Capítulo 18: Entre Sonhos e Realidades

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A sala estava envolta de um silêncio acolhedor, exceto pelo suave zumbido do ventilador tentando espantar o calor da tarde. Eu reclinava no sofá, a mente navegando entre memórias e ansiedades. A luz que entrava pela janela tingia as paredes de um dourado suave, enquanto o cheiro do café recém-passado flutuava pelo ar, me lembrando de momentos mais simples. Meu estômago roncava, mas eu preferia esperar a Carla, que havia ido ao mercado.

"Devia ter ido com ela", pensei, um leve frêmito de culpa passando pelo meu coração. O médico me alertou sobre a importância do descanso, e enquanto repousava, minha mente começou a vagar para um cenário desconfortável. Como meu pai reagiria ao saber que estou grávida? O pensamento era como um peso na minha barriga. Ele, sempre tão firme, seria capaz de me expulsar de casa? Não, ele provavelmente ficaria decepcionado para sempre. O eco das minhas incertezas me consumia.

De repente, meu celular vibrou em cima da mesinha, interrompendo meus pensamentos. Ao olhar a tela, um frio na barriga me tomou: era ele. Respirei fundo e atendi.

Ligação on:

— Pai, que surpresa! Justo agora estava pensando em você.

— Eu tenho novidades!!

— Estava precisando ouvir algo bom. — minha voz transbordava expectativa.

— Estou voltando para casa em três dias.

— O quê?! Eu pensei que você ficaria aí por mais tempo!

— Você não gostou da novidade? — O tom dele, leve e divertido, quase me fez sorrir.

— É que eu e a Carla estamos aproveitando bem a nossa companhia.

— Fico feliz em ouvir isso, mas precisamos voltar.

— Vocês não podem ficar mais um tempo? Quero que aproveite bem as suas férias!

— Não. Agora, passa o telefone para a Carla!

— Ela foi ao mercado!

— Então eu ligo depois.

Ligação off.

Desliguei, o coração apertado. Ele não fazia ideia do turbilhão que se formava em minha vida. Quando a Carla entrou, com as sacolas abarrotadas de compras, não consegui evitar um sorriso.

— Trouxe as cerejas? — perguntei, quase como uma criança ansiosa.

— Claro, mas... você ainda não almoçou, né? — Revirou os olhos, claramente exasperada, mas minha alegria era contagiante.

— Não, esperei você chegar.

— Que consideração! — Carla sorriu. — O que mais aconteceu?

— Meu pai me ligou. Ele volta em três dias.

— Isso é uma boa notícia, certo?

— Não, não é bom.

Carla engoliu em seco, respondendo:

— Ah, fico feliz que ele voltará logo! Agora, vamos almoçar. 

Naquela tarde, enquanto a comida era preparada, mandei uma mensagem para a Bianca, me desculpando pela ausência e convidando-a para passar a noite comigo. A angústia sobre o que havia feito me consumia. O Ian ainda não havia se manifestado após a discussão sobre a gravidez. Será que ele estava chateado? A ideia de que outros já soubessem me deixou ainda mais ansiosa.

— Carla, estava pensando em preparar uma social aqui em casa com poucos amigos.

— Quando?

— Amanhã! Estou precisando me distrair e me divertir um pouco.

— Por mim tudo bem, mas primeiro preciso falar com o seu pai.

— Ele não vai deixar. — revirei os olhos, a frustração evidente.

— Irei conversar com ele hoje e logo te dou a resposta!  — Ela sorriu, e em um impulso, a abracei.

— Ah, talvez a Bianca vem dormir aqui hoje.

— E você pretende contar para ela?

— Não sei... Me ajuda?

— Faça o que seu coração mandar. Mas, não demore. Agora preciso ir! — Se despediu, antes de sair.

Sozinha, finalmente satisfeita, me entreguei ao prazer de comer cerejas e chocolate. Depois, me acomodei no sofá, onde o cansaço me envolveu em um abraço morno. Dormi como uma pedra, como o médico havia recomendado.

Quando acordei, a luz da sala já estava mais suave, quase mágica. O celular, derrubado, estava ao meu lado. Levantei-me, ainda sonolenta, e desbloqueei a tela.

Bate-papo on: Bianca / online

— Isa, já estou indo!

— Ótimo, vou pedir pizza.

— Irei passar no mercado para comprar sorvete. Alguma preferência?

— Doce com algum salgado, por favor!

— Mistura estranha, mas vou levar.

Pai / online

— Não.

— Não o que, pai?

— Não vou permitir uma reunião de amigos na minha casa.

— Por quê?

— Porque não. Basta eu viajar que você decide fazer festa.

— Prometo que será tudo organizado.

— Não faça nada sem minha autorização, irei pensar no seu caso.

— Preciso da resposta amanhã!

Ian / offline

— Contei para os meus pais, eles amaram a notícia!

Bate-papo off.

A vida realmente surpreende. Eu nunca imaginara que os pais de Ian aceitariam a gravidez com tanta leveza. Era uma ideia distante para mim, um mundo onde o amor era mais forte que os medos. Mas, enquanto a realidade me cercava, eu sentia um frio na barriga, a certeza de que não poderia esconder por muito tempo. Havia um futuro a enfrentar, e, apesar da juventude, começava a compreender que cada escolha tinha seu preço.

Com um suspiro profundo, olhei pela janela. O sol se punha, tingindo o céu de laranja e roxo, e ali, perdida entre sonhos e realidades, me perguntava: até onde o amor me levaria?

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora