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Heloísa:

Estava na porta de casa, prestes a entrar, quando escutei uma voz me chamar. Virei na direção e vi o Cobra vindo em minha direção. Ergui a sobrancelha, sem entender direito, e o vi tropeçar antes de subir na calçada.

Heloísa: O que foi? - virei completamente para ele, e ele passou a mão na cabeça, me encarando. Percebi que ele estava meio alcoolizado. - Não é nem sete horas da noite ainda e você já está bêbado?

Cobra: Não estou bêbado, não - me encarou, e eu balancei a cabeça. - Queria bater um papo contigo, pô.

Heloísa: Pode falar - ajeitei minha bolsa no ombro, e ele respirou fundo, olhando para os lados. - Tá tudo bem?

Cobra: Eu tô bem, só queria saber como a... - coçou a cabeça de novo - como a Helena está, pô. Ninguém comentou mais nada sobre ela, só que ela tinha acordado.

Ergui a sobrancelha, não entendendo a preocupação dele, e fiquei olhando para o seu rosto, vendo que ele não me encarava direito.

Só os mais próximos sabiam da perda de memória da Helena, além do pessoal que trabalha no posto. Igor não quis que ninguém de lá de dentro saísse comentando, e mesmo que às vezes tenha algum boato, ninguém tem certeza de nada.

Heloísa: Ela está se recuperando aos poucos - respondi, e ele me olhou. - Eu só não entendi sua preocupação. - Fui sincera, e ele ficou me encarando e depois se encostou no muro daqui de casa, baixando a cabeça antes de começar a falar.

Cobra: Tu sabe, pô. - Ele murmurou, quase como se estivesse se forçando a dizer as palavras. - Muito antes da Helena ficar com teu irmão, sempre fui na dela. - Me encarou, e eu levantei as sobrancelhas, olhando ao redor para garantir que ninguém estava por perto. - Tu via quando eu ia atrás dela, quando eu ficava olhando ela andando por aqui.

Helena: Menino... - Eu olhei para ele, tentando manter a calma, e apontei na direção dele. - Você quer morrer? Se o meu irmão ficar sabendo disso...

Ele negou com a cabeça rapidamente, tentando dar um passo para mais perto.

Cobra: Tô sendo aberto contigo, pô. - Ele me olhou nos olhos e se desencostou da parede, vindo mais perto de mim. - Tu via o quanto eu ia atrás dela, e não é só olhar, não. Tem mais...

Heloísa: Para com isso. - Eu apontei de novo, sentindo o peso da situação aumentar. Olhei ao redor, preocupada com quem pudesse estar ouvindo. - Você está bêbado, Cobra. Não sabe o que está falando. Se alguém escutar isso e isso cair no ouvido do meu irmão, você sabe que não vai dar coisa boa.

Ele deu uma risada nervosa, passando a mão pela cabeça enquanto tentava se apoiar na parede. Ele parecia ainda mais desconfortável, mas as palavras saíam sem controle.

Cobra: Eu... eu não sei o que a Helena viu no teu irmão, não. O Gavião sempre foi fechado demais, tu sabe disso. - Ele olhou para o chão, como se estivesse tentando juntar os pensamentos, mas não conseguiu. - Às vezes, quando eu estava ali na segurança da casa, eu escutava eles discutindo, mas... - Ele balançou os ombros, passando a mão no nariz como se estivesse incomodado. - Nunca falei nada, nunca disseram nada.

Fiquei tensa, sentindo que a conversa estava saindo do controle. Não queria que ninguém, especialmente o Igor, soubesse disso.

Heloísa: Cobra... - Eu neguei com a cabeça, já preocupada com o rumo que aquilo estava tomando. Não queria que alguém da rua escutasse. - Eu não quero que você...

Mas ele continuou, a voz mais baixa, mas ainda assim cheia de confissão.

Cobra: Eu cheguei a perguntar uma vez, pô, se estava tudo bem entre eles. Mas nunca disseram nada. Nunca falaram nada. - Ele suspirou, balançando a cabeça. - Só que... olha, eu gosto da Helena, Heloísa. Gosto dela de verdade. Pode não ter rolado nada entre a gente, mas a atração... - Ele deu um risinho nervoso, me olhando meio desorientado. - Não tem jeito, não. Isso não muda. Não dá pra negar.

Lágrimas de ilusão. Onde histórias criam vida. Descubra agora