Capítulo 36: Confortável Solidão

7.6K 358 5
                                    

Narrado por Isabele:

A verdade é que as palavras estavam entaladas dentro de mim, como uma tempestade prestes a se desencadear. Eu estava a um passo de abrir o meu coração para Ian, de compartilhar as ameaças que me perseguiam. Mas mesmo que eu voltasse para casa após esse tempo, o perigo ainda estaria à espreita, como um predador silencioso. O telefonema que tive com o Ian foi rápido, quase um sussurro, pois eu sabia que, se prolongasse, acabaria desabafando antes da hora. Nem mesmo minha mãe teria ideia do que se passava, e, se soubesse, não hesitaria em me manter longe do meu lar. Tudo que eu desejava era um momento de paz e felicidade, um sonho que parecia cada vez mais distante.

Enquanto a tarde se desenrolava, eu me afundava na confortável solidão da sala. Os cachorrinhos fofos aqui de casa se espalhavam pelo chão, os olhinhos brilhando em expectativa, enquanto ela estava ocupada no trabalho e só retornaria por volta das cinco. Aproveitei o silêncio para pegar meu celular e me conectar ao bate-papo. Enviei uma mensagem para o Ian, mas, como esperado, ele não respondeu. A vida seguia seu curso, e eu, entorpecida pela saudade.

Bate-papo on: Léo / online

— Léo!!! — digitei, meu coração pulsando de alegria ao ver seu nome na tela.

— Irmãzinha! Que saudade! — ele respondeu instantaneamente, a animação em suas palavras transparecendo mesmo pela tela.

— Também estou morrendo de saudade. Você poderia trazer a Letícia para a mamãe conhecer, né? — perguntei, imaginando a alegria em seus olhos.

— Hmm... Irei pensar nisso. Quem sabe não passamos um final de semana aí com vocês? — ele respondeu, com um toque de mistério.

— Será incrível! Precisamos de umas agitações nessa casa tão quieta.

— Pode deixar comigo! — As risadas em sua resposta me trouxeram um conforto familiar.

— Léo... você tem visto o Ian? — não pude evitar a pergunta, a inquietação se instalando em meu peito.

— Não, mas eu te aviso se souber de algo. — A promessa dele trouxe um alívio temporário.

— Obrigada!!

Pai / online

— Isa, volta para casa! Você já ficou tempo demais longe da gente. — A mensagem do meu pai surgiu como um lembrete da realidade.

— Em breve, não faz nem uma semana que estou aqui. — Minha resposta foi imediata, mas carregada de um leve protesto.

— Para mim, é bastante tempo. E se for preciso, eu mesmo vou te buscar! — A determinação dele me fez sorrir.

— Fica tranquilo, pai, eu disse que voltarei logo e vou cumprir. — Tentei acalmá-lo.

— Você não tem passado mal aí? — a preocupação era palpável em suas palavras.

— Um pouco, mas é normal durante a gestação. — Minha tentativa de tranquilizá-lo soou estranha até para mim.

— E não é nada grave?

— Não, até agora os sintomas que eu sinto são normais. — Respondi, tentando manter a serenidade.

— Se cuida, filha, eu não sei o que faria se acontecesse alguma coisa com você. — Ele era um pai protetor, e eu sentia isso em cada letra.

— Pode ficar sossegado, estou em boas mãos! — Tentei assegurar.

— Espero, pois eu viajo até aí e culpo eternamente a sua mãe. — O humor dele sempre tinha esse tom de indiretas.

— Mas acho que a única culpada aqui sou eu.

— É, isso é verdade. Vou sair aqui, filha!

Bate-papo off.

O cochilo da tarde me trouxe de volta à realidade, e quando abri os olhos, percebi que já era quase sete horas da noite. A minha mãe havia chegado em casa. Levantei-me rapidamente, com a bexiga pedindo socorro, e fui direto para o banheiro. Depois de um banho rápido, vesti um blusão confortável e arrumei o meu cabelo de modo despojado. O cheiro de bolo invadiu o ar, e o meu estômago roncou em antecipação. Desci as escadas e encontrei ela na cozinha, os aromas familiares me envolvendo como um abraço caloroso.

— Dormiu muito? — ela perguntou, com uma colher em mãos enquanto mexia uma de suas panelas.

— Até demais... O que está cozinhando de bom? — Eu mal podia esconder a empolgação.

— Uma comida leve e deliciosa. — Ela sorriu, e eu sabia que aquele sorriso era o prenúncio de algo especial.

— Hum... o cheiro está ótimo! — A expectativa me fazia vibrar.

— Ah, e eu também fiz bolo de chocolate! — A confirmação dela foi como uma sinfonia em meus ouvidos.

— Hoje eu conversei com o Léo, ele disse que iria pensar sobre passar o final de semana aqui com a gente. — Não pude deixar de compartilhar.

— Isso é ótimo! Fico feliz!! — A animação em seu rosto iluminou a cozinha, e por um momento, todas as sombras que me perseguiam pareceram dissipar.

Ainda havia um caminho árduo pela frente, mas naquele instante, entre risos e o cheiro de bolo, eu sentia que, talvez, a paz que tanto ansiava não estivesse tão distante assim.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora