Narrado por Ian:
Os dias se arrastavam como sombras pesadas, e a angústia que me acompanhava era um peso insuportável. Já havia se passado uma eternidade desde a última vez que falei com Isabele, e a incerteza sobre ela e o bebê que carregava dentro de si atormentava cada momento da minha existência. A presença ameaçadora de Eduarda, parecia ter como único propósito destruir o que eu mais amava, pairava sobre mim como uma nuvem negra. Ela prometeu expor segredos que eu havia enterrado há muito tempo, e esse era o motivo pelo qual eu não ousava ir até Isabele. O desejo de eliminar Eduarda da face da Terra fervilhava em mim, mas eu sabia que qualquer ação precipitada só aumentaria a distância entre eu e a mulher que amava.
Era uma terça-feira qualquer. Após um café da manhã que mal toquei, vesti-me para o trabalho, mas um impulso incontrolável me deteve. O que mais desejava era ouvir a voz da Isa, a única que me dava esperança em meio ao caos. Com o coração acelerado, disquei seu número mesmo sem esperança. Quando o toque finalmente se interrompeu, sua voz suave ecoou do outro lado da linha.
Ligação on:
— Ian. — A tristeza que envolvia suas palavras cortou o meu coração.
— Isa! Como tem passado? — Perguntei, embora soubesse que a resposta não seria fácil.
— Bem, na medida do possível. — Sua resposta foi abrupta, quase seca.
— Precisamos conversar. — As palavras saíram pesadas, como se cada sílaba carregasse o peso da distância que se instaurou entre nós.
— O que aconteceu, Ian? Por que você simplesmente me ignorou e não veio me visitar? Preciso de honestidade, por favor. Você me decepcionou! — O tom da sua voz estava cheio de dor.
— Eu sinto muito, realmente... — Comecei, mas fui interrompido.
— Desculpas não são suficientes. — Sua voz subiu, e eu podia imaginar a frustração estampada em seu rosto. — Por que me deixou tão apreensiva?
— Sinto a sua falta, não aguento mais essa situação. — O desespero transparecia em minha voz.
— E por que não veio? — A pergunta era um golpe, e eu sabia que a resposta não seria fácil.
— Acredite, o meu celular foi roubado e tive problemas na empresa. — As palavras pareceram uma justificativa frágil.
— Jura? E esse número, então? O assaltante teve pena e te devolveu o chip? — Sua ironia estava clara.
— Não, quem me roubou foi a Duda. Mas consegui recuperar o celular. — Fui sincero, esperando que ela entendesse a complexidade da situação.
— Sempre soube que ela estava por trás disso! — A voz dela soava mais calma, mas ainda havia um resquício de desconfiança.
— Agora que tudo está esclarecido, espero que possamos seguir em frente. Eu prometo que isso não acontecerá novamente. — Desejava que as palavras soassem reconfortantes.
— Tudo bem, podemos mudar de assunto... O seu filho está bem agitado na barriga, sabia? Tivemos um bom final de semana! — A leveza de sua voz trouxe um sopro de esperança.
— Gostaria de poder estar junto... Mas agradeço por você atender a minha ligação e ser tão compreensiva comigo. — Sentia que, mesmo em meio à tensão, ainda havia amor entre nós.
— Agora preciso desligar. — A saudade na voz dela era palpável.
— Até breve, princesa! — As palavras saíram como um sussurro, repletas de amor e anseio.
Ligação off.
Quando a ligação se encerrou, um misto de alívio e angústia me dominou. Conversar com a Isabele era um lembrete da força do nosso amor, mesmo em meio aos desafios. O que eu mais desejava era ter ela ao meu lado, cuidar dela e do nosso filho. A gravidez havia transformado ela de uma jovem rebelde em alguém mais vulnerável, e a ideia de que pudesse estar sofrendo por minha causa era insuportável. Como se o universo estivesse conspirando contra nós, as dificuldades só aumentavam, mas eu acreditava que éramos mais fortes do que qualquer obstáculo.
(...)
Narrado por Isabele:
Após desligar a chamada, o peso da conversa se abateu sobre mim como uma tempestade. Deitei-me na cama, buscando abrigo sob as cobertas, permitindo que as lágrimas escorressem livremente. Já se passaram dois dias desde que Léo partiu, e a decisão de não contar nada a Ian sobre a festa me pesava na consciência. Eu sabia que ele também guardava segredos, e se ele fosse um pouco mais aberto sobre o seu passado, eu não hesitaria em ser igualmente transparente. Os segredos tinham o poder de corroer até os relacionamentos mais sólidos.
O pensamento de que Ian poderia não ser parte da vida do nosso filho me aterrorizava. O amor que sentia por ele era profundo e, a cada dia que passava, me sentia mais dependente da sua presença. Não importava quanto tempo estivéssemos separados; em meu coração, ele sempre teria um lugar.
Fiquei deitada, mergulhada em meus pensamentos, até o aroma do almoço me puxar de volta à realidade. À medida que a consciência da minha situação se instalava, percebi que talvez fosse melhor não deixar o Ian vir me visitar, já que logo voltaria para a minha cidade. Eu precisava encontrar um modo de lidar com isso. Enquanto mexia no celular, uma notificação inesperada chamou a minha atenção. Uma mensagem de um número desconhecido me deixou hesitante. No entanto, a curiosidade venceu o medo para verificar.
"Olá, Isa. Sou eu, a Bianca! Soube que você não está mais aqui na cidade. Durante esse tempo, eu pensei muito... Reconheço que fui uma completa idiota por te abandonar quando você mais precisou de mim. Quero te pedir perdão e voltar a ser sua amiga. Me desculpe por tudo, Isa?"
Um misto de sentimentos invadiu o meu coração. O que fazer agora?!
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De Repente Grávida
Teen Fiction+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...