Capítulo LIII

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POV Marjorie Cerrado

Amanheci na minha cama, com meu pijama. Acho que Beto me vestiu enquanto eu dormia. Quando cheguei do meu apartamento ontem, fiquei no sofá tentando raciocinar direito e eu me sinto tão estranha. Eu não sinto mais vontade de chorar, mas eu sinto um aperto enorme no peito. Eu tenho um pai que gosta de mim. Bom, ao menos diz que gosta. Isso faria a Marjorie de dez anos saltitar de felicidade mas faria a Marjorie de dezesseis anos ficar furiosa. Essa Marjorie de agora não sabe o que sente. Se fica saltitando de felicidade por ter um pai que não é um idiota que me abandonou, ou se fico furiosa por ter um pai que é simplesmente e genuinamente um idiota babaca do caralho.

Encaro o teto, a espera do som do alarme. Luana e Rafael estão dormindo e Beto acho que saiu. Pleno domingo de manhã e eu estou sozinha, com duas crianças e uma bomba no colo. Eu me sinto tão estranha. Eu tenho um pai. Que loucura. Eu deveria ir vê-lo? Primeiramente, eu deveria acreditar que ele realmente gosta de mim?

Levanto, bambeando pela casa, sentindo minha cabeça pesada. Todo meu desânimo e meu mal estar somem quando eu vejo a mesa linda que Roberto preparou. Ele está ajeitando os últimos detalhes, colocando copos na mesa.

- Você é um pai maravilhoso e um namorado inestimável. - Sorrio, ainda sonolenta.

- Você está melhor? - Beto vem até mim.

Beijando minha testa e, em seguida, minha boca, ele envolve meu corpo e afunda o rosto em meu pescoço.

- Eu tenho um pai que é um completo babaca. Ameaçou minha chefe, é abusivo e assassinou um garoto de quinze anos. Mas ele diz me amar e que sonhou comigo. Eu não sei nem o que pensar, Beto. - Enquanto eu falo, Nascimento me guia até a cadeira e se senta ao meu lado.

- Da uma chance a ele, Marjorie. - Beto se serve de café. - Ele me falou sobre a situação no dia em que eu voltei ao trabalho depois do acidente. Você não conhece ele como eu. Eu vi que ele estava sendo verdadeiro. Ele sempre quis ter filhos, tanto que quando Rafael nasceu, ele ficou apaixonado.

- Não vai ser fácil tirar esse incomodo que eu tô sentindo mas eu tô tentando. - Enfio um pedaço de pão na boca. Sorrio com uma ideia maravilhosa que tive. - A gente podia fazer um churrasquinho hoje, né? Lá no quintal.

- Quer fazer? Eu compro as coisas. - Colocando café na minha xícara, Beto fala.

- Eu tempero a carne e você assa. Os meninos vão gostar. - Agradeço com um sorriso, enquanto observo ele colocando o café.

- Vai fazer vinagrete? - Ele repousa a cafeteira novamente sobre a mesa, e volta a comer seu café.

- Vou. Fiquei com vontade de comer aquele pão de alho que você compra. Não esquece dele porque Rafael gosta. - Coloco a perna direita sobre o assento da cadeira, bebendo meu café. - Você me vestiu, não foi? - Mudo de assunto ao lembrar da noite anterior novamente. Vem de relance. Toda vez que estou tranquila, a cena daquele homem me dizendo aquelas coisas lindas e ele me abraçando, me vem a mente e me sinto tão feliz. Mas aí eu lembro também dele me chamando ds vagabunda e ameaçando Ludmilla e aí me sinto péssima.

- Vesti. Você estava cansada e eu não quis te acordar. - Beto responde, passando manteiga no pão. Ele fica tão bonitinho quando está concentrado.

- Você está merecendo uma mamada. - Rindo, tiro a concentração dele. Beto me olha incrédulo por um breve instante e depois começa a rir.

- Eu aceito...

Ouvindo um barulho vindo do quarto dos meninos, mudamos de assunto rápido, rindo da nossa infantilidade. Estão vendo como ele me faz esquecer dos problemas?
O barulho dos passos de Rafa e Luana no chão se aproximam, então vejo aquelas carinhas amassadas sentarem a nossa frente.

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora