Capítulo 21: Jantar de Boas-Vindas

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Durante o período da tarde, eu e a Carla estávamos sentadas à mesa, rodeadas de panelas e ingredientes, planejando um jantar especial para dar boas-vindas ao meu pai e ao Léo. Fazia dias que não os via, e a saudade já estava me consumindo. O espírito de festa começava a tomar conta da casa, e a ideia do jantar seria uma demonstração de carinho que eu não havia conseguido pensar antes entre tantas preocupações.

Enquanto organizávamos a casa, a tensão crescente entre nós duas estava se misturando a uma expectativa ansiosa. O cheiro do jantar se espalhava pelo ambiente, mas algo me inquietava. Observei a Carla, que estava com os olhos brilhantes de emoção.

— Você acha que eles vão gostar da surpresa? — perguntei, a ansiedade transparecendo na minha voz.

— Espero que sim!

— Aposto que o meu pai ficará mais feliz em ver você do que me ver! — brinquei, fazendo-a rir.

— Ah, não fale bobagens! — ela gargalhou, a tensão se dissipando.

— Você é muito bonita, Carla... cuidado com o meu irmão também. — disse, enquanto ria.

— Mande uma mensagem para averiguar se eles já estão chegando! — Carla pediu, com um leve tremor na voz.

— Mas, eu acabei de enviar. — respondi, sem querer parecer impaciente.

— Manda de novo.— insistiu, cruzando os braços.

— Ei... não precisa ficar tão tensa. — sorri, e logo a vi respirar fundo, um sinal de nervosismo.

— Quem disse que estou tensa? — desafiou, mas eu percebi a cor em suas bochechas.

— Não está? — perguntei, levantando uma sobrancelha.

— Talvez um pouco. — ela cedeu, desviando o olhar.

— Você gosta dele, né?! — uma provocação escapuliu dos meus lábios, e eu me diverti ao ver sua expressão mudar para uma mistura de surpresa e constrangimento.

— Isabele... — ela murmurou, mas a sinceridade em seu tom deixava claro que era mais do que apenas amizade.

— Não se sinta desconfortável em conversar sobre isso. É normal se apaixonar, e somos humanos. Ninguém manda no coração. 

— A separação dos seus pais é recente... — Carla começou, mas eu a interrompi.

— E qual é o problema? A fila anda! — eu ri, enquanto ela parecia preocupada.

Antes que pudéssemos continuar, o som de pneus na garagem interrompeu a nossa conversa. Meu coração disparou de felicidade e preocupação. E se algo estivesse errado? A Carla também parecia nervosa, com os olhos brilhando enquanto esperávamos a entrada deles.

A porta da sala se abriu e logo Léo apareceu, com um sorriso radiante. Ele abriu os braços e, sem pensar duas vezes, corri em sua direção sentindo a segurança de seu abraço forte.

— Que saudade, maninha! Meu Deus... quem é aquela gata? — ele sussurrou, olhando para a Carla, que estava com um vestido preto e elegante.

— A minha babá! — respondi, enquanto ele estava claramente impressionado. — Mas, pode esquecer, Léo, ela é mais velha que você! — avisei.

— E desde quando idade importa? — ele disparou, indo na direção dela e a cumprimentando com um beijo no rosto.

Quando o meu pai entrou, não pude evitar um sorriso. A alegria que ele trazia era contagiante. Abracei-o forte, buscando aquele conforto familiar que sempre me fez sentir segura.

— Que cheiro bom é esse? — Léo perguntou, seu olhar se iluminando.

— Eu e a Carla preparamos um jantar especial para vocês! — dissemos em uníssono, compartilhando a empolgação.

— Estou morrendo de fome, Carla, você é demais! — ele declarou, dando-lhe outro beijo na bochecha, a deixando visivelmente corada.

— Léo, mais respeito com a Carla! — meu pai interveio, claramente sem paciência para o flerte.

Depois de algumas horas de risadas e histórias compartilhadas, sentamos à mesa, desfrutando de um jantar que eu considerava perfeito, apesar da ausência de minha mãe. Cada garfada era recheada de felicidade, e a conversa fluía como um rio tranquilo.

— Então, pai, não vai contar mais sobre a viagem? — indaguei, fitando-o com curiosidade.

— Eu não, você não foi porque não quis. — ele respondeu, fazendo todos rirem.

— Pai, sinceramente... você esqueceu a graça dentro do carro. — brinquei, provocando mais risadas.

— E como a Isabele se comportou, Carla? — Indagou.

— Ah... ela foi um anjo, na verdade. Não me deu trabalho nenhum. — Carla respondeu, radiante.

— Irei sentir sua falta aqui comigo. — Digo, tentando puxar um pouco mais de atenção. — Pai, por que não convida a Carla para jantar outro dia? — perguntei, com um brilho travesso nos olhos.

— Por quê? — ele pareceu genuinamente intrigado.

— Bom, se o senhor não levar, eu mesmo levo! — Léo riu, provocando nosso pai.

— Léo, eu já disse que você não tem chances com ela! — Digo, visivelmente irritada. 

— Bom, eu acho que já vou indo! — Carla se levantou, um pouco desconcertada.

— Viu só o que você fez? — empurrei Léo.

— Mas, ela é perfeita... — ele sorriu, sonhando acordado.

— Para o nosso pai! — completei.

Nesse momento, ouvimos os gritos do meu pai adentrando a cozinha após levar a Carla até a porta de saída.

— Vocês deveriam ter pedido desculpas à ela, seus mal-educados!

— Ela não ficou chateada com a gente, eu garanto. — disse, tentando acalmá-lo.

— Espero que isso não aconteça mais novamente, estamos entendidos? — ele nos fitou, com seriedade na expressão.

— Aproveitando que estamos nós três aqui, eu queria contar uma novidade! — comecei, a expectativa crescendo.

— Lá vem... — Léo revirou os olhos.

— Estou namorando! — declarei, quase em um sussurro.

— Quem é o corajoso? — eles começaram a gargalhar, jogando-se no chão de tanto rir.

— Não entendi a piada. — minha confusão era genuína.

— Conversaremos sobre esse seu delírio amanhã, Isabele! – Meu pai diz, ainda rindo.

O mesmo sempre foi um piadista sem graça, mas essa fase de humor desajeitado surgiu depois que ele se apaixonou pela Carla. Para mim, isso é maravilhoso; assim, sua reação ao saber da minha gestação provavelmente não será tão severa ou ameaçadora. Além disso, o nosso jantar foi incrível. Eles têm o dom de me fazer rir e de me trazer felicidade. É difícil colocar em palavras o que a minha família significa para mim — são minha base, meu chão, a fonte de inspiração em minha vida. A família sempre foi essencial, e cada momento juntos é precioso. A noite foi tão boa que eu nem pensei em pegar o celular. Apenas vesti o meu pijama e me deitei na cama, pronta para dormir.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora