos pelo rosto, lavando e deixando que a água leve embora meus pensamentos e minhas melancolias. Eu queria que a água levasse essa sensação de arrependimento que sinto, e esse amor que não sei se vai passar.

Eu sempre pensei que seria difícil esquecer Marjorie caso terminassemos, mas nunca pensei que realmente chegaria esse dia. Eu não culpo Fernanda, mas também não posso culpar Marjorie. A quem devo culpar então? A total imaturidade de Marjorie e ao impulso de Fernanda? E quanto a mim? Qual minha parcela de culpa em perder o amor da minha vida?

Termino meu banho e me visto para o trabalho. Minha vida não pode parar por uma mulher, mesmo que seja a mais inteligente e mais perfeita que eu já conheci.

Entro no carro, às cinco e quarenta da manhã, e começo a dirigir para longe da minha casa. Minha cabeça está longe. Longe o suficiente pra me fazer dispersar até que percebo que o caminho que faço não é pro batalhão.

Bato na porta com pressa, arrependido por estar aqui, mas preciso dela. Mesmo depois de tanto tempo, ela é meu ponto de calma.

A porta se abre e Rosane aparece com um roupão rosa, de seda.

— Beto, o que faz aqui? — Rosane coloca os braços na cintura, incrédula por eu estar aqui uma hora dessas. Eu também estou.

— Perdi ela... — Abraço minha ex mulher, apoiando a cabeça em seu ombro. Pensativo, suspiro e deixo que Rosane me envolva em seus braços.

Ela não fala nada e eu muito menos. Apenas ficamos abraçados na porta da casa dela, até que resolvo contar o que aconteceu.
Me guiando para dentro, em silêncio, Rosane apoia a mão nas minhas costas. Durante todos esses anos, nós criamos uma relação de amizade e amor que, mesmo depois da burrice que eu fiz, não se quebrou. Nós nos amamos, mesmo não sendo mais da maneira romântica. Eu me conformei com a decisão dela de ir embora, ate porque eu estava transtornado na época e ela não merecia um marido maluco, não que eu tenha melhorado muito.

Conto a ela todo o ocorrido, e ela me olha com compaixão, até pena. Só ela e Marjorie têm acesso ao Roberto Nascimento e não ao capitão, e isso é foda porque eu mostrei a Marjorie minhas fraquezas e medos e agora não vale mais nada.

— Ela está sendo infantil, é verdade, mas o que você esperava de uma garota de vinte e cinco anos que nunca namorou? Esperava a maturidade que a gente adquire com experiência? — Rosane está certa. Marjorie não é pra mim, embora me doa admitir. — Mas você não deveria ter dado intimidade a essa Fernanda. Sabe muito bem quando uma mulher está interessada em você. Não é possível que dessa vez tenha ficado cego. — O pior é que tudo o que eu via em Fernanda era uma possível amizade futura. Minha admiração por ela e pela profissional que ela é não mudou, mas eu prefiro mesmo cortar qualquer outro tipo de relação além da estritamente profissional.

Quando Fraga aparece na sala, Rosane está apoiando minha cabeça em seu ombro, acariciando meu cabelo. Se eu fosse ele, ficaria com ciúmes, mas é um corno, então só volta ao quarto. Decido que essa é minha deixa pra ir embora, e sigo para o trabalho. Por sorte, Fernanda ficará afastada por um tempo graças ao ferimento, e assim vou poder raciocinar direito e treinar como vou recebê-la sem que haja um constrangimento terrível.

Disperso, observo meus soldados correrem e treinarem. Neto está ao meu lado, me auxiliando. Mathias está organizando papelada que eu mandei.

— Como está Marjorie? — Pergunto, sem ao menos pensar. Apenas pergunto, mesmo sem saber se quero saber como ela está. Se ela estiver mal, eu vou precisar me controlar muito pra respeitar a decisão dela e não ir lá e fazer ela desistir dessa ideia idiota de término. Mas se ela estiver bem, eu é que vou ficar mal porque eu estou o tempo inteiro pensando nela, melancólico e disperso por causa dela. Não sei se a quero mal, mas não a quero melhor que eu.

— Não a vi... Por que?

— Ela não quer me ver mais.... Fernanda me beijou e ela viu. — Quando falo isso, Neto abre a boca surpreso e começa a rir.

Cruzando os braços, encaro Neto, o repreendendo.

— Perdão, capitão, mas era questão de tempo até acontecer uma merda. Todo mundo vai que 09 é doida pelo senhor. — "Todo mundo" quem? Todo mundo do batalhão sabia que ela estava interessada em mim? Menos eu? Porra, onde que eu tava que não vi isso acontecer? — O senhor estava tão concentrado na sua doutora que não viu.

Faz sentido. Eu não via, e ainda não vejo, nenhuma outra mulher se não Marjorie. Mas vou ter que me adaptar e parar de vê-la em tudo.

__________________________________________________
Olá, docinhos. Tudo bem?

A pedidos(apenas um) estou postando esse aqui. Ainda não cheguei em casa, mas queria que vocês vissem a visão do Beto diante disso tudo e não pude conter minha ansiedade.

Quando eu chegar em casa, respondo cada um de vocês, tá?

Amo vcs

Nos vemos em breve.

         — Milésima esposa do Capitão Nascimento 💋

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora