Deitada em minha cama, os soluços ecoavam no quarto escuro, abafados pela solidão. O meu pai batia na porta, chamando, mas eu apenas ignorei, sufocando as emoções que pareciam me engolir. A carência, intensificada pelos hormônios, tornava tudo mais difícil. Eu ansiava por carinho, pela atenção que antes recebia da minha família. Não queria ser tratada de forma diferente apenas porque estava grávida.
Quando o silêncio finalmente tomou conta do quarto, percebi que ele havia se afastado. Com um impulso, tirei o celular da tomada e disquei o número da minha mãe. Mesmo a distância, suas palavras sempre foram um conforto necessário.
Ligação On:
— Mãe?! — A voz me saiu embargada, mal conseguindo disfarçar o choro.
— Isa, que bom que ligou!! — A alegria na voz dela foi como um bálsamo.
— Eu só queria ouvir a sua voz.
— Você e o bebê estão bem?
— Na verdade, não... o doutor disse que se eu não tomar cuidado, terei grandes riscos na gestação. — As palavras saíram em um lamento, e as lágrimas começaram a escorregar.
Houve uma pausa, um silêncio profundo que aumentou a minha angústia.
— Meu Deus... não deixa isso acontecer! Você precisa ser forte pela criança.
— Eu não sei se consigo. Está difícil suportar tudo... Só queria você aqui comigo.
— Você precisa vir morar comigo até a criança nascer. Posso cuidar de vocês dois!
— Mas, mãe...
— Estou te esperando, eu vou te ajudar... Agora preciso desligar. Se cuida, filha!
Ligação Off.
Permaneci um tempo com o celular nas mãos, refletindo sobre as palavras da minha mãe. Concordar com ela parecia a decisão mais sensata. Enquanto a minha família parecia feliz, eu me sentia perdida. Não podia mais ficar ali; precisava pensar em mim e no bebê. O silêncio que escolhi seria um passo necessário para me recuperar e encontrar apoio na minha mãe.
Naquela noite, Iago realizaria uma festa em sua casa. Eu hesitei em ir, mas sabia que precisava aproveitar cada momento ao lado de Ian e me divertir um pouco. O ressentimento que sentia em relação ao meu pai pelas suas palavras duras havia se dissipado; ele só queria o melhor para mim, mesmo que as palavras dele tivessem cortado fundo.
Passei a tarde trancada em meu quarto, apenas saindo para buscar comida. As séries se tornaram minhas companheiras, e enquanto comia pipoca, o tempo passou sem que eu percebesse. Quando finalmente verifiquei o celular, havia várias chamadas perdidas e mensagens do Ian. Ignorei e me concentrei na hora: já eram oito e meia!
Levantei-me lentamente e fui tomar um banho. Na busca por uma roupa que me fizesse sentir bem, encontrei o vestido vermelho que usei quando conheci o Ian. As lembranças que ele trazia eram amargas, então decidi deixá-lo guardado. Em vez disso, coloquei um vestido preto e, depois de me arrumar, passei um perfume doce e reconfortante. O meu celular, que estava carregando, apitava incessantemente com as mensagens de Ian. Quando finalmente abri o bate-papo, pude ver a preocupação estampada em suas palavras.
Bate-papo on: Ian / online
— Isabele, você quer me matar do coração? Por que não me responde?
— Desculpa, estava dormindo... Costumo ter sono pesado!
— Você virá mesmo?
— Sim, já estou pronta.
— Estou indo te buscar!!
Bate-papo off.
A dedicação de Ian me tocava. Depois da separação, ele havia se transformado, e o temor de me perder apenas intensificou sua preocupação por mim.
Quando desci para a sala, meu pai estava lá, cheio de desculpas, insistindo em pedir perdão. Eu já o havia perdoado, mas ele parecia não se dar por satisfeito. Sentei-me no sofá, aguardando o Ian. Foi então que a porta se abriu e Léo entrou, de mãos dadas com a namorada. O olhar apaixonado deles iluminou o ambiente, e eu não pude deixar de sorrir ao ver o meu irmão tão feliz.
— Olá, cunhada! — Abracei-a calorosamente.
— Que barriga mais fofa! — Ela acariciou minha barriga, e Léo fez o mesmo.
— Você irá sair, maninha? — Ele perguntou, curioso.
— O irmão do Ian fará uma festa hoje. Vocês não querem ir? Por favor, vamos! — Implorei, e eles assentiram.
— Vamos então! — Léo disse, animado. Em seguida, peguei o celular e mandei uma mensagem para o Ian, torcendo para que me respondesse rápido.
Bate-papo on: Ian / online
— Ian, convidei o meu irmão e a namorada dele para irem também, tudo bem?
— Claro, nem precisava pedir.
— Você já está chegando?
— Sim, estou próximo!
Bate-papo Off.
Confesso sentir um aperto no peito ao pensar em deixar Ian, mesmo sabendo que não iríamos nos separar. A incerteza sobre a minha decisão me angustiava. Será que era a escolha certa? No fundo, eu sabia que, se pensasse no bebê, conseguiria ficar na casa da minha mãe até o quinto mês de gestação, recuperando forças para retornar bem e saudável.
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De Repente Grávida
Teen Fiction+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...