Capítulo 42: Tempo Passageiro

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O peso do passado ainda me assombrava, e a única coisa que eu conseguia sentir por Bianca era uma profunda pena. A amizade que um dia foi um porto seguro agora parecia uma âncora arrastando-me para as profundezas. Eu não queria mais aquela presença, alguém que havia me magoado e perdido completamente a minha confiança. Para mim, ela era apenas um eco distante de um passado que desejava esquecer.

Assim que ouvi o som da chave na porta, meu coração deu um salto. Joguei o celular na cama e desci as escadas com pressa, mal contendo a expectativa. Quando avistei minha mãe, abracei-a com força, absorvendo o calor e a familiaridade que tanto desejava. Ajudei-a a descarregar as sacolas do mercado e, sem pensar duas vezes, devorei uma fatia do bolo que ela havia feito. A doçura me confortou momentaneamente, mas a sombra da tristeza persistia. Hoje, eu queria apenas chorar e me esconder, como se pudesse evaporar e me tornar parte do lar que tanto amava. Mas a verdade era que eu precisava voltar para casa, para a minha outra família.

— Isa, a Mirella virá jantar com a gente hoje! — anunciou minha mãe, acomodando-se ao meu lado no sofá, a expressão animada.

— Jura? — retruquei, a entonação carregada de desânimo.

— Seja gentil com ela!

— Tá bom... — Revirei os olhos, preparando-me para o que viria. — Mãe, eu queria discutir uma outra coisa.

— O que houve? — Sua voz era suave, mas eu podia sentir a preocupação.

— Acho que já posso ir embora.

— Por quê? Você ainda está em recuperação, precisa da minha ajuda!

— Eu sinto falta da minha outra família, do Ian...

— Quando pretende ir?

— Amanhã!

Ela suspirou, mas logo assentiu, sua expressão mesclando tristeza e compreensão.

— Tudo bem, respeito a sua decisão. Irei comprar sua passagem! — Ela se levantou, a expressão determinada, mas eu percebi o tremor em suas mãos.

— Obrigada por tudo, prometo voltar mais vezes! — garanti, sentindo a gratidão inundar o meu coração.

(...)

Passei a tarde em um torpor, o sono me arrastando para longe da realidade. O relógio marcava seis horas quando despertei, a mente nebulosa e os sentimentos ainda à flor da pele. Depois de um banho rápido, vesti-me para a visita da noite, decidida a não culpar Mirella por nada. Ela só queria me fazer rir, e a verdade é que as escolhas eram minhas.

A Bianca ainda ocupava um espaço na minha mente, mas eu a havia bloqueado, ignorando seu pedido de desculpas. Era hora de me afastar. Peguei meu celular e escrevi para a minha família.

Bate-papo on: Ian / offline

— Ian, tenho uma novidade para te contar. Me liga mais tarde!

Pai / offline

— Filha, volta para casa...

— Estou voltando amanhã, não se preocupe!

Bate-papo off.

Coloquei o celular no carregador e percebi que o tempo havia voado; já eram quase oito horas. De repente, uma onda de enjoo me atingiu, e eu corri para o banheiro. Após um breve momento de vertigem, sentei-me no chão, tentando me recompor. A campainha tocou, e, com cuidado, desci as escadas. Ao chegar na sala, Mirella já estava cumprimentando a minha mãe.

— Oi, Isa! — ela disse, seu sorriso iluminando o ambiente enquanto vinha em minha direção para me abraçar. Respondi, retornando o abraço, sentindo um sopro de esperança.

— Vou verificar se o jantar está pronto. Fiquem à vontade! — minha mãe anunciou antes de se retirar, deixando-nos a sós.

Sentamos no sofá e começamos a conversar sobre o último final de semana.

— Acho que bebi demais no sábado, não me lembro de quase nada. — Mirella riu, e eu me deixei levar pela leveza.

— Nada mesmo? — perguntei, intrigada.

— Apenas que o meu primo gostou muito de você.

— Ele é gentil. Dê lembranças a ele!

— Pode deixar. — Sorriu, e, naquele instante, senti que a tensão começava a se dissipar.

— O jantar já está servido, meninas! — ouvi minha mãe chamar e fomos juntas para a cozinha.

A mesa estava um espetáculo: mamãe caprichou na lasanha especial, e meu estômago roncou ao vê-la. Enquanto elas apreciavam vinho, eu me mantinha firme, tomando suco natural de abacaxi com hortelã. A saúde do meu bebê era uma prioridade, e eu não podia esquecer disso.

— Continuará morando aqui, Isa? — Mirella perguntou, já na sobremesa, sua curiosidade transbordando.

— Irei embora amanhã. — Respondi, sem deixar de olhar para ela.

— Sério? Eu tinha planos de nos divertirmos mais...

— Preciso voltar.

— Entendo. Mas quando o bebê nascer, quero te visitar! — ela riu e eu assenti, um sorriso involuntário surgindo.

— Claro!

— O que você sente, que será um menino ou uma menina?

— Bom, não tenho certeza...

— Vamos fazer um brinde ao bebê?! — Mirella ergueu a taça, e eu a acompanhei. Um pequeno momento de esperança se acendendo entre nós.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora