Capítulo VII

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- Running Up That Hill; Kate Bush

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POV Marjorie Cerrado

Há muito nos livros sobre amor romântico, mas acho que há pouquíssimo sobre o amor fraternal. Eu não buscava um copo de água para Luana quando ela pedia, já ameacei ela com faca inúmeras vezes, já roubei comida dela, e já disse que queria que ela morresse mas aqui estou eu indo em direção ao morro por ela. Eu faria qualquer coisa por ela. eu mataria por ela. Eu morreria por ela.

Se eu pudesse, faria um acordo com Deus para mudarmos de lugar. Eu ficaria na mira de duzentos traficantes, se ela pudesse correr e ir embora daqui.

Nascimento brigou comigo por ser insistente e querer subir, mas eu não dei ouvidos. Eu sinto muito se sou teimosa. Ele berrou comigo e disse que se tivesse que escolher entre proteger o filho ou a mim, ele não pensaria duas vezes em me deixar pra trás. Achei justo já que se eu estivesse no lugar dele, ele já até teria morrido.

Neto está sentado no banco do passageiro, enquanto eu, Nascimento e um outro policial estamos atrás. Nascimento está aflito, com medo, em pânico. Ninguém nota, mas eu sim. Eu percebo porque também estou. Estou em pânico e desesperada para que cheguemos logo e eu possa ter minha irmã nos meus braços novamente.

Eu não ligo se nós temos nossa picuinha. Nossa briga não se adequa aqui, quando estamos os dois na mesma situação, e ele ainda está pior que eu. Rafael é filho dele.

Em silêncio, olhando pela janela, admirando a lua, deslizo minha mão pelo banco, em busca da mão de Nascimento. Sua mão está gelada. Ele tem medo. Tem medo e esconde isso. Achei que ele tiraria a mão, me olharia com ódio, como normalmente faz, mas ele permite meu toque. Permite que eu segure a mão dele e a acaricie. Após ganhar confiança, apertamos um a mão do outro, nos apoiando, mas sem nos darmos o mínimo de olhar.

Até que chegamos ao maldito morro. Saio do carro, juntamente com os policiais, e analiso o lugar de longe.

Eu te juro, Luana. Eu e você não seremos infelizes. Sairemos daqui. Seremos felizes longe desse lugar maldito.

Sigo Nascimento que adentra irado, furioso, fulminante. Todos com a cara fechada, portando as maiores e mais pesadas armas. Eu, entretanto, estou apenas com um colete e um sonho.

- Entra em casa, porra. - Neto grita com um garoto, de no máximo dezesseis anos. Eu sei que deveria estar preocupada com Luana, e embora eu esteja, ainda me irrita o jeito como tratam as pessoas. Essas pessoas são tão inocentes quanto Luana, quanto Rafael. Não precisa dessa crueldade com quem não merece.

Nao demoramos muito para encontrar Baiano, ele fez questão de deixar clara a localização dele. Cinco disparos dão início ao terrível teatro.
Baiano parece com Rafael na laje de uma casa no alto do morro, e dispara para cima. Onde está Luana? Porra, cadê minha irmã? O que fizeram com ela?

- Vamos pegar aquele filho da puta. - Nascimento ordena, liderando a tropa até o alto do morro, se esgueirando pelas ruas e vielas.

Eu moro aqui desde que nasci, e foi assim que convenci Nascimento: eu podia ajudar ele a encontrar entradas e desvios que ninguém nunca encontrou, ou ao menos que Baiano nunca soube. Atrás da igreja Assembléia "Sangue de Cristo", há um pequeno beco, que é sem saída mas possível pular o muro.

Seguimos por trás da igreja, até chegarmos ao final do beco. Todos pulam o maldito muro, exceto eu e Nascimento. Péssimo dia pra escolher usar calça jeans. Nascimento nota minha dificuldade e bufa, irritado. Não espero que ele me ajude a pular o muro, mas ele me ajuda. Pra quem disse que me deixaria morrer, o capitão está bastante amigável.

Insensatos | CAPITÃO NASCIMENTO Onde histórias criam vida. Descubra agora