Despertei com o sol filtrando pelos pequenos espaços da cortina, e uma leve náusea tomou conta de mim. Fechei os olhos por um momento, esperando que a sensação passasse, e, assim que o fiz, uma onda de alívio me envolveu. O Ian dormia ao meu lado, com a expressão serena de um anjo, e eu hesitei em acordá-lo. Em vez disso, decidi aproveitar a quietude da manhã para me refrescar. Um banho rápido bastou para que a água gelada me revigorasse, mas a fome logo me fez sair apressadamente em direção à cozinha.
Na sala, encontrei Iago sentado à mesa, saboreando o seu café da manhã. A chaleira apitava e, sem pensar duas vezes, preparei uma xícara de chá.
— Bom dia, família do meu coração! — Ian apareceu como um raio de sol, depositando um beijo suave em minha testa antes de se acomodar à mesa. Seus olhos, cheios de preocupação, se fixaram em mim. — Você está bem, princesa?
— Estive mal ao acordar, mas logo me recuperei! — respondi, forçando um sorriso.
Iago, sempre bem-humorado, decidiu quebrar a tensão.
— Irmão, você não faz ideia de quem passou a festa inteira nos bisbilhotando do lado de fora. — comentou, maliciosamente.
— Quem?! — Ian exigiu, com um olhar curioso.
— A Duda. — Iago revelou, e eu engoli em seco, observando a expressão surpresa de Ian.
— O que ela queria? — perguntou, franzindo a testa.
— Não faço ideia, mas ela parecia estar planejando algo. — Iago riu, a despreocupação evidente na sua voz.
— Mudando o assunto, eu já comprei as nossas passagens, Isa! — Ian me fitou com uma expressão esperançosa, deixando-me confusa.
— Passagens?! — gaguejei, tentando entender.
— Iremos passar esse final de semana na praia! — ele sorriu, e meu coração afundou.
— Ah... Claro! — sorri, mas dentro de mim, um turbilhão de sentimentos me consumia. Eu desejava viajar com ele, mas sabia que não podia adiar o retorno para a casa da minha mãe. — Eu preciso ir embora. Você poderia me levar? — levantei-me abruptamente.
Ian assentiu, mas seu olhar denotava preocupação.
— Até logo, Iago... Sentirei saudades! — abracei-o, percebendo a estranheza no ar, mas não me importei.
Esperei enquanto o Ian se arrumava, aproveitando para responder mensagens de amigos que perguntavam sobre meu desaparecimento. Quando finalmente saímos, a atmosfera no carro era carregada. O perfume de Ian envolvia o espaço, seu aroma era como um bálsamo, mas a tensão em meu corpo era palpável, quase sufocante. A gestação me tornou um ser sensível, sentia uma vontade incontrolável de chorar.
— Você disse que passou mal hoje cedo, o que aconteceu? — Ian perguntou, sua voz calma contrastando com meu turbilhão interno.
— Sintomas normais da gravidez. — respondi, tentando manter a serenidade.
— Se sente melhor desde a última consulta?
— Sim, incomparável. — suspirei, buscando encontrar um pouco de leveza na conversa.
— A nossa viagem será inesquecível, Isa! — ele disse, com um sorriso tão radiante que eu não queria desmanchar.
Decidi não arruinar aquele momento, mantendo meus receios para mim. Sabia que mais tarde eu precisaria partir, e deixar Ian sem aviso prévio parecia cada vez mais doloroso. A ideia de esconder a minha partida de todos, especialmente dele, me deixava angustiada.
Quando chegamos na porta de casa, os minutos pareceram se arrastar. Com um misto de amor e despedida, sussurrei "te amo" pela primeira vez. Ele ficou surpreso, seus olhos brilhando de alegria e confusão, e eu me afastei rapidamente, antes que as lágrimas começassem a escorregar pelo meu rosto. Tentei me convencer de que dois meses passariam voando e que tudo será pelo bem do nosso bebê.
Entrei em casa e logo me deparei com meu pai e Léo. Cumprimentei-os com um sorriso nervoso e me dirigi ao quarto. Tranquei a porta e tirei a mala enorme que havia comprado recentemente. Comecei a organizá-la, colocando roupas e calçados, enquanto recordava a boa coleção que minha mãe tinha. O tempo passou rápido e logo consegui arrumar tudo, mesmo com a indecisão me consumindo.
Depois do almoço, que foi surpreendentemente divertido, onde recordamos a social da noite anterior e rimos das peripécias de alguns conhecidos, a atmosfera de aconchego foi como um sopro de nostalgia. Contudo, a tarde trouxe um silêncio. Léo se trancou no quarto com seu videogame, e meu pai dormia profundamente. Era a oportunidade perfeita.
Com a mala em mãos, desci as escadas com cuidado. O táxi que pedi já me aguardava na porta. Meu coração batia forte, uma mistura de ansiedade e determinação preenchia meu peito. Enquanto o carro seguia para o aeroporto, decidi ligar para minha mãe.
Ligação on:
— Alô?! Isabele?!
— Mãe... Eu decidi que o melhor lugar para a minha recuperação é ao seu lado, longe de todos os problemas que venho enfrentando. — disse, sentindo um alívio misturado à tristeza.
— Que bom, filha! Estou muito feliz com essa decisão. Vai ser ótimo passarmos esse tempo juntas. Me avisa quando estiver chegando!
— Pode deixar.
— E o que seu pai achou? E o Ian?
— Eles... ainda não sabem. — respondi, deitando minha cabeça contra a janela do carro, imaginando a expressão deles.
— Como assim, Isabele? Eles não vão ficar felizes com isso!
— Eu sei que não, mas eu precisava. Ficarei só até a minha próxima consulta. Quero que o Ian acompanhe a gestação, indo ao médico comigo, escolhendo o enxoval, decidindo o nome... Ele ficaria muito magoado se não estivesse presente.
— Concordo plenamente. É justo que o pai do bebê esteja por perto.
— Obrigada, mãe. Eu sabia que podia contar com você sempre! Estou quase chegando ao aeroporto, preciso desligar.
— Estarei aqui, ansiosa por você. Boa viagem, filha!
Ligação off.
Desliguei a chamada com o coração apertado, mas ciente de que fiz a escolha certa. O caminho ainda seria longo, mas eu estava disposta a enfrentar tudo por amor e proteção ao nosso bebê.
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De Repente Grávida
Ficção Adolescente+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...