Quando entrei em casa, a primeira coisa que notei foi o silêncio. Um silêncio desconfortável, quase palpável, que parecia preencher cada canto da casa. A luz da tarde filtrava-se através das cortinas, lançando um brilho suave sobre os móveis ainda em desordem, um lembrete silencioso da festa da noite anterior. Ao ver a garagem vazia, uma onda de preocupação me invadiu. Léo tinha desaparecido da festa tão rapidamente quanto chegou, sem um aviso ou uma explicação. Meu coração acelerou ao perceber que o seu carro não estava na garagem. O que será que meu pai pensaria disso? E, para piorar, eu estava com a ressaca de uma pessoa que, definitivamente, não aprendeu como beber com moderação.
— Como foi a festa? — Perguntou meu pai assim que adentrei a sala. Seu tom de voz era uma mistura de cansaço e expectativa, como se esperasse um relato de aventuras ou uma desculpa esfarrapada.
— Muito boa, tirando a parte em que passei mal. — respondi, tentando esconder a dor de cabeça que me fazia sentir como se estivesse caminhando sobre nuvens pesadas.
— Passou mal?! Por acaso você bebeu algo alcoólico? — A preocupação em seus olhos era palpável.
— Claro que não. Eu praticamente não comi e nem bebi nada ontem. — O desespero para manter uma mentira coerente era visível.
— E, cadê o seu irmão? — A pergunta soou mais como uma acusação.
— Não faço a menor ideia. — O desespero em minha voz era genuíno.
— Por que vocês dois nunca atendem o celular?
— O meu descarregou e, provavelmente, o do Léo também.
— Oh, céus! — Ele suspirou com frustração, respirando fundo como se tentasse manter a calma.
— Vocês não iam viajar hoje? — Perguntei, tentando mudar de assunto para algo menos tenso.
— Como iriei viajar com o seu irmão pelo mundo? Vocês não me dão sossego! — A exasperação em sua voz era clara, e eu sabia que ele estava longe de estar feliz com a situação.
— Então, o senhor poderia preparar um chá para mim? Eu não estou me sentindo muito bem... — A súplica era sincera, e eu mal conseguia manter os olhos abertos.
— Era só o que me faltava! O que você tem? — A frustração em sua voz misturava-se com um toque de preocupação genuína.
— Eu também não sei.
— Vamos ao médico!
— Não precisa. Irei descansar e logo estarei melhor. — Minha determinação em não ir ao médico era clara, mas meu corpo estava gritando por descanso.
Enquanto caminhava para o meu quarto, um alívio temporário tomou conta de mim quando retirei o salto, os acessórios e a maquiagem. Cada peça que eu tirava parecia aliviar um pouco do peso que sentia sobre os ombros. O chuveiro frio me recebeu como um abraço gelado, limpando não só o meu corpo, mas também um pouco da fraqueza que me consumia. A água escorria, levando consigo a sensação de estar derrotada.
Deitada na cama, envolvida no cobertor macio, esperei pelo chá milagroso que meu pai sempre preparava quando Léo e eu ficávamos doentes. O aroma do chá, misturado com o cheiro reconfortante dos biscoitos, finalmente trouxe algum conforto. Meu pai adentrou o quarto com uma bandeja e, ao me entregar o chá, perguntou novamente se eu queria ir ao hospital. Eu recusei, dizendo que apenas precisava de um bom descanso. Coloquei uma série para assistir enquanto bebia o chá e logo adormeci, caindo em um sono profundo e reparador.
(...)
Quando acordei, a confusão era total. Não sabia onde estava, que horas eram ou o que estava acontecendo ao meu redor. Em poucos segundos, no entanto, a realidade se impôs e a confusão deu lugar à clareza. A sensação de mal-estar havia diminuído significativamente; eu me sentia renovada após horas de sono.
O aroma delicioso do jantar se espalhava pela casa, e eu senti um brilho de alegria ao perceber que meu pai estava na cozinha, aparentemente de bom humor. Ao entrar, encontrei-o animado, com Léo ao seu lado, ambos envolvidos em uma conversa sobre a viagem. A visão de Léo, aparentemente bem e relaxado, foi um alívio para mim.
— Olha só quem acordou!! — Eles exclamaram em uníssono, a surpresa e a alegria em suas vozes fazendo-me rir.
— O jantar está na mesa! — Anunciou meu pai, apontando para a mesa repleta de comida caseira.
Finalmente, o meu apetite voltou e eu pude desfrutar o jantar, repetindo a porção já que estava desde a noite anterior sem comer adequadamente. Após o jantar, decidimos assistir a um filme na sala enquanto comíamos doces. Para evitar o enjoo que eu temia, tomei uma medicação apropriada, mas os efeitos colaterais foram rápidos fazendo-me adormecer no meio do filme.
Na manhã seguinte, acordei com uma sensação estranha e incomum, um desconforto que parecia girar dentro de mim. Levantei-me com dificuldade, sentindo a necessidade urgente de encontrar meu pai e pedir para ir ao médico. No entanto, ao chegar à sala, encontrei apenas uma carta sobre a mesa. A leitura do bilhete trouxe uma nova onda de confusão.
"Querida, Isabele Rosie...
Estamos a caminho do hotel fazenda, onde passaremos nossas férias por alguns dias. Caso você se interessar em se divertir com a gente, me ligue que irei te buscar. Só mais um detalhe... não pense que a senhorita ficará sozinha em casa. A Carla é uma grande amiga minha de trabalho, e eu pedi para que ela ficasse os próximos dias com você. Ela é uma pessoa incrível, então por favor, seja gentil. Se você ainda não estiver se sentindo bem, não hesite em procurar um médico.
Beijos, te amo!"
— Bom dia! — A saudação surpreendente veio de uma mulher alta, bonita e aparentemente jovem, que estava atrás de mim. A expressão dela era amigável, mas a surpresa de encontrá-la ali sem aviso prévio me deixou desconfortável.
— Você deve ser a Carla? — Perguntei, tentando mascarar o espanto na voz.
— Isso mesmo. É um prazer em conhecê-la, Isabele! — Respondeu ela com um sorriso acolhedor.
— Então... você será a minha babá pelos próximos dias? — Perguntei com uma pitada de ironia.
— Eu diria que não, posso ser apenas uma companhia. — Disse ela, rindo suavemente.
— Ah sim... o meu pai nunca me falou sobre você. — Comentei, tentando disfarçar a frustração.
— Pode ficar tranquila, teremos muito pela frente para nos conhecermos melhor!
— Tem razão. — Digo, forçando um sorriso antes de sair dali, deixando o desconforto da situação para trás.
A ideia de acordar com uma estranha em casa não era a mais reconfortante. Embora a Carla parecesse gentil e sua voz fosse suave, a ausência de informações prévias sobre sua presença deixou-me inquieta. O pensamento sobre ter uma desconhecida como companhia durante os próximos dias parecia estranho e desconcertante. O que parecia uma medida de segurança, poderia também se revelar um desafio inesperado. Mas eu espero que, com o tempo, pudesse me acostumar com essa nova realidade e, quem sabe, descobrir mais sobre essa misteriosa nova presença em minha vida.
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De Repente Grávida
Roman pour Adolescents+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...