Capítulo 14: O Eco do Destino

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As palavras ressoavam em minha mente como um eco interminável, uma canção de assombração que não me deixava em paz. Era como se, de repente, um mundo inteiro se desmoronasse em cima de mim, e eu, apenas uma garota de 17 anos, me via empurrada para a realidade de uma maternidade que nunca imaginei. O desespero se entrelaçava com a dúvida: minha família me deserdaria? Meus amigos se afastariam? E o Ian, o que ele faria?

"Por favor, que tudo isso não passe de um pesadelo", implorei em silêncio, desejando acordar em minha cama, prestes a iniciar a faculdade, livre das correntes que agora me prendiam.

Eu tentava manter a expressão neutra, mas a verdade é que o meu rosto pálido era um espelho das tempestades internas. Sentia os olhares das pessoas ao meu redor, carregados de julgamento e desconfiança, embora nem soubessem o que estava acontecendo. As lágrimas se acumulavam, prontas para explodir, mas eu as segurei com todas as forças até chegar em casa. Eu só queria desabar, gritar e chorar como se o amanhã não existisse.

Ao me aproximar de Carla e Ian, vi o medo estampado em seus rostos. Aquela expressão me atingiu como uma facada, e a culpa se instalou ainda mais fundo em meu coração. Era uma cena que eu temia: não conseguiria esconder essa verdade deles por muito mais tempo.

— O que aconteceu? — Ian perguntou, com sua voz carregada de preocupação. Ele se aproximou, os olhos fixos nos meus, como se pudesse ler minha alma.

— É uma intoxicação alimentar. — menti, a voz embargada, quase como se um fio de esperança escapasse com as palavras. Queria gritar, mas a contenção era tudo o que restava.

— Eu avisei, você precisa parar de comer tanto! — Ian riu, tentando quebrar a tensão, mas não consegui sorrir de volta. O mesmo se inclinou e selou nossos lábios em um gesto de carinho, mas isso só aumentou o peso sobre mim.

— Intoxicação?! — A incredulidade na voz de Carla me atingiu como um soco. O olhar que ela me lançava era de desconfiança, quase como se soubesse que eu não falava a verdade. Meu coração se despedaçou.

— Sim... podemos ir embora? — A firmeza da minha voz surpreendeu até a mim mesma. Eu precisava ser forte.

O caminho de volta para casa foi um silêncio pesado. Os três em um carro, mas cada um em seu próprio mundo. A vontade de gritar e quebrar tudo ao meu redor se intensificava a cada quilômetro. A vergonha e a raiva eram como chamas dentro de mim, consumindo tudo.

Quando o Ian estacionou o carro na garagem, eu soube que precisava de um tempo sozinha. Queria me trancar em meu quarto, longe deles, mergulhar na reflexão e entender o que tinha acontecido. Eles precisavam entender, mesmo sem saber a profundidade da minha dor.

— Desculpem, mas eu preciso ficar sozinha hoje! — declarei, olhando para eles, cujos rostos mostravam surpresa. — Carla, você se importaria de voltar mais cedo para casa?

— Claro, sem problemas. Qualquer coisa, me liga! — ela respondeu, a compreensão brilhando em seus olhos. Agradeci mentalmente por isso.

— Gostaria que eu fosse embora também, Isa? — Ian se aproximou, seu olhar preocupado me fazia querer ceder, mas recuei.

— Estou um pouco cansada. Preciso de um tempo só para mim.

— Eu posso ficar você. — Ele insistiu, mas a proximidade dele me apertava o peito.

— Não, eu não quero. — disse, a impaciência me dominava. Não era a intenção, mas a pressão era demais, e a vulnerabilidade me fazia querer me esconder.

— Está tudo bem com você, né? — Ian parecia hesitante, como se estivesse tentando enxergar além da minha fachada.

— Por favor, Ian... — Os olhos ardiam, e o nó na garganta ameaçava se desfazer. Se ele não fosse embora agora, eu não seguraria as lágrimas por mais tempo.

— Qualquer coisa me chama! — Ele respondeu, meio sem jeito, antes de entrar em seu carro.

Não me despedi. Apenas entrei em casa, trancando a porta e todas as janelas, como se isso pudesse me proteger do mundo lá fora. Segurei em minhas mãos o resultado do exame, cada palavra digitalizada era um golpe, uma realidade implacável. As lágrimas escorriam, quentes e dolorosas, e eu desejava poder acreditar que tudo não passava de uma ilusão.

As horas se arrastaram. Já era noite quando me encontrei deitada no chão da sala, encarando o vazio. A minha cabeça latejava com pensamentos aterradores. Meu celular apitava com chamadas perdidas da Bianca e do meu pai, mas não tinha forças para responder. A ideia de compartilhar essa dor era insuportável.

Bate-papo on: Pai / offline.

— Filha, comprei a sua passagem para o final de semana. Serão apenas dois dias, nem mais, nem menos, mesmo que sua mãe implore.

— Obrigada, pai.

Bianca / online

— Isa, você está em casa agora? Como foi a consulta?

— Ocorreu tudo certo, não era nada preocupante.

— Precisa de companhia? Ou o Ian passará a noite com você?

— Ele já está aqui comigo. Obrigada, Bia!

Bate-papo off.

Arremessei o celular para longe e, finalmente, consegui me levantar do chão frio. Ao menos uma notícia boa para encerrar o dia: consegui convencer o meu pai a me deixar visitar a minha mãe. Pressentia que o abraço dela seria fundamental nesse momento.

Comecei a procurar a minha mala de viagem, que encontrei esquecida em um canto do armário. De maneira apressada, joguei roupas e itens essenciais, preparando-me para a viagem de dois dias. O voo estava marcado para a manhã seguinte. Talvez essa escapada fosse a pausa que eu precisava, um sopro de ar fresco em meio ao caos que ameaçava me consumir. Uma viagem que chegou no momento certo, ou talvez, no momento mais necessário de todos.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora