Capítulo 15: O Refúgio

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A noite se arrastou como uma sombra, interminável e pesada. Eu dormia e acordava a cada hora, era os sintomas da ansiedade se manifestando em ondas de insônia. O voo estava agendado pela manhã cedo, então me levantei praticamente de madrugada, tentando organizar meus pensamentos e preparativos. Comprei as medicações recomendadas pelo médico, pronta para evitar qualquer mal-estar durante a viagem.

Enquanto preparava o café da manhã, a cozinha se enchia do aroma de café fresco, mas eu mal conseguia aproveitar. Não queria que a Carla me visse nessa situação; o meu rosto estava inchado de tanto chorar e o cansaço me deixava abatida.

Provavelmente, a minha mãe não tinha ideia de que eu estava a caminho. Decidi não avisá-la, planejando uma surpresa. A expectativa de vê-la novamente misturava-se à tristeza por saber que Léo não poderia me acompanhar. Eram duas horas de voo até a cidade onde ela morava, e cada minuto parecia uma eternidade.

Ligação on:

— Oi, mãe!!

— Filha, que saudade!! Como você está?

— Estou bem... Poderia me passar o seu endereço? Preciso te enviar uma encomenda!

— Ah, você só quer o endereço? Que curioso!

— Sim, aguarde a sua surpresa...

Ligação off.

A sensação de saber que em breve estaria em seu colo era reconfortante. A separação dos meus pais foi um capítulo difícil de aceitar, um tema delicado que ainda pairava sobre nós. Sentia uma culpa persistente por não ter conseguido fazer nada para ajudá-los a resolverem suas diferenças.

Quando finalmente cheguei ao endereço, a casa se revelou um verdadeiro refúgio. Grande e encantadora, era um testemunho da paixão de minha mãe por decoração e jardinagem. Apertei a campainha com uma ansiedade crescente, mal conseguindo conter a emoção. A porta se abriu e, ao me ver, ela arregalou os olhos, assustada e incrédula.

— Surpresa!!! — gritei, saltando para os braços dela.

— Isabele?!! Como você apareceu aqui?!!

— Decidi aproveitar as férias para te fazer uma pequena visita surpresa.

— Que maravilha!! Entre, entre... deixe que eu te ajudo com as malas!

— Obrigada, não posso carregar peso.

— Por quê? — Me olhou, confusa.

— Ah, você sabe... o cansaço da viagem me deixou um pouco sem forças. — respondi, engolindo seco, a verdade pesando no ar.

Assim que entramos, observei cada detalhe da casa espaçosa, decorada com toques pessoais. Os três pequenos cachorros e os dois gatinhos fofos brincavam ao nosso redor. O ambiente era aconchegante, e um alívio tomou conta de mim ao ver que ela parecia feliz ali. A felicidade da minha família sempre foi e sempre será a minha maior prioridade. Eles são a minha base, minha inspiração e meu porto seguro.

— Como você se sente morando aqui, mãe? O Léo e eu sentimos muito a sua falta!

— Esse lugar tem sido um verdadeiro lar para mim, filha. Você sabe que eu vim para ficar perto dos seus avós que já estão velhinhos.

— E isso significa abandonar seus filhos?

— Eu não vejo mais motivo para voltar a morar naquela cidade. Se eu pudesse, traria você e o seu irmão junto comigo.

— Mas temos nossos estudos lá.

— Sim, e o que me restou foi a saudade...

— Acho que vocês poderiam reatar o casamento.

— Jamais. Essa foi uma decisão que não tem volta!

— E quanto aos seus filhos? — A preocupação se infiltrou na minha voz.

— Isabele, você sabe como é difícil para uma mãe se afastar dos filhos? Estou sofrendo muito. Você só vai entender isso quando for mãe! — disse ela, fazendo meu coração disparar.

Depois daquela conversa pesada, ela saiu para preparar algo para comermos. Me deixei cair no sofá aconchegante e arejado, aproveitando o momento de tranquilidade. Conectei meu celular à internet e as notificações começaram a chegar em massa. Eu havia viajado sem avisar a Carla e o Ian, e agora sentia a necessidade de me justificar.

Bate-papo on: Pai / online

— Volta logo para casa, filha!

— Mas, acabei de chegar.

— Lembre-se, não é para você ficar mais tempo do que combinamos. Se isso acontecer, eu mesmo vou te buscar!

— A casa dela é incrível!!

— Então você prefere ela do que eu?

— Amo os dois igualmente. Poderia controlar o seu ciúmes?

— Tá bom, mas volte logo!

Carla / offline

— O seu pai me contou que você foi viajar. Saiba que pode confiar em mim!

— Obrigada, Carla.

Ian / online

— Isabele, como você foi viajar do nada e sem avisar?

— Questões de família, precisei visitar a minha mãe.

— A Carla me avisou... fiquei confuso e preocupado. Não demora, já estou com saudades!

— Eu também.

Bate-papo off.

Eu precisava desse momento de paz e da presença da minha família materna. Estava ansiosa para refletir e pensar sobre o futuro. Essa viagem não era apenas uma fuga da realidade; era um retorno ao colo materno que eu tanto sentia falta. Estar ao lado dela, mesmo que por breves dias, me trazia um consolo que há muito tempo não experimentava.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora