Dias de Chuva| !Lapuh!

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ARCO III

○ESCOLHAS○

O crepúsculo da tarde já coloria o céu com os tons alaranjados do pôr do sol quando Apuh aterrissou na frente da casa de Lg com Sheldon em seus braços. A galinha bateu as asas e pulou do colo do seu então tio e subiu os degraus da varanda balançando as suas penas.

Apuh apertou o cajado de voo em suas mãos e encarou a casa, sentindo um certo aperto em seu coração. Ele olhou para trás e viu o lago ritualístico de Lg. O lago onde ele uma vez mergulhou nas águas escuras para retirar um certo espadachim inconsequente que na época vivia a base de café. Apuh respirou fundo e deu o primeiro passo em direção a casa.

Ele sabia que deixou toda a situação com Lg estranha ao chamá-lo de namorado hoje de manhã em seu gabinete. Aquela palavra não escapou de sua boca, não, Apuh já havia pensado sobre aquela palavra algumas vezes desde que saíram da casa de Merlin, mas com tudo que estava acontecendo com Utopia e eles lutando contra o tempo, ele não conseguia elaborar esse pensamento tão bem, apenas sabia que essa palavrinha tão pontuada era boa, mas não sabia se era o momento certo.

Desde que se declararam um para o outro em sua casa a mais de um mês, eles decidiram não rotular esse relacionamento. A palavras sempre se apresentou como um certo limite, como se apenas a nomeação desse relacionamento entre eles dois pudesse diminuir tudo o que sentiam, a palavra confundia os sentimentos e nublava todo o brilho mágico que eles tinham um pelo outro.

A palavra por muitas vezes tinha o poder de empobrecer a imagem.

Descrever como cansaço o sentimento de se exaltar até os seus olhos pesarem o coração pesar em batidas falhas, as pernas tremerem e a mente desativar as funções primordiais entrando em um piloto automático, retirava todo o peso de um corpo cheio. Descrever como mágico as luzes adornando o crível e o tornando-o incrível, fluindo pelo espaço e transformando o branco no preto era desrespeitar a própria magia. E Descrever a relação que Apuh e Lg tinham apenas como um namoro, parecia errado.

Namoro era tão simples, uma palavra tão básica, não conseguia englobar tamanho sentimento. Uma palavra simplória não guardaria os sentimentos, os olhares mágicos, a contemplação dos sorrisos ou o esplendor da presença.

Mas mesmo assim, Apuh o chamou de namorado.

De namorado.

Não parecia errado, mas parecia...

vazio.

Sheldon piou, despertando Apuh dos seus pensamentos. O prefeito umedeceu os lábios secos e subiu à varanda. Ele respirou fundo o cheiro de chá mate de dentro da casa e ao invés de apenas virar a maçaneta da porta e entrar, ele preferiu bater.

Por quê?

Apuh tinha medo. O medo do desconhecido.

Não demorou para a porta ser aberta. Sheldon correu até os pés de Lg e bateu as suas asas pedindo colo, o que foi rapidamente atendido. Lg cheirava a lavanda, com os cabelos amarrados em um coque firme e alto no topo da cabeça e com um kimono diferente do que ele vestia de manhã. Em um tom carmesim com estampas de lótus nas mangas. Em sua mão ele segurava uma caneca fumegante de chá mate e em uma de suas orelhas estava pendurado um pincel típico para caligrafia ocidental.

--- Agora você vem comigo, não é seu fingido? - Lg falou com o seu filhote penudo o equilibrando em sua mão antes livre.

--- Pó!

Apuh o olhou sem saber o que dizer. Meio tímido, ele apertou os dedos da sua própria mão e pensou se não deveria ir embora dali. Que ele e Lg tinham que conversar isso era óbvio. Mas, como iniciar essa conversa?