Capítulo 37: Sombras do Passado

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Narrado por Ian:

Respirei fundo o ar fresco do dia, antes de me dirigir em passos pesados até a figura de Duda, encostada na parede. O sorriso dela era desproporcional à situação, um sorriso aberto, quase alegre, que destacava seus dentes brancos como se celebrasse algo que eu não conseguia entender. Seu comportamento era um enigma para mim.

Eu a encarei, tentando ignorar o turbilhão de emoções que ela despertava. Quando Duda se aproximou para me cumprimentar, desviei o rosto, um movimento automático que deixava claro meu desagrado. Eu detestava essa familiaridade que ela insistia em manter. Fomos namorados um dia, mas não consegui suportar por muito tempo. A relação virou um pesadelo, e agora, enquanto ela me olhava com uma expectativa desesperada, eu só conseguia pensar em como estava aliviado por ter seguido em frente.

— O que você quer? — Perguntei, a arrogância escorrendo pela minha voz.

— Eu quero você, Ian. — O sorriso dela se tornou irônico, como se soubesse que cada palavra me irritava.

— Isso é um problema seu! — Respondi, a frustração crescendo dentro de mim.

— Me escuta, por favor... — Insistiu, a vulnerabilidade em sua voz fazendo minha determinação balançar um pouco.

— Você arruinou a minha vida e não merece atenção! — Eu a interrompi, o sentimento negativo ainda ardendo como uma cicatriz aberta.

— Acorda, Ian! O que aquela garota é para você? Nada! — Gesticulou, sua voz elevada. — Ela não passa de uma mimada mal-educada que vive te tratando mal. Você só está usando ela e vai jogar fora quando enjoar, eu te conheço. Sempre correu atrás de novidades, mas eu nunca me importei. Aceitava tudo porque te amo!

— Fale dela de novo e você vai se arrepender! — Alterei o tom da minha voz, as palavras saindo como um rosnado.

— Ela vai descobrir quem é você de verdade, Ian, quem você é por trás dessa máscara de bom moço.

— Some da minha vista e não apareça de novo! — Minha paciência se esgotava.

Duda hesitou por um momento, sua expressão mudando de raiva para algo que eu não conseguia identificar. Ela deu um passo para trás, os olhos cheios de lágrimas, e disse:

— O que eu sinto por você não vai mudar. Já fiz de tudo por nós, e não vou desistir tão fácil.

As palavras dela ecoaram na minha mente enquanto se afastava, seus passos ecoando na calçada fria. Eu me senti dividido entre a raiva e a tristeza. Duda sempre foi uma sombra na minha vida, e agora, com um futuro pela frente, não sabia como me livrar dela de uma vez por todas. Uma onda de alívio e inquietação me envolveu. Sabia que precisava seguir em frente, mas as sombras do passado pareciam não querer me deixar em paz.

(...)

Narrado por Isabele:

Após um jantar acolhedor com a minha mãe, encontramos conforto na sala, onde o aroma do bolo recém-assado ainda pairava no ar. Ríamos sobre os últimos acontecimentos da novela, enquanto eu, com o coração acelerado, não conseguia deixar de olhar para o meu celular. A ansiedade crescia a cada instante sem uma mensagem de Ian. Teria eu falado demais na nossa conversa mais cedo? A pressão de guardar meus sentimentos estava me consumindo.

Com a noite já adentrando, vesti um pijama quentinho e fiz minhas higienes rapidamente. Logo depois, me joguei na cama, tentando me distrair enquanto aguardava a tão esperada ligação de Ian. Ele havia prometido que falaria comigo. O tique-taque do relógio parecia uma tortura, então liguei a TV para assistir a uma série, devorando um pote de sorvete. Foi quando o som de uma notificação cortou o silêncio. Meu coração disparou enquanto eu corria para pegar o celular. A alegria logo se transformou em pânico ao ver que era uma mensagem de um número desconhecido.

"Nem imagina o quanto Ian e eu estamos nos divertindo aqui, somente nós dois e mais ninguém para atrapalhar. Você fez um ótimo favor de sair da cidade, nem precisei me preocupar ou sujar as minhas mãos para acabar com você. Espero que continue aí para o seu próprio bem e dessa coisa dentro da sua barriga. O Ian está muito bem e feliz sem você, Isabele. Você destrói a vida das pessoas, e ele mudou muito por sua culpa. Eu quero o meu antigo Ian de volta! — Duda"

O que?! O Ian passou a tarde com essa inconsequente? A indignação borbulhou dentro de mim, e a raiva rapidamente se transformou em uma sensação sufocante. Não podia acreditar que Duda tentava jogar com a minha mente de novo. Isso era exatamente o que ela queria: destruir tudo de bom que eu tinha na vida. Fui tomada por uma onda de revolta, com os punhos cerrados, mas sabia que não podia deixar isso afetar o meu bebê.

Bloqueei aquele número, determinada a não me deixar mais atormentar. Mas, ainda assim, sentia minhas mãos trêmulas, a vontade de capturar a mensagem e mostrar a alguém, de liberar toda a frustração acumulada. E então, meu celular tocou novamente, me fazendo saltar. Respirei fundo, com meus olhos já marejados antes de verificar quem era. Um alívio imenso me invadiu ao ver que era apenas Ian.

Ligação on:

— Ian... você disse que ia me ligar. — minha voz falhou, revelando a emoção contida.

— Desculpe por não ligar mais cedo, estive ocupado. — respondeu, a preocupação evidente.

— Ocupado? Com o quê?

— O que houve? Por que você está chorando? — Ele soou alarmado, e eu me calei, deixando as lágrimas falarem por mim.

— Ian... eu... só queria saber com quem você passou a tarde de hoje.

— Estive só resolvendo algumas questões pessoais e de trabalho.

— Tudo bem, eu confio em você. — respirei fundo, tentando acalmar o tumulto dentro de mim.

— Eu sei que confia. Agora, me conta o que aconteceu?

— Tive um pesadelo horrível! — menti, sabendo que não poderia sobrecarregá-lo com a minha insegurança.

— Fique calma pelo bebê! Respira fundo, estou aqui com você agora. Quando quiser voltar, me avisa que irei te buscar.

— Eu só gostaria que você pudesse se abrir mais comigo, contar segredos sobre o seu passado. Acho justo, já que eu compartilho tudo sobre a minha vida.

— Tá bom, o que você quer saber? Como eu era na escola?

— Um péssimo aluno?

— Um pouco complicado, dei trabalho aos meus pais.

— Me conta o que você fazia na juventude?! — Indaguei.

— Promete que, depois que eu te contar uma parte, podemos desligar? Não quero atrapalhar sua noite de sono.

— Prometo.

— Então, eu... frequentava lugares onde algumas coisas erradas aconteciam. Apesar das boas condições dos meus pais, isso não me impedia de me divertir com os amigos. Saíamos todo final de semana, escondidos... Mas consegui me afastar antes que fosse tarde demais.

— E o que acontecia? — interrompi, curiosa.

— Você prometeu que iria dormir depois que eu contasse. Já está tarde!

— Tá bom. — suspirei, ainda cheia de dúvidas.

— Dorme com os anjos e sonha comigo!

Ligação off.

Como prometido, desliguei o celular para dormir. O Ian era a única luz em meio ao caos, a âncora que me impedia de me afundar. Sentia falta do seu toque, da sua presença, e a verdade era que o amava com todas as minhas forças. Ele me completava de uma forma que eu nunca pensei ser possível. Mal podia esperar pelo momento em que estaríamos juntos novamente, mas, por enquanto, tudo que eu podia fazer era me apegar à esperança de que essa tempestade logo passaria.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora