Bianca narrando:
Desde que Marcelo segurou pela primeira vez um bebê no colo, ele não foi mais o mesmo comigo, seu jeito ogro de ser havia melhorado pelo menos um pouco. Ele não me batia mais por qualquer motivo bobo, o máximo que fazia era gritar e descontar sua raiva em outra coisa que não seja eu, as vezes me tratava com sua comum ignorância mas eu já estava acostumada, afinal, esse é o seu jeito normal de ser. Ele não me obrigava mais a limpar a casa ou fazer qualquer outra coisa, Marcelo contratou uma mulher para fazer os serviços de casa e também para o satisfazer já que ele não quer mais encostar em mim por conta da minha gravidez de risco, agora ele tem medo de me machucar.
E falando nisso, os meus dias tem sido meio tristes depois de saber sobre a gestação complicada que estou passando, eu me esforçava o máximo para sentir somente coisas boas, me alimentava e descansava bastante. O MC deixava eu ir visitar os meus pais toda semana, e bom, até eles não são mais os mesmos comigo, eu entendo o susto que eles levaram de verem sua única filha engravidar tão cedo.
O nome da moça que agora trabalha aqui era Samanta, ela deve ter seus 26 anos. As vezes eu sentia ciúmes dos olhares que rolavam entre ela e o MC, sem contar que as roupas que a mesma usava são extremamente curtas. Pelo menos Marcelo encontrou um novo brinquedo e agora vai me deixar em paz pelos próximos meses, o único problema era ter que aturar isso sem poder fazer nada.
— Querida, faz o favor de não ir lá na sala porque estarei ocupada com o seu namorado e eu também vou limpar lá embaixo. – Ela diz toda empinada apontando o dedo pra mim.
— Não vou ir. – Digo e viro o meu rosto. Estava deitada no quarto de hóspedes tentando dormir, mas escutar os dois fazendo barulho me tirava o sono.
A Samanta pedia para dormir aqui mas Marcelo não deixava, ele diz que ela só está aqui para trabalhar e não para ter mordomias, hoje graças a Deus ela foi embora antes do entardecer. Durante a noite, tomei um banho morno e coloquei a minha camisola de unicórnio confortável para dormir. Eu só desci para jantar quando ela foi embora, não aguentava comer olhando pra cara daquela piranha interesseira, ela nunca faria mal algum pra mim mas eu não gostava dela, pois a mesma me tratava mal e adorava me provocar. Depois dela o Marcelo se esqueceu de mim, não que eu me importe com isso, mas eu ainda sou um ser humano e gosto de receber carinho e atenção.
— Por que você desceu tarde pra comer? Isso não é hora de jantar, tu não ouviu o médico falando que tem que comer nas horas certas? – Marcelo grita comigo, ele estava alterado por causa das malditas drogas.
— Estava dormindo.
— Você está me evitando desde que a Samanta chegou aqui.
— Só quero ficar quieta na minha, agora você tem ela para te fazer companhia.
— Mas eu não quero ela. – Ele me olha e o meu coração bate forte.
— Marcelo...
— Bianca...
— Eu não quero mais morar aqui, me deixa voltar para a casa dos meus pais?
— Não. – Gritou. — Você não pode ir embora, não pode me abandonar.
— Eu sei que não vou te fazer falta então que diferença faz? Você tem a Samanta agora.
— Que se dane ela.
— Eu quero ficar perto das pessoas que me fazem bem e não mal. – Após a minha fala dita na inocência, sinto um tapa não com muita força sendo depositado na minha cara. Ele saiu da cozinha em passos pesados me deixando ali paralisada e assustada.
Foi minha culpa, eu não devia ter dito isso sabendo que ele está drogado, preciso tomar cuidado com as coisas que falo da próxima vez. Tomei um copo de água e subi pro quarto com os olhos cheios de lágrimas, eu era aquele tipo de pessoa sensível que chora por tudo e que fica magoada fácil. Não havia necessidade dele fazer isso comigo, ele não vê que já estou sofrendo o bastante? Tudo bem, deixa isso pra lá, tive sorte de não ter acontecido nada pior comigo e com a minha bebê.
Depois de ter jantado a pulso, escovei os dentes e me deitei na cama do quarto de hóspedes, já faz um tempo que Marcelo e eu não dormimos juntos, não sei dizer se isso é bom ou ruim. Quando estava quase pegando no sono, ouvi a porta do quarto sendo aberta e as pisadas fortes no chão que eu já sabia de quem era, me perguntava o que ele queria aqui.
O mesmo se deitou vagarosamente do meu lado, esse foi o momento em que eu mais rezei baixinho pedindo para que ele não fizesse nada comigo, eu nem conseguia me mexer de tão tensa. Aos poucos senti sua mão levemente sobre a minha barriga e de repente fui agarrada por trás da forma mais carinhosa, soltei o meu ar e pude respirar aliviada. Queria ele longe e ao mesmo tempo perto de mim, sinto falta do nossos corpos colados, do seu cheiro, do gosto do seu beijo. Era estranho não saber o que será de nós dois, era estranho esse sentimento de amor e ódio que sentimos, tudo exatamente está sendo estranho desde que conheci o MC.
— Eu quero você, Bia. – Sussurrou em meu ouvido me fazendo arrepiar, mas permaneci calada com medo de respondê-lo. — Você não pode me abandonar, não pode me deixar igual os meus pais fizeram... Eu não quero ficar sozinho.
— Tudo bem, Marcelo, não vou te abandonar. – Digo da forma mais seca, ainda estava chatiada por ter recebido um tapa na cara sem motivo algum.
— Me perdoa? Por favor, me perdoa! Não gosto quando você fala que eu não te faço bem. Mas toda vez que encosto um dedo em você eu me sinto um lixo, eu sempre me arrependo.
— Tudo bem. – Digo ainda de costa pro mesmo, não conseguia olhar no seu olho.
— Me perdoa, Bia? Olha pra mim.
— Estou com sono, Marcelo.
— Mas eu tô mandando você olhar pra mim. – Ele fica bravo, suspiro fundo e me viro olhando pra ele, nossos rostos ficaram próximos. — Eu preciso de você, não me abandona... Não é fácil ser eu, eu me odeio.
— Eu te amo, Marcelo, mas te amar me faz sofrer muito. – Selei nossos lábios e fechei minhas pálpebras, abracei ele para dormir.
A cada dia dentro dessa casa eu entendia um pouco mais do MC e o conhecia melhor. Ele não sabe o que é amor pois ele nunca foi amado e nunca soube amar. Quero poder ensinar isso a ele, esse é o real motivo de eu não ter desistido dele, porque ainda acredito em nós dois. Ainda não sabia descrever o que o Marcelo sentia por mim e se realmente ele sentia algo, era tão estranho esse seu comportamento bipolar que me causava medo, eu odiava tanto sentir medo de um alguém que eu amava tanto, de um alguém que era pra me dar amor e não sofrimento. Acho que ele é acostumado a pegar um outro tipo de mulher que eu não sou, pois completei 18 anos recentemente e tive que sair da faculdade por conta da gravidez. Sou apenas uma menina carente, meiga, sensível que chora por tudo, que já foi traída pelo ex-namorado, abandonada pelos pais, que só queria ser amada de tal maneira e ter um final feliz.
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De Repente Grávida
Roman pour Adolescents+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...