Capítulo 25: O Amor e a Dor

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O meu corpo paralisou, como se o tempo tivesse congelado ao ver o Ian se aproximar em passos lentos. O coração batia descompassado, e o frio na barriga crescia a cada passo dele. Mesmo sabendo que ele não merecia essa resposta do meu corpo, uma parte de mim ainda se recusava a esquecer o amor que sentia. Era difícil admitir, mas eu ainda o amava. E agora, diante dele, me vi sem reação, desejando que a terra se abrisse e me engolisse.

Os olhos dele, sem luz, estavam fixos nos meus, carregados de uma seriedade que eu não sabia interpretar. Ele cumprimentou educadamente o meu pai e a Carla, mas quando chegou a minha vez, eu desviei o olhar.

— Já pode ir embora, Ian. Você não é mais bem-vindo na minha família! — A arrogância em minha voz surpreendeu até a mim mesma, não conseguia me conter.

— Nós ainda não tivemos a chance de conversar. Preciso te explicar o que de fato aconteceu! — ele insistiu, mas eu não queria ouvir.

— Não quero te escutar.

— Rapaz, você pode se retirar? A Isa está passando por um momento delicado na gravidez e não pode se estressar! — disse meu pai, seu tom firme fez o Ian acenar e sair.

Enquanto o via se afastar, um turbilhão de pensamentos tomou conta de mim. Por que ele teve que aparecer exatamente nesta pizzaria? O destino parecia brincar comigo. O cheiro dele ainda pairava no ar, como um eco de momentos passados que eu tentava esquecer. 

Quando a pizza chegou, o apetite havia evaporado, mas forcei engolir alguns pedaços mais pelo bebê do que por mim. A sensação de que a criança poderia sentir a falta do pai apertava meu peito, uma dor silenciosa e profunda.

— Carla, me acompanha até o banheiro? Esse bebê está apertando a minha bexiga! — Acariciei a minha barriga involuntariamente, percebendo que Ian me observava a distância. Nossos olhares se encontraram, mas eu desviei rapidamente.

No banheiro, a atmosfera estava carregada de tensão.

— Isa, você precisa conversar com ele. — Carla insistiu, enquanto lavava as mãos.

— Não há mais nada a ser dito.

— Na verdade, há sim. Você não pode julgar sem ouvir o lado dele. Ele é o pai dessa criança, e se vocês não conversarem, isso só vai piorar.

— Tudo bem... amanhã tenho uma consulta médica. Devo chamá-lo para ir comigo? — a ideia me fez hesitar. Eu queria que ele fizesse parte, mesmo que não fosse por nós, mas pelo nosso filho.

— Com certeza! Ele vai ficar feliz, e você também. Isso pode ser bom para o bebê.

Assim que saímos do banheiro, avistamos o Ian se aproximando novamente. A Carla me lançou um olhar firme antes de se afastar, e, por um momento, pensei em não seguir seu conselho e ir embora. Mas, havia algo irresistível em ficar. Como se estivéssemos presos em um loop do passado, o mesmo lugar onde tudo começou.

— Podemos conversar? Por favor... uma última conversa! — Seu semblante estava sério, e eu sentia meu coração acelerar. Ele deu um passo à frente, mas eu recuei involuntariamente.

— Tudo bem, podemos conversar ali fora! — Decidi, saindo na frente. — Amanhã é a ultrassonografia do bebê, se você quiser ir...

— Quer mesmo que eu vá? — Seu tom era hesitante, mas havia esperança nos olhos dele.

— Não por nós, mas pelo nosso filho.

— Então, você admite que é um menino? — Ele riu, quebrando um pouco a tensão.

— Não tenho certeza. — Revirei os olhos. 

— Isa... deixe-me falar agora sobre o que aconteceu? — Ele se inclinou, olhando nos meus olhos. Assenti, tentando manter a calma. — Tudo aquilo que foi te enviado por e-mail foi armado por uma pessoa com más intenções, que não aceitou o nosso relacionamento desde o início, uma ex namorada minha. Aquelas conversas e fotos são antigas e posso provar. Foi antes de te conhecer. Quando ela soube que eu seria pai, planejou tudo para acabar com a gente... e conseguiu.

Suas palavras me deixaram em silêncio, uma nuvem de dúvidas e inseguranças se formou dentro de mim. Eu o havia ignorado durante semanas, e agora, mesmo com o amor ainda pulsando em meu coração, a confiança estava despedaçada.

Com o meu silêncio confuso, Ian começou a se aproximar lentamente. Eu queria recuar, mas algo me impedia. O momento se tornava intenso, e em um impulso, deixei que ele selasse nossos lábios. O calor do seu toque, o perfume que eu ainda reconhecia, tudo me envolveu como um abraço familiar. Era difícil admitir, mas eu ainda o amava profundamente.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora