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ARCO III

PREDILEÇÃO

 Lggj's eram inibidos da escolha. Quantos Lg's de distintos universos já foram encurralados em sacrifícios destrutivos por não poderem ter a liberdade para escolher um lado. Na maioria dos casos, essa falta de liberdade acaba em solidão, quando tudo entrava em guerra e a coisa mais sábia e segura que um Lg poderia fazer era se isolar do mundo e tentar manter o resquício de sanidade que ainda o restava.

A escolha sempre foi um privilégio e quem a teme, não sabe o que é viver em isolamento.

Por isso, quando Lg escolheu abrir os olhos, sentindo aquele cheiro úmido de terra molhada e mofo que existia no canto das paredes no quarto do hospital de TopCity, ele se levantou, olhou para o redor daquela quarto que sempre o trazia para TopCity e suspirou.

Qual escolha ele teria que fazer agora?

Lg tocou na parede branca e sentiu o cheiro de terra úmida apesar de não conseguir ouvir nenhum pingo de chuva no telhado do hospital. Ao sair e molhar os seus pés nas poças de água que preenchia quase toda a extensão das ruas da cidade, Lg sentiu apenas um sutil sereno.

Olhando para o céu noturno, ele conseguia ver mais estrelas do que nuvens.

Ele engoliu em seco, apertou a barra da manga de seu kimono e sentiu a ponta dos seus dedos começarem a tremer.

Pela calçada ele caminhou até a praia onde suspeitou que Dark Lg poderia estar. Desviando de algumas plantas de Lichen e de grandes cipós que cresciam do chão para treparem nas paredes das construções - ou no que restava delas - e nos potes Lg tentou manter ao que as memórias do interrogatório daquela tarde inundaram a sua mente. O rosto inexpressivo de Pedrux e a sua agonia depois de falar sobre o irmão enlouquecido, a visita inesperada de Luiz e o desespero de que as respostas que Lg achou que tinha, serem apenas mais um desvio de sanidade de sua mente maluca que insistia em criar um paradoxo entre o bem e o mal que era a memória e o passado de Dark Lg.

Revendo as suas memórias, perpassando por aquele sentimento epifânico do interrogatório e recordado então da última reunião do dia, com Nait acusando Dark Lg de negligência, Lg deu um passo mais firme, quase esmagando um sutil botão de um flor estranha de Lichen que se esforçava para crescer entre as rachaduras da calçada.

Lg desceu a rua, vendo alguns prédios infestados pelo Lichen e como a planta dominava por completa aquela cidade.

Lg já a temeu um dia, hoje, Dark Lichen se tornava parte de sua força.

Ao longe, assim como Lg suspeito, olhando a quebra das ondas no mar calmo e com o pés descalços em contato direito com a areia da praia, estava Dark Lg, e se aproximando mais da figura, o espadachim pode vê-lo com os olhos fechado, a cabeça levemente inclinada para cima e com as mechas de cabelo voando com a brisa marítima.

Lg se aproximou aos poucos, e ao chegar ao lado de seu irmão, ele deixou os seus chinelos de lado e sentiu os grãos da areia abraçarem os seus pés.

--- Há uma forma de descobrir o quão perigoso o mar pode ser - disse Dark Lg sentindo a presença de Lg ao seu lado - se a areia for fina, o mar é raso. Se a areia for grossa, o mar é fundo. Como é a areia que você sente?

--- Não parece ser grossa, mas também não é tão fina.

--- Significa que essa ponta da praia, o mar é mediano, nem tão raso mas nem tão fundo.

Dark Lg abriu os olhos mas não encarou o visitante, ele apenas se curvou para dobrar as barras de sua calça e subi-las até onde o tecido permitiu, ficando alguns centímetros acima do joelho.

Dias de Chuva| !Lapuh!Onde histórias criam vida. Descubra agora