Capítulo 48: O Silêncio Absoluto

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A tensão entre nós era palpável, um fio prestes a romper. Eu olhei nos olhos do Ian, e ele, com um sorriso que parecia mais uma máscara, tentava disfarçar a verdade que ambos conhecíamos. O meu coração disparava, inundado por uma mistura de raiva e desespero. O futuro que uma vez sonhei ao seu lado agora parecia uma miragem.

— Você pode parar de agir como se nada tivesse acontecido? — minha voz saiu quase como um sussurro, mas carregava um corte afiado. — Aonde você passou o dia? Não me diga que estava na empresa, porque eu sei que não estava. Ian, precisa ser honesto comigo!

Ele hesitou, a expressão vacilante entre defensiva e culpa.

— Estava na casa de um conhecido, Richard. Se você quiser, posso chamá-lo para confirmar. Precisávamos resolver algo importante e inadiável, por isso me mantive em silêncio. — As palavras dele me atingiram como uma flecha, e o choque me deixou sem ar. Em um impulso, fingi desmaiar, buscando um escape para não ouvir mais o que eu tanto temia. — Isabele?! Isabele!! Acorda, por favor!! — Ian clamou, sua voz se transformando em um grito angustiado.

— Estou bem... foi só uma queda de pressão. — Sussurrei, tentando manter a calma.

— Você desmaiou! Vamos ao médico! — A urgência na voz dele era inegável.

— Não precisa, só quero descansar. — Minha fraqueza soava quase ensaiada, e, com um gesto suave, ele me levantou e me carregou para o quarto.

Dentro de mim, um plano começou a se formar. Eu precisava encontrar o Richard, para descobrir a verdade que ameaçava o meu relacionamento e a família que estava prestes a nascer. A inquietude me cercava, como se a própria inveja estivesse se materializando ao meu redor. Ian, com seu passado nebuloso, se tornava o catalisador de todas as minhas dúvidas.

Deitei-me na cama, abrindo e fechando os olhos lentamente. Ian se juntou a mim, passando a mão carinhosamente em meu rosto, mas eu mantive uma expressão impassível, cheia de perguntas não feitas. A imagem de Richard dançava em minha mente, e a possibilidade de chantagem me deixava inquieta e com medo.

— Você está bem? E o bebê? — Ian perguntou, a preocupação genuína em seu olhar.

— Estamos bem. — respondi, tentando soar tranquila, mas não parecia completamente verdadeira. Ele acariciou a minha barriga, e a conexão que deveríamos compartilhar parecia cada vez mais distante.

— O Iago me contou que será um menino! Como vamos chamá-lo? — Ian prosseguiu, seu sorriso misturando-se à incerteza.

— Benjamim. — As palavras saíram quase como uma provocação.

— Me parece nome de idoso. — Ele riu, mas o som soou vazio.

— Lucca é um nome bonito. — Sugeri, mas sabia que era apenas uma tentativa de distraí-lo.

— Lucca? O seu ex? — Ele brincou, e a indignação subiu em mim.

— Não, é só um nome que pensei. — A resposta saiu mais ríspida do que eu pretendia.

— Não gostei. — Ian fez uma pausa, seus olhos fixos nos meus. — Melhor deixarmos isso para depois.

— Estou exausta, vamos dormir. — Virei-me, já me preparando para a batalha que viria.

(...)

Na manhã seguinte, o despertar foi abrupto. Ao olhar ao redor, notei o Ian caído no chão e sem coberta. Talvez eu tenha o empurrado enquanto dormia, já que costumava ser espaçosa. Levantei-me e, após um banho rápido, vesti um biquíni e um short jeans. Havíamos combinado de passar o dia no clube que fomos jantar. Ao me deparar no espelho, um misto de ansiedade e determinação refletiu de volta.

Na cozinha, encontrei o meu pai, que me recebeu com um olhar curioso.

— Vocês dois vão sair? — ele perguntou.

— Vamos ao clube! — Respondi, mas a ausência de palavras do Ian me deixou desconcertada.

Quando Carla entrou, o assunto sobre a consulta trouxe uma nova onda de felicidade.

— Isa, como foi a sua consulta? Nos conte a novidade! — Carla perguntou.

— Ah, é um menino! — Sorri, mas vi a expressão do meu pai mudar rapidamente, como se a notícia o tivesse atingido de forma estranha.

— Meus parabéns! — ambos disseram, mas a tensão em Ian não passou despercebida.

Enquanto nos dirigíamos ao carro, o silêncio dele me incomodava. Seu rosto estava impassível, como se estivesse escondendo um turbilhão de emoções. O que poderia ter acontecido? Até ontem a noite estava tudo bem. A necessidade de respostas pulsava dentro de mim, mas o medo de provocá-lo me silenciava. O dia prometia ser mais do que apenas um passeio na piscina; a verdade, como uma sombra, seguia cada um de nós, pronta para emergir a qualquer momento.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora