Capítulo 40: Consequências

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O relógio marcava cinco e meia quando eles chegaram, trazendo consigo uma onda de emoção que eu mal conseguia conter. Minha mãe, com os olhos marejados, correu para o Léo, envolvendo-o em um abraço que parecia um misto de saudade e alegria. Enquanto eu me aproximava, não pude evitar de também me deixar envolver pela magia daquele momento, sentindo o calor do amor familiar. Assim que as suas mãos tocaram a minha barriga, o bebê começou a se mover, como se também estivesse celebrando a vinda deles.

— Ah, meu Deus! — minha mãe exclamou, limpando as lágrimas que escorriam pelo rosto. — Estou tão feliz em ver vocês!

Léo, sempre com seu jeito descontraído, sorria. No entanto, a leveza do momento logo foi ofuscada por uma sombra de preocupação. Ele olhou para baixo, balançando a cabeça.

— O Ian teve alguns problemas e não conseguiu vir! — A voz dele se apagou, e eu senti um nó no estômago. O ressentimento borbulhou em mim, mas eu sabia que não era o momento para deixar isso transparecer.

Eles se dirigiram para a cozinha, onde o cheiro de lanches e café fresco invadia o ambiente. Enquanto isso, eu permanecia ali, mergulhada em uma profunda melancolia. O que deveria ser um momento de alegria tornava-se uma lembrança amarga de quem faltava.

— Léo, hoje temos uma festa para ir! — comentei, tentando resgatar a animação.

— Eu quero ficar em casa com a mamãe, grudados. — Ele olhou para ela, que concordou com um aceno de cabeça.

— Mas você pode ir, filha! Pode se divertir um pouco! — mamãe insistiu, e eu não pude deixar de sorrir para ela.

— Vou me arrumar. Se mudarem de ideia, eu espero vocês! — Eu me virei e subi as escadas rapidamente, a determinação se transformando em um misto de ansiedade e necessidade de escapar.

A Mirella não era exatamente a minha favorita, mas a noite prometia ser uma fuga do meu turbilhão emocional. Escolhi um vestido com detalhes que desenhavam meu corpo de forma sutil. Calcei um salto preto que, embora não muito alto, me fazia sentir poderosa. Ao me olhar no espelho, finalizei a maquiagem com um batom vermelho que refletia meu estado de espírito: ousada, mas ainda confusa. Enquanto me arrumava, meu celular não parava de tocar. Era o Ian, e a dor do desprezo que eu sentia me fez ignorá-lo de novo.

Quando finalmente desci, os elogios vieram como um bálsamo.

— Que arraso, cunhada! — Letícia me admirou com os olhos brilhando de entusiasmo.

— Está linda demais, filha! — Mamãe sorriu, e eu retribuí o olhar, embora uma parte de mim estivesse ainda perdida em pensamentos.

— Isso está me cheirando a vingança! — Léo soltou uma risada, e eu revirei os olhos.

— Por que eu me vingaria? Apenas estou indo me divertir! — Afirmei, caminhando em passos firmes em direção à porta.

— Volte cedo para casa! — Mamãe e Léo falaram juntos, suas vozes unidas em preocupação.

Mirella me aguardava do lado de fora, com um vestido que chamava a atenção e uma aura de confiança. Entrei em seu carro, um tanto ansiosa, mas determinada em deixar as preocupações para trás. Optei por deixar o meu celular desligado intencionalmente, mas logo a dúvida começou a me incomodar. E se algo acontecesse? Mas já estávamos longe, em uma estrada de terra cercada por matagal.

— Para onde estamos indo mesmo? — Perguntei, sentindo um leve tremor na voz.

— A festa é na casa do meu primo. Faz tempo que não venho aqui, por isso me perdi um pouco, mas já estamos chegando! — O sorriso dela não era muito convincente.

— Esse caminho é meio isolado... né? — engoli em seco, uma sensação de apreensão tomando conta de mim.

— Mas é tranquilo, o meu primo é gente boa. Ele mora numa chácara e lá é bem divertido! — Ela gargalhou, e eu forcei um sorriso. — Quer voltar para casa? — Perguntou, percebendo minha hesitação.

— Não, eu quero ir! — Respondi, tentando parecer firme.

— O seu namorado não acha ruim? — A provocação dela me fez revirar os olhos novamente.

— Não me importo. — Dei de ombros, mas uma sombra de dúvida passou pela minha mente.

A viagem se arrastou, mas finalmente chegamos à chácara, um lugar deserto e envolto em escuridão. O som da música pulsava ao longe, e Mirella fez uma ligação que resultou na abertura de um enorme portão. O homem que nos recebeu era alto, com braços tatuados e um sorriso que exalava carisma. Ele se apresentou como Richard.

— Como você se chama? — Ele se aproximou de mim, seus olhos brilhando com curiosidade.

— Isabele, e você deve ser o famoso Richard. — Respondi, tentando manter a compostura.

— Muito prazer! — O sorriso dele era cativante, mas eu me senti um pouco fora do lugar.

— Isa, você quer uma bebida sem álcool? — Mirella apareceu, entregando um copo cheio.

— Aceito, obrigada. — Respondi, afastando-me de Richard em busca de um pouco de espaço.

A festa estava animada, uma mesa repleta de doces e salgados atraía todos os convidados. Enquanto me divertia, tentando me soltar, Richard me observava de longe com um sorriso travesso nos lábios. Sua presença me deixava nervosa; eu não sabia se me sentia atraída ou apenas incomodada.

Então, de repente, o bebê começou a se mexer dentro de mim. Uma onda de lembranças e sentimentos me atingiu como um tsunami. Eu tinha uma família, uma vida à espera de mim, e a ideia de estar ali longe de tudo isso, fez meu coração pesar.

A procura por Mirella se tornou uma missão, mas quando a encontrei, ela estava dançando descontroladamente no meio da pista. Pedi o celular emprestado e liguei para a minha mãe, implorando que viesse me buscar. Sentada sozinha em um banco, me tremendo de frio e com os olhos cheios de lágrimas, a culpa me consumia.

Richard percebeu e se aproximou novamente, desta vez com um casaco para me cobrir e um prato de comidas da festa.

— Você precisa comer algo. — Ele disse suavemente, e eu fiquei surpresa com a sua gentileza.

— Obrigada, mas a minha mãe já deve estar chegando. — Respondi, o coração apertando ao pensar no que eu havia feito.

Ele assentiu, mas ficou ao meu lado, como se estivesse disposto a me proteger, mesmo que eu não merecesse. A espera se arrastou, mas finalmente, minha mãe chegou com o Léo. Eu me despedi rapidamente do pessoal e entrei no carro, o silêncio me envolvendo como uma manta pesada. A viagem de volta foi tortuosa, cheia de pensamentos turbulentos sobre como eu contaria tudo a Ian.

Ao chegar em casa, corri para o quarto. Arranquei o vestido apertado, os saltos, a maquiagem, e vesti o meu pijama confortável. Enquanto me deitava, as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu me odiava por ter agido por impulso, por não ter pensado nas consequências. E no fundo, sabia que, se Ian não tivesse se afastado de mim, eu não teria me perdido em uma noite de confusão. Mas não era só ele quem precisava de compreensão; eu também precisava. E enquanto me entregava ao choro, a realidade dos meus sentimentos se impunha, intensa e imutável.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora