Capítulo 43: O Pesadelo

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Após a partida de Mirella, uma sensação de vazio pairava no ar. A mesa, ainda repleta de pratos e restos do jantar, precisava de cuidados, e eu me dispus a ajudar a minha mãe, mesmo sem ânimo. O enjoo persistia, um resquício do vômito que havia tomado conta de mim antes da refeição. Como os remédios estavam fora de cogitação, preparei um chá que chamava de milagroso, na esperança de que ele me trouxesse algum alívio antes do descanso.

— Mãe, você conseguiu comprar a passagem? — perguntei, fixando meu olhar nela.

— Consegui! O seu voo está marcado para às nove horas da manhã. — Ela respondeu, com um sorriso que me deu um pouco mais de ânimo.

— Ótimo! Depois, você pode me ajudar a arrumar as malas? — lancei a pergunta, e meu celular vibrou, interrompendo a conversa. Corri até ele e, ao ver o nome de Ian na tela, o sorriso brotou em meus lábios.

Ligação on:

— Isa, finalmente consegui te ligar! Alguma novidade? — a familiaridade da sua voz fez meu peito aquecer, e eu ri.

— Teria como me buscar amanhã no aeroporto? — a pergunta escapuliu antes que eu pudesse me conter, a ansiedade saltou na minha voz.

— O quê?!! — a surpresa era evidente, e eu podia imaginar o seu olhar atônito.

— Chegarei por volta das onze horas da manhã. Você poderia me buscar? — minha expectativa crescia.

— Claro!! Óbvio! Mas... é sério mesmo? — ele parecia não acreditar.

— Sim, Ian, é sério! — minha voz era firme, apesar da ansiedade.

— Com certeza estarei lá, feliz da vida te esperando! — a empolgação era palpável.

— Ainda preciso arrumar duas malas enormes. — retorqui, sabendo que o tempo era curto.

— Tenha cuidado no aeroporto, boa viagem! Estarei te aguardando! — sua voz suavizou.

— Obrigada, Ian! Até mais! — me despedi.

Ligação Off.

Desliguei o telefone e segui para o meu quarto, onde minha mãe organizava as roupas. Uma nuvem de tensão pairava entre mim e Ian; parecia que cada palavra trocada poderia acirrar nossas brigas. Mas a esperança de nos acertarmos amanhã me dava força.

Terminamos de arrumar as malas já passava da meia-noite. Pedi à minha mãe que descansasse, queria terminar sozinha. Separei uma roupa para a manhã seguinte e, ao me deitar, o cansaço foi ofuscado por um pesadelo avassalador. Sonhei que estava em trabalho de parto, um mar de sangue escorria pelas minhas pernas. A dor era insuportável, e a solidão se tornava opressiva, gritando por ajuda em um espaço escuro e claustrofóbico. Despertei, com o coração na garganta, a respiração descompassada, e vi minha mãe ao meu lado, me sacudindo.

— Calma, querida! O que aconteceu? — ela me abraçou, e o cheiro do seu perfume me trouxe um pouco de paz.

Levantei em um sobressalto e corri ao banheiro, buscando qualquer sinal do pesadelo, mas nada. Um alívio quase doloroso me inundou, enquanto a realidade se impunha. Um banho frio se tornou um ritual de cura, as águas me abraçavam, trazendo clareza e um fio de serenidade. Com o cabelo seco e um jeans confortável, desci para o café da manhã.

— Bom dia, filha! Você parece preocupada. Aconteceu alguma coisa? — mamãe perguntou, puxando a cadeira com gentileza.

— Tive um pesadelo horrível. Que horas são? — minha voz ainda tremia.

— Está quase no horário, precisamos sair logo! Toma seu café enquanto eu coloco as malas no carro. — Ela foi rápida e eficiente.

— Tudo bem! — Assenti, pegando uma xícara e uma fruta para comer.

Com o café acabado, busquei a minha bolsa e o celular que havia deixado na cama. Mamãe já me esperava no carro, impaciente com atrasos. A porta da casa foi trancada e, em poucos minutos, chegamos ao aeroporto. O ar estava carregado de emoção e expectativa.

— Vou indo, Isa. Me liga quando chegar! — disse ela, me abraçando com força, e meu olhar se encheu de lágrimas.

— Promete que irá visitar o bebê quando nascer? — a pergunta saiu quase como um sussurro.

— Prometo, filha. — Seu sorriso era um farol de esperança. — Você também precisa prometer que vai se cuidar lá!

— Com certeza, é o que eu mais quero. — Sorrimos juntas, um momento de união antes do caos. O anúncio do meu voo ecoou pelo saguão e, após um último abraço, caminhei apressada até a sala de embarque, ansiosa para reviver o calor familiar que me aguardava na cidade natal.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora