As horas passaram lentamente até que, à noite, o Léo chegou em casa de uma forma que eu nunca poderia imaginar. O coração afundou em mim ao vê-lo; ele estava completamente drogado e agressivo. A Bianca reconheceu o cheiro antes mesmo de eu perceber a gravidade da situação. Era confuso, o Léo sempre foi contra essas coisas. Conheço o meu irmão melhor do que ninguém e tinha certeza de que alguém o influenciara ou até o forçara a isso. Era como se um pesadelo tivesse se tornado realidade.
O meu pai chegou do mercado e a tensão no ar era palpável. A discussão começou quase instantaneamente, e logo ele e o Léo estavam trocando ofensas. Eu não queria me envolver naquela briga, mas a angústia crescia dentro de mim. A Bianca, percebendo o meu desespero, tentou me acalmar com água e açúcar, mas eu mal conseguia respirar. O olhar de meu pai, tomado pela raiva e preocupação, era algo que eu nunca tinha visto antes.
Finalmente, o Léo se trancou no banheiro e ligou o chuveiro. Senti um pequeno alívio ao saber que ele estava no banho, tentando esfriar a mente. O que teria acontecido para ele ter tomado essa decisão tão insensata? Precisava esperar até amanhã para conversar com ele e entender a fundo essa situação.
— Filha, pode ir para o quarto dormir com a Bianca. Já está tarde! — meu pai disse, seu olhar cansado e preocupado. — Ficarei aqui na sala de olho no seu irmão. A Carla está vindo, não estou aguentando mais isso.
— Por favor, pense bem no que vai fazer com o Léo. — pedi, a voz trêmula.
— Farei o que for necessário! Não sabemos desde quando ele começou a usar essas porcarias. — Ele chorou, e não consegui conter a emoção. Corri para abraçá-lo. — Nem que eu precise interná-lo em uma clínica, mas não vou aceitar isso de um filho meu, jamais! Eu dei liberdade e confiança a vocês, e é assim que ele me retribui?
— Amanhã eu tentarei conversar com ele. — digo, tentando passar um pouco de conforto antes de ir para o meu quarto.
(...)
Despertei cedo no dia seguinte, a noite anterior tinha sido um tormento. Levantei-me cansada e fui preparar o café da manhã, já que não havia ninguém em casa. A Bia ainda dormia profundamente, e ela mais do que eu precisava descansar depois de tudo que havia passado com o Marcelo. Preparei o café, frutas e cereais, e, ao me sentar no sofá, fiquei pensando em como poderia iniciar uma conversa com o Léo sem parecer invasiva.
— Posso entrar? — perguntei, batendo na porta do seu quarto.
— Já entrou. — ele respondeu, revirando os olhos, mas logo se distraiu com o celular.
— Léo... Você pode me contar o que aconteceu ontem? — perguntei, buscando sua atenção.
— Não, agora me deixa em paz! — Ele me encarou com desdém.
— Mas eu...
— Qual é, Isa? Você me entende como ninguém.
— Me deixa te ajudar? — implorei, esperando que ele visse meu desejo genuíno de ajudar.
— Para de tentar se intrometer em todos os problemas! — Gritou, a frustração em sua voz me cortou.
— Léo... — Eu sentia os olhos arderem, mas ele fechou a porta na minha cara.
Desde pequenos, sempre senti uma responsabilidade maior por ele, mesmo sendo da mesma idade. Léo era o mais rebelde, sempre se metendo em encrencas, e vê-lo assim me deixava ainda mais culpada. Eu só queria proteger quem amava. Quando a família sofre, todos sofrem juntos. O que estava acontecendo com ele? Por que estava fazendo isso conosco?
Deixei o quarto de Léo com lágrimas escorrendo pelo rosto. Meu peito ardia, e a cabeça latejava. Ouvi a porta se fechando e passos se aproximando. Era a Bianca, e eu pedi um abraço. Ela assentiu, envolvendo-me em seus braços.
— Tentou falar com ele? — perguntou, percebendo meu estado.
— Tentei. — confirmei, sentindo o peso das palavras. — Fiz café da manhã, aproveita que ainda está quentinho. — Pedi, e ela foi para a cozinha se alimentar.
Naquele momento, a falta de Ian apertou o meu coração. Eu precisava ouvir sua voz, suas palavras de consolo. Peguei o celular e entrei na conversa com ele, que estava online.
Bate-papo on: Ian / online
— Ian, preciso conversar pessoalmente com você.
— O que houve?
— Quando puder, aparece aqui em casa.
— Pode ser à noite? Estou meio enrolado no trabalho.
— Claro!
Carla / online
— Como o seu irmão está? Passei a noite em claro esperando o seu pai dormir porque ele tinha que trabalhar cedo.
— Creio que esteja bem, não saiu do quarto e não quis conversar comigo.
— Conversou com ele?
— Tentei, mas ele literalmente fechou a porta na minha cara.
— Hoje vamos fazer um passeio em família! Sim, com todo mundo. Eu sei que Léo não negaria nada para mim.
— Mas para onde vamos?
— Fazer compras de Natal!!
— É sério isso?
— Seríssimo! Daqui a pouco chego aí com comida pronta e iremos depois do almoço. Já mandei mensagem para o Léo se arrumar, porque ele vai, nem que seja arrastado!
— Você é demais, Carlinha!
Bate-papo off.
Não me canso de dizer que a Carla era um verdadeiro presente em nossas vidas. Sempre encontrando soluções para os nossos problemas, eu era eternamente grata a ela, que me ajudou desde o início da gravidez. Ela me contou que sempre se sentiu sozinha, desde que saiu da casa dos pais em uma cidade pequena. Para ela, nós éramos a segunda família, e ela faria qualquer coisa por nós.
Convidei a Bia para ir com a gente, mas ela recusou, dizendo que precisava visitar seus pais. Entrei no meu closet e escolhi um vestido longo com estampa florida e uma rasteirinha simples. Após um banho demorado e lavar o cabelo, estava pronta, sentindo um cheiro delicioso de comida.
Ao chegar na cozinha, avistei Carla e Léo almoçando juntos. Para a minha surpresa, ele estava arrumado e parecia disposto a ir conosco. Infelizmente, o meu pai não estava em casa para almoçar, mas pensei que apenas nós três fazendo compras já poderia ser um bom jeito de distrair a mente e nos aproximar. O clima de tensão ainda pairava no ar, mas eu esperava que esse dia nos trouxesse um pouco de esperança.
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De Repente Grávida
Ficção Adolescente+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...