Ao pisar na frente da casa de minha mãe, a exaustão se abateu sobre mim como uma neblina densa. A viagem de avião havia sido tranquila, mas cada movimento meu parecia uma luta contra um cansaço profundo. Enquanto o avião cortava as nuvens, minha mente se perdia em lembranças de um passado não muito distante. Eu me recordava de como havia odiado a ideia de estar grávida. Mas agora, enquanto acariciava a minha barriga, percebia o quanto havia mudado ao longo desses meses. O bebê que crescia dentro de mim não era apenas um fardo; ele era uma promessa de transformação, uma chance de me tornar alguém melhor.
No passado, eu era consumida por um narcisismo quase corrosivo, preocupando-me incessantemente com a minha imagem. Hoje, no entanto, meu foco se voltava para a proteção daquela pequena vida, disposta a enfrentar qualquer mal que se aproximasse. Realmente, havia perdido a minha melhor amiga nesse processo; pelo menos, achava que ela seria uma amiga de verdade. Às vezes, lágrimas escorriam pelo meu rosto ao lembrar dos momentos que tínhamos compartilhado. Era uma amizade vibrante e cheia de promessas, agora reduzida a ecos distantes, esquecida no instante em que eu fui julgada por minha nova condição. O orgulho dela falava mais alto, e eu me via sozinha em um momento em que mais precisava de apoio.
A casa da minha mãe era espaçosa, com alguns quartos, um exagero para quem vivia sozinha. Mas ela sempre acreditou que um dia voltaríamos a viver juntas, eu e Léo, como se o passado pudesse ser remontado como um quebra-cabeça. O luto pela separação dos meus pais ainda pesava em meu coração, mas eu tentava respeitar a decisão deles. Afinal, eles eram adultos e sabiam o que era melhor.
Após um jantar saboroso e reconfortante, nós duas nos acomodamos no sofá, a conversa fluiu naturalmente como um rio em suas margens. O tempo passou sem que percebêssemos. Eu chorei em seu colo e ela no meu, trocando desabafos e confidências sobre tudo o que havia acontecido.
— Mãe, a Carla verdadeiramente foi uma boa pessoa durante esse período. Ela me ajudou muito quando soube da minha gravidez — eu disse, com a voz embargada.
— Isso é bom, querida. Lembra-se que eu também sempre estarei aqui por você — respondeu ela, acariciando meu cabelo como fazia quando eu era criança.
Quando o relógio marcou quase dez horas da noite, eu percebi que a fadiga me dominava. Levantei-me do sofá e beijei sua bochecha suavemente.
— Agora eu preciso descansar. Estou exausta e ansiosa por um sono reparador.
— Boa noite, filha. Que você tenha sonhos tranquilos! — Ela desligou a TV e foi até a cozinha buscar água, enquanto eu caminhava em direção ao quarto.
Com o celular desligado todo esse tempo, imaginava a preocupação que poderia ter causado. Assim que me acomodei na cama, liguei a internet. Mensagens e chamadas não atendidas se acumulavam, cada uma carregando um pedaço da ansiedade dos que estavam à minha volta. Primeiro, mandei uma mensagem tranquilizadora ao meu pai, dizendo que estava bem e na casa da minha mãe, o que me parecia o lugar mais seguro neste momento. Depois, abri as mensagens do Ian. Ele parecia o mais agitado, então decidi ligar para esclarecer tudo.
Ligação On:
— Oi, Ian. — Minha voz soou rouca, como se o peso do dia ainda estivesse em mim.
— Aonde você está, Isabele? O que aconteceu? Estou desesperado! — Sua respiração pesada atravessou a linha, e eu podia sentir a preocupação dele em cada palavra.
— Não se preocupe, eu e o bebê estamos bem... Estou na casa da minha mãe.
— O quê?! Como? Por que você fez isso? — A frustração na voz dele era palpável.
— Precisei tomar essa decisão difícil por proteção e saúde, para recuperar o meu peso de forma saudável com o auxílio da minha mãe. — Falei em um tom quase sussurrante, não querendo acordar ninguém.
Naquele momento, decidi omitir as ameaças de Duda. Era um risco que eu não estava disposta a correr, e não sabia como Ian reagiria se soubesse.
— Volta pra casa, para mim... Eu prometi que ajudaria com tudo o que precisar.
— Ian... a minha casa, no momento, é o pior lugar para mim. Meu pai e o Léo andam ocupados, e não estão mais próximos de mim como antes.
— Mas você tem a minha casa, os meus pais irão te acolher!
— Você não entenderia... até perto de você eu me sentiria insegura. Ian, você é muito importante para mim, mas a minha mãe é quem vai me dar o apoio que eu preciso nesse momento. Ela é minha âncora, e ninguém faz melhor isso do que ela.
— Então você decidiu criar o nosso filho longe de mim? — A dor em sua voz era quase tangível.
— Eu jamais faria isso. Apenas ficarei aqui até a próxima consulta. Prometo que iremos juntos descobrir o sexo do nosso bebê!
— Isabele, eu já passei muito tempo longe de você e não quero passar por isso novamente.
— Também sentirei muito, mas isso vai passar rápido. Em breve, estaremos juntos, celebrando boas notícias.
— E a nossa viagem? — Ele insistiu, sua voz quase uma súplica.
— Não faltará oportunidade para viajarmos juntos. Agora, preciso desligar... Promete que vai me ligar todos os dias?
— Sempre que puder, apesar de estar magoado.
— Boa noite, Ian. Não se esqueça de que eu te amo!
— Isabele? — A voz dele soou um pouco mais suave.
— Oi, Ian?!
— Eu também te amo.
Ligação Off.
Com o coração um pouco mais leve, deixei o celular de lado. A conversa havia sido intensa, mas era um passo necessário. Agora, era hora de descansar e preparar-me para o que viria. Afinal, a jornada estava apenas começando.
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De Repente Grávida
Roman pour Adolescents+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...