🔄94🔄

768 122 269
                                    

ARCO II

ENCONTROS

Lg o procurou com os olhos. Se virou e buscou pela figura de Apuh vendo nada mais que o vazio.

--- Eu te falei para parar enquanto era tempo. Mas você não me escutou.

A voz de Apuh invadia os seus ouvidos e ao contrário de tantas vezes em que ele se aconchego no timbre aveludado do alquimista, se sentindo seguro nas palavras que o prometiam abrigo, desta vez tudo o que Lg sentiu ouvindo aquela voz surgir da imensidão do vazio foi medo.

--- Não há nada nessa cidade em que eu não controle. Tudo está do jeito que eu quero. Do jeito que deve ser. A bioges sempre foi um erro e você sabe disso.

Aquela voz... Era idêntica a de Apuh, mas não parecia ser do Apuh que conhecia.

--- Você escolheu o seu destino, Lg. Você escolheu isso para você, para a cidade. Não se sente culpado?

O amargo subiu a sua guarganta e lágrimas inundaram os seus olhos. O que era aquele Apuh?

--- Não se sente culpado por ter destruido o seu relacionamento com o Eokor?

Apuh. Aquele não era o seu Apuh.

--- Com a Nogal?

Lg apertou as mãos em punho. Se virou e socou o vento tentando calar aquelas palavras que o afetavam tanto, mais por serem ditas na voz de Apuh do que por qualquer outra coisa.

--- Já desisti de você, Lg. Eu te aconselho a fazer o mesmo.

Lg sentiu a fúria crescer em seu peito. Uma furia mesclada com uma dor que afundava o seu coração no abismo da solidão. O amargo em sua boca se embolorava, formando um nó em sua guarganta que se tornava difícil respirar. Lg chutou o vazio e gruniu ao limbo.

De sua boca, o ácido amargo da saudade se fazia presente.

--- Você é o culpado de tudo isso. Culpado pelo fim de TopCity.

--- Não - outra voz surgiu do além da escuridão e Lg senti-se ainda mais recioso com tudo, aquela era a sua voz - Eu te disse sobre o Coelho Dourado, eu te contei sobre o Jazz, Apuh. Eu sempre disse que ele é o Coelho Dourado e você nunca me escutou!

--- Eu sei que é você Lg. E assim como o seu restaurante, o seu grupo, sua associação, essa sua máscara fajuta de coelho dourado vai cair.

As vozes discutiam e a tormenta crescia na cabeça de Lg. Agora com a discussão sua raiva dava espaço para medo. No meio daquela briga de palavras, apenas como um pobre expectator obrigado a ouvir os gritos de ambos os lados, Lg se recolhia. Ele sentia o Dark Lichen fumegar em seu corpo, mas agora tudo o que queria era estar junto do Apuh, do seu Apuh.

Estar em Utupia e longe de toda aquela barbudia que acontecia no eco do seu pensamento.

Seu coração palpitou e o núcleu em seu peito tremeu, tal como a ponta de seus dedos.

--- Você vai me pagar, Apuh. Vai pagar por tudo o que me fez! Por tudo o que fez para a cidade!

--- Estou fazendo apenas o que há de melhor para a cidade, Lg: Acabando com você.

As pernas de Lg perderam a sua sustentação. Os dedos tremulos agarraram as lapelas do seu kimono e os olhos azuis enxergaram apenas a escuridão. Lg lutou para conseguir respirar. Ele contou de um até dez. Tentou estar os dedos e tentou se concentrar em fazer um flor de Lichen com as suas mãos, mas não conseguia. A palavras, as dicussões daquelas vozes fantasmagóricas continuavam a ecoar por todo aquele espaço. Brigavam, persistiam em se manterem no erro de apenas desconfiarem, de acusarem, de se manterem firmes em suas respostas e não darem lugar para a escuta.

Dias de Chuva| !Lapuh!Onde histórias criam vida. Descubra agora