[70] Louca

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Demi's POV

No segundo que terminei minha ligação com Jake, saí correndo do banheiro e desci as escadas, onde Wilmer estava no escritório e pulei em seu colo, abraçando-o forte.

"Demi?! Qual o problema?! O que aconteceu?" Ele perguntou, obviamente alarmado pela minha entrada.

"Ela está bem. Izzy, ela está segura."

Wilmer piscou, "Quê?! Como você sabe?"

Eu sorri, "Jake me ligou, ela está com ele e está segura. Ela precisa de tempo, mas Jake vai tentar convencê-la voltar para casa em breve."

Wilmer se levantou, "O que você está esperando?! Vamos pegá-la. Mande a polícia para lá!"

Eu balancei a cabeça, "Ela precisa vir para casa por conta própria, Wilmer. Senão ela vai só nos evitar mais e mais."

Ele revirou os olhos, "Ela vai superar. Vou ligar para a polícia."

"Não!" Agarrei seu braço, "Dê a ela mais alguns dias, deixe que ela faça suas próprias decisões, Will. Nós não podemos forçá-la a fazer nada."

Wilmer me olhou como se estivesse ficando louca, "Você é quem está ficando louca sem ela e tendo pesadelos e agora de repente é como se você nem a quisesse de volta?!"

Eu fiquei de boca aberta, "É claro que eu a quero de volta, seu idiota! Eu a quero em meus braços de volta mais do que qualquer coisa no mundo, mas quero que ela me queira de volta também. Não quero forçá-la a voltar para casa, porque isso significa que é só uma questão de tempo até que ela fuja de novo e eu não sei se conseguiria aguentar isso."

Ele balançou a cabeça e puxou seu braço de volta, "Desculpa Demi, mas ela é minha filha também e me perdoe se não consigo esperar por nossa filha de dezessete anos criar bom senso e voltar para casa."

Eu podia sentir as lágrimas brotando em meus olhos, "Não!Wilmer, por favor, não faça isso! Ela nunca vai me perdoar porque ela vai achar que fui eu quem ligou para a polícia e você sabe que é verdade!"

Wilmer suspirou, "Sinto muito."

Eu balancei minha cabeça e me levantei para sair de perto, "Não, você não sente. Você não sente muito porque você está sendo completamente egoísta. Eu não acredito que você faria uma coisa dessas."

Ele se encolheu e pegou seu celular, discando um número e colocando em seu ouvido, me olhando triste. "Detetive Hughes? Aqui é Wilmer Valderrama. Tenho novas informações sobre o caso de minha filha."

Eu não podia mais ouvir nada. Eu saí da sala e fui ao quarto, me enrolando por debaixo do cobertor e começando a chorar. Ela ia me odiar, ela iria fugir de novo no segundo que ela teve a chance. Eu imediatamente me arrependi de dizer qualquer coisa para Wilmer, por que não fiquei de bico fechado? Eles a achariam e a arrastariam chutando e chorando de volta para cá onde Wilmer a colocaria de castigo e trancaria seu quarto. Ela acharia que tinha sido eu quem havia ligado para a polícia. Ela poria toda a culpa em mim, não importasse quantas vezes eu a dissesse a verdade.  Depois de alguns minutos, Wilmer entrou e ficou na porta com seus braços cruzados.

"Eles vão mandar uma equipe por aí para fazer uma busca e alertar às delegacias pela cidade." Sua voz era seca, vazia.

"Tá satisfeito agora? Ela vai me odiar ainda mais."

Ele deu de ombros, "Pelo menos vai estar segura."

"Ela está segura!"

Wilmer me olhou histérico, "Ela não vai ficar com o ex-namorado dela!"

Eu arfei, "Então é essa sua razão por fazer tudo isso?! Você não quer ela junto com ele?!"

"Não!" Wilmer se defendeu, mas eu podia ver que aquela não era toda a verdade, "Estou fazendo isso por nós dois, porque quero nossa filha de volta e um dia você vai me agradecer por isso."

Eu balancei minha cabeça, "Eu nunca vou te perdoar por isso. É como se minha opinião nem importasse."

Ele deu de ombros, fazendo-me querer socá-lo na cara, "Desculpe por te fazer sentir assim. Mas não importa que você agora que decidiu ser mãe quando eu estive sendo pai pela minha vida inteira." No segundo que as palavras deixaram sua boca, ele colocou a mão nela, seus olhos se arregalando de medo. "Demi, eu não-"

"Uau." Eu interrompi, "Isso é ótimo, bom, quer saber? Vá se foder. Eu estou farta disso. Nós estamos. Só saia daqui, eu não quero nem me dar ao caralho de olhar para você agora." Eu estava chorando, mas não liguei. Ele não sabia o quanto tinha me machucado, ele nem ligava.

"Ótimo." Wilmer disse, jogando as mãos para o alto e saindo da porta, "Venha me buscar quando você parar de ficar louca."

Minha respiração parou quando ele bateu a porta, louca. Ele tinha me chamado de louca. Ele sabia o quanto eu tinha sofrido com aquele insulto nos tabloides ou no Twitter. Ele sabia o tanto de vezes que eu segurei a lâmina para acertar meu pulso com meus velhos demônios gritando aquilo em minha cabeça.

Quem disse que iríamos embora quando você ficassse mais velha?

Não percebeu que nunca vamos a lugar algum?

Não me diga que você é estúpida assim.

Eu escorreguei para o chão e coloquei minhas mãos na cabeça, "Não. Cale a boca."

Vamos, Demi, ninguém vai saber. Lembra da pureza que você costumava ter? Lembra da sensação de alívio, o torpor. Aposto que você mataria por isso agora mesmo.

Eu fiquei de pé e andei até o banheiro meio que em transe, me sentei no vaso e peguei minha gilete, roboticamente desfazendo-a para que assim fizesse uma pequena lâmina em meus dedos, observando-a cintilar na luz enquanto deixava as outras peças caírem no chão. Tudo estava em câmera lenta, meus sentidos se avivaram dramaticamente enquanto eu assistia em dúvida, meus dedos acariciando o pedaço de metal. O tempo parou enquanto eu via a lâmina se dirigir ao meu pulso, pousando delicadamente na minha pele fina onde eu podia sentir o sangue pulsando por debaixo dela.

Só um não vai doer.

Don't Tell Mom - Demi Lovato (Tradução Português/BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora