A noite se arrastou como uma sombra, interminável e pesada. Eu dormia e acordava a cada hora, era os sintomas da ansiedade se manifestando em ondas de insônia. O voo estava agendado pela manhã cedo, então me levantei praticamente de madrugada, tentando organizar meus pensamentos e preparativos. Comprei as medicações recomendadas pelo médico, pronta para evitar qualquer mal-estar durante a viagem.
Enquanto preparava o café da manhã, a cozinha se enchia do aroma de café fresco, mas eu mal conseguia aproveitar. Não queria que a Carla me visse nessa situação; o meu rosto estava inchado de tanto chorar e o cansaço me deixava abatida.
Provavelmente, a minha mãe não tinha ideia de que eu estava a caminho. Decidi não avisá-la, planejando uma surpresa. A expectativa de vê-la novamente misturava-se à tristeza por saber que Léo não poderia me acompanhar. Eram duas horas de voo até a cidade onde ela morava, e cada minuto parecia uma eternidade.
Ligação on:
— Oi, mãe!!
— Filha, que saudade!! Como você está?
— Estou bem... Poderia me passar o seu endereço? Preciso te enviar uma encomenda!
— Ah, você só quer o endereço? Que curioso!
— Sim, aguarde a sua surpresa...
Ligação off.
A sensação de saber que em breve estaria em seu colo era reconfortante. A separação dos meus pais foi um capítulo difícil de aceitar, um tema delicado que ainda pairava sobre nós. Sentia uma culpa persistente por não ter conseguido fazer nada para ajudá-los a resolverem suas diferenças.
Quando finalmente cheguei ao endereço, a casa se revelou um verdadeiro refúgio. Grande e encantadora, era um testemunho da paixão de minha mãe por decoração e jardinagem. Apertei a campainha com uma ansiedade crescente, mal conseguindo conter a emoção. A porta se abriu e, ao me ver, ela arregalou os olhos, assustada e incrédula.
— Surpresa!!! — gritei, saltando para os braços dela.
— Isabele?!! Como você apareceu aqui?!!
— Decidi aproveitar as férias para te fazer uma pequena visita surpresa.
— Que maravilha!! Entre, entre... deixe que eu te ajudo com as malas!
— Obrigada, não posso carregar peso.
— Por quê? — Me olhou, confusa.
— Ah, você sabe... o cansaço da viagem me deixou um pouco sem forças. — respondi, engolindo seco, a verdade pesando no ar.
Assim que entramos, observei cada detalhe da casa espaçosa, decorada com toques pessoais. Os três pequenos cachorros e os dois gatinhos fofos brincavam ao nosso redor. O ambiente era aconchegante, e um alívio tomou conta de mim ao ver que ela parecia feliz ali. A felicidade da minha família sempre foi e sempre será a minha maior prioridade. Eles são a minha base, minha inspiração e meu porto seguro.
— Como você se sente morando aqui, mãe? O Léo e eu sentimos muito a sua falta!
— Esse lugar tem sido um verdadeiro lar para mim, filha. Você sabe que eu vim para ficar perto dos seus avós que já estão velhinhos.
— E isso significa abandonar seus filhos?
— Eu não vejo mais motivo para voltar a morar naquela cidade. Se eu pudesse, traria você e o seu irmão junto comigo.
— Mas temos nossos estudos lá.
— Sim, e o que me restou foi a saudade...
— Acho que vocês poderiam reatar o casamento.
— Jamais. Essa foi uma decisão que não tem volta!
— E quanto aos seus filhos? — A preocupação se infiltrou na minha voz.
— Isabele, você sabe como é difícil para uma mãe se afastar dos filhos? Estou sofrendo muito. Você só vai entender isso quando for mãe! — disse ela, fazendo meu coração disparar.
Depois daquela conversa pesada, ela saiu para preparar algo para comermos. Me deixei cair no sofá aconchegante e arejado, aproveitando o momento de tranquilidade. Conectei meu celular à internet e as notificações começaram a chegar em massa. Eu havia viajado sem avisar a Carla e o Ian, e agora sentia a necessidade de me justificar.
Bate-papo on: Pai / online
— Volta logo para casa, filha!
— Mas, acabei de chegar.
— Lembre-se, não é para você ficar mais tempo do que combinamos. Se isso acontecer, eu mesmo vou te buscar!
— A casa dela é incrível!!
— Então você prefere ela do que eu?
— Amo os dois igualmente. Poderia controlar o seu ciúmes?
— Tá bom, mas volte logo!
Carla / offline
— O seu pai me contou que você foi viajar. Saiba que pode confiar em mim!
— Obrigada, Carla.
Ian / online
— Isabele, como você foi viajar do nada e sem avisar?
— Questões de família, precisei visitar a minha mãe.
— A Carla me avisou... fiquei confuso e preocupado. Não demora, já estou com saudades!
— Eu também.
Bate-papo off.
Eu precisava desse momento de paz e da presença da minha família materna. Estava ansiosa para refletir e pensar sobre o futuro. Essa viagem não era apenas uma fuga da realidade; era um retorno ao colo materno que eu tanto sentia falta. Estar ao lado dela, mesmo que por breves dias, me trazia um consolo que há muito tempo não experimentava.
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De Repente Grávida
Teen Fiction+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...