Chegamos ao clube às dez e meia da manhã. O sol brilhava intensamente, mas a luz não conseguia dissipar a nuvem de silêncio que pairava entre nós. O Ian permanecia calado, e a ausência de palavras me deixava inquieta. Dentro do carro, eu hesitava em fazer qualquer pergunta; a tensão se tornava um peso insuportável. Esses desentendimentos constantes me deixavam exausta. Havia algo entre nós que parecia nos afastar a cada dia, e os segredos estavam corroendo o nosso relacionamento. Precisávamos encontrar uma solução, ou isso nos levaria a um abismo sem volta.
Ele andava à minha frente, rápido e distante, como se quisesse se desvincular de mim. Respirei fundo, puxei o seu braço e entrelacei nossas mãos, buscando restabelecer alguma conexão. Caminhamos juntos até um quiosque próximo à piscina, mas a ideia de mergulhar na água gelada me intimidava, e creio que a Ian também.
— Ei, Ian! Por que você está tão calado hoje? — perguntei, fixando meu olhar no dele.
— Por que o Richard anda te mandando mensagens e te ligando? — A pergunta dele soou como um raio, atravessando a barreira que tentava manter entre nós. Um arrepio percorreu o meu corpo, e eu não sabia onde me esconder.
— Você mexeu no meu celular? Por que fez isso? — A indignação escorreu pela minha voz.
— Quando você ia me contar? — Ele elevou a voz, e o medo tomou conta de mim. Seus olhos pareciam faíscas prestes a incendiar.
— Eu... me desculpe, fiquei com medo de que a gente terminasse para sempre. — As palavras saíram hesitantes, como se uma parte de mim quisesse fuga.
— Como ele conseguiu o seu número, Isabele? O que ele quer com você? — A ira estava visível em seu rosto, e eu me senti pequena diante da sua tempestade.
— Ian... — Fechei os olhos por um instante, respirando fundo para reunir coragem. — Eu fui a uma festa estranha na cidade da minha mãe. Não sabia que era dele, e nem que vocês se conheciam. Isso é uma coincidência que eu jamais poderia imaginar. — Minhas mãos tremiam, e um frio gélido se espalhou por elas. Então, como um trovão, Ian socou o balcão do quiosque, levantando-se em um movimento brusco, a raiva se espalhando pelo ambiente. — Eu juro que nada aconteceu! Foi por impulso, eu não sabia o que estava fazendo naquela noite. Ian, por favor, me perdoe por não ter te contado antes... — As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
— Tudo bem. — Ele me olhou, mas a frustração ainda queimava em seu olhar. — Você poderia ter ido a qualquer festa do mundo, menos a do Richard.
— Mas por quê? — a pergunta escapuliu dos meus lábios, buscando clareza.
— Ele era o meu patrão, Isabele. — A revelação soou pesada, como uma pedra caindo em um lago tranquilo.
— Patrão? Como assim? Pensei que você trabalhasse com o seu pai na empresa. Não estou entendendo. — A confusão se instalou, e eu me sentia perdida em um labirinto de incertezas.
— Não quero falar sobre isso. É um passado que não gosto de lembrar. — Sua voz, agora mais baixa, revelava a dor que escondia.
Eu olhei ao redor, na esperança de que ninguém no clube tivesse testemunhado a nossa discussão. Sentia-me confusa e sem entender nada. Decidi que nunca mais me encontraria com o Richard; quem sabe o que ele poderia fazer comigo ou contra o Ian? Arrependo-me de tudo, reconheço os meus erros e daria qualquer coisa para voltar no tempo e recomeçar.
Após alguns minutos em silêncio, o Ian me envolveu em um abraço apertado. Ele limpou minhas lágrimas e, entrelaçando nossas mãos, me levou até a beira da piscina, que estava vazia. Sentamos em silêncio por longos minutos, e eu não sabia o que dizer. Ian estava pensativo, e eu reconhecia aquele olhar enfurecido, repleto de ódio e rancor. Ele queria descontar a raiva, mas respirava fundo, tentando se controlar.
— Não aguento mais segredos entre nós! É isso que causa tantas intrigas e desentendimentos que nunca acabam. — Ele acariciou meus cabelos, e seu toque era suave, mas a tensão ainda pairava.
— Tenho mais uma coisa para te contar. — Senti meu coração acelerar enquanto o encarava. — Há alguns meses, a Duda andou me ameaçando por mensagens, dizendo que iria acabar comigo e com o bebê. — Uma lágrima escorreu pelo meu rosto enquanto falava, e as imagens da crueldade que ela poderia fazer me assombrava.
— O quê?! — A expressão de Ian se transformou em fúria. — Por que não me falou isso antes, Isabele? Vamos embora, eu vou resolver isso! — Ele se levantou rapidamente, a preocupação em sua voz me deixava inquieta.
— Mas o que você vai fazer? — Indaguei, mas minha tentativa de contê-lo soou fraca diante da tempestade que ele se tornou.
— Irei resolver isso! — Ele respondeu, a raiva ainda borbulhando.
O meu coração batia forte, e a preocupação me consumia. Não tinha o direito de impedi-lo, e o que poderia acontecer a partir daquele momento era incerto. Mas, ao mesmo tempo, sentia um alívio por não carregar mais aquele peso na consciência. Agora, era a vez dele me contar sobre o seu passado obscuro. Queria entender quem era o verdadeiro Ian. Jamais imaginei que ele agiria assim, e um medo profundo se instalou em meu peito. Tive medo de perdê-lo ou de vê-lo se vingando de forma impulsiva.
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De Repente Grávida
Teen Fiction+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...