A notícia parecia um raio que atravessava o meu peito, deixando um rastro de dor e incredulidade. O meu pai deve estar devastado. A Carla não merecia passar por isso. A sensação estranha que nós duas sentimos ontem à noite, como um pressentimento, ecoava em minha mente. Nunca devemos ignorar o que nossos instintos nos dizem.
Peguei um táxi, a urgência me levando à casa, e deixei Iago no shopping, pedindo que avisasse o Ian sobre o que estava acontecendo. O coração batia acelerado enquanto o carro serpenteava pelas ruas conhecidas, cada semáforo parecia uma eternidade.
Ao entrar em casa, a cena que presenciei era de partir o coração. A Carla estava abraçada ao meu pai, soluçando em seus braços. Em um instante, as lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto. Léo, meu irmão, se aproximou e me envolveu em um abraço silencioso. O luto parecia pesar sobre nós como uma nuvem escura, e eu não sabia o que dizer.
— Ontem eu e o Ian tivemos uma discussão. — murmurou Léo, quebrando o silêncio. Seus olhos estavam cheios de preocupação.
— O quê?! — exigi, minha voz carregada de ansiedade. — Por que vocês brigaram?
— Eu não quero que você continue com o Ian. Descobri coisas sobre o passado dele, e se o nosso pai souber quem ele realmente era, nunca irá perdoá-lo.
— Você não pode estar falando sério, Léo! — protestei, a incredulidade estampada no meu rosto.
Ele me guiou até a cozinha, e assenti, ainda sem acreditar nas palavras que saíam de sua boca. Peguei um copo e o enchi de água, tentando aliviar a secura na garganta e o tumulto no meu coração. Quando a minha vida se tornou um emaranhado de conflitos? Quando encontraremos um pouco de paz? Será que o problema realmente está no Ian? Desde que o conheci, a minha vida não foi mais a mesma.
— Sente-se! — disse Léo, puxando uma cadeira. Recusei. O nervosismo pulsava em mim. — Ontem eu estava na festa e me preocupei com você, que havia sumido, quando eu ouvi dois disparos. O Ian nem sequer te tirou daquele banheiro e foi bater em um cara praticamente morto. Eu que entrei lá e te tirei. Enquanto você estava no quarto com a Letícia, fui tirar satisfações com o Ian que já estava de cabeça quente. E então brigamos.
— Léo... — minha voz falhou, o nó na garganta dificultando a fala.
— O Ian era viciado em drogas, Isa... Ele chegou a ser internado algumas vezes e quase já foi preso por causa da violência, pois ficava agressivo e batia nas pessoas, principalmente nas ex namoradas. Além de outras ilegalidades que o mesmo cometia. Ele tem um passado sombrio, Isa, e não posso permitir que você se coloque em risco.
— Eu não quero ouvir mais isso! — As lágrimas escorriam, quentes e amargas.
— Você precisa terminar com ele, Isa. Não posso deixar que algo aconteça com você por causa daquele cara!
— O Ian não é mais assim, Léo! Ele mudou, eu vejo. O que você está dizendo faz parte de um passado que não existe mais.
— E quem te garante que ele não vai voltar a ser como era antes? Eu sou seu irmão, quero o melhor para você e para o meu sobrinho. Ontem, quando vi você desmaiada, eu queria acabar com o Ian.
— Para com isso, Léo! — protestei, a indignação subindo à tona. — Vocês eram amigos! Ele é o pai do meu filho.
— O caráter dele é duvidoso.
— Não irei terminar com ele porque sei que ele não é mais aquele cara! — gritei, já saindo da cozinha em passos pesados de desespero.
Confesso que nunca pensei que veria Léo e Ian em lados opostos. O mais difícil era que eu não poderia escolher um lado. Independente de quem estava certo, o passado não pode nos prender. O Léo era do tipo que guardava rancor, sempre desconfiado de quem o cercava. Eu não podia brigar com o Ian à essa altura do campeonato. Estávamos tentando recomeçar, deixar as mágoas para trás. Havia um amor entre nós que era forte o suficiente para superar os obstáculos.
Depois de um banho quente, coloquei um vestido simples e prendi o cabelo em um coque despojado. A Carla estava sozinha no sofá, seu semblante triste, mas ainda assim ela sorriu ao me ver se aproximar.
— Me dá um abraço? — pediu, a voz baixa. Sorri e fui até ela. O abraço dela me trouxe um pouco de conforto. A sua força era admirável.
— Saiba que, independente de qualquer coisa, você é uma pessoa incrível! — falei, e um sorriso brotou em seus lábios.
— O que aconteceu entre você e o seu irmão? Ouvi vocês discutindo!
— Deixa pra lá, não quero te preocupar.
— Isa, me preocupa mais não saber do que está acontecendo.
— O Léo brigou com o Ian ontem... O Ian teve um passado problemático e o Léo acha que isso pode voltar a acontecer.
— Vou conversar com ele depois.
— Tem sorvete na geladeira? — perguntei, tentando mudar o assunto.
— Vamos pegar! — Carla disse, seus olhos brilhando.
Corremos até a cozinha, enchendo duas taças com sorvete e uma generosa camada de calda de chocolate, nos entregamos a risadas e conversas leves, deixando o peso do dia um pouco de lado. Mas quando o Léo chegou, minha disposição se desfez. Fui para o meu quarto, ainda magoada com o seu jeito duro.
Bebi um copo de suco enquanto pensava nas mensagens que recebi da Bianca. Quando verifiquei o celular, uma nova mensagem me fez parar. Senti um aperto no coração. Como se a vida estivesse pregando peças em todos nós. A tempestade parecia longe de acabar.
Bate-papo on: Bianca / offline
— Isabele, você nem imagina o que aconteceu... Estou grávida! Lembra do Marcelo, amigo do Ian? Comecei a sair com ele e agora descobri que estou grávida do mesmo. Não sei se devo contar para ele e para os meus pais, nem o que fazer da minha vida... Eu não tenho mais amigos e me arrependo imensamente de ter sido tão imprudente com você. Agora estou aqui, completamente desnorteada... Estou tão perdida! Me ajuda?!
Bate-papo off.
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De Repente Grávida
Roman pour Adolescents+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...