A nossa noite foi um remédio para a alma. Meses longe um do outro haviam deixado marcas profundas, mas ali, nos braços de Ian, eu sentia que tudo voltava a ter cor. O desejo que nos consumia foi finalmente saciado, e eu decidi não deixar que os pensamentos sombrios ofuscassem aquele momento. Pedi a ele que esquecesse as preocupações que haviam surgido, e embora ele parecesse preocupado, concordou com um sorriso.
Adormeci envolta em seu calor, sua respiração suave ao meu lado me trazia conforto. O cheiro do seu corpo era um bálsamo, e eu sabia que, a partir daquele instante, nossas prioridades eram únicas: cuidar do nosso bebê juntos. O Ian se comprometeu a me ajudar recuperar o peso que havia perdido, e juntos, lutaremos para garantir que nosso filho venha ao mundo saudável.
(...)
Na manhã seguinte, despertei com a sensação de beijos suaves sendo depositados em meu rosto. Fazia tempo que não acordava assim, tão leve e feliz. O Ian estava ali, sorrindo, e me fazia sentir completa. Aquele recomeço entre nós parecia perfeito; talvez o tempo longe apenas tivesse fortalecido o que já existia.
— Bom dia, meu amor! — A voz grossa e rouca de Ian ecoou, me puxando suavemente da cama.
— Me deixe dormir só mais um pouquinho. — Encarei seus olhos esverdeados, ainda sonolenta, e bocejei.
— Depois, você precisa alimentar o nosso filho. — Ele riu, a preocupação sempre presente em sua voz.
— O médico deixou claro que eu preciso descansar bastante! — Rebati, mas um sorriso se formava em meus lábios.
Levantei-me cuidadosamente, tentando não me deixar levar pela tentação de voltar a dormir novamente. Ian, por outro lado, parecia decidido a me alimentar, obrigando-me a comer cereais e frutas. Após o café da manhã, nos acomodamos no sofá, assistindo a uma série, e, por um momento, o mundo exterior parecia distante.
No entanto, o silêncio do meu celular era ensurdecedor. Eu havia dormido fora de casa, e a ausência de mensagens me fazia sentir sozinha. Mesmo tendo saído sem avisar, parecia que ninguém se importava comigo como antes. O meu estado frágil durante a gravidez estava sendo ignorado, e a sensação de abandono começou a pesar.
— Acho melhor eu ir embora. Quero descansar no meu quarto! — Falei, desviando o olhar de Ian, que me observava com preocupação.
— Eu te levo. Tem certeza que está tudo bem? — Ele insistiu, e sua voz transparecia um cuidado que me tocava.
— Tenho. — Respondi, embora minha voz tivesse saído mais fraca do que eu pretendia.
Assim que chegamos ao carro, um frio na barriga me acometeu. Olhei em volta, tensa, como se a Duda pudesse aparecer a qualquer momento com um sorriso malicioso e um plano traiçoeiro.
— Ian... — Engoli em seco, a raiva crescia por ter que falar sobre ela novamente. — A Duda vai estar na festa hoje?
— Óbvio que não! Eu não vejo ela desde que terminamos, e o Iago a odeia. — Ele falou com firmeza, mas eu ainda sentia uma sombra de dúvida.
— Ah! — Soltei um suspiro de alívio. Não que eu estivesse com medo, mas sabia que uma eventual confrontação com Duda poderia ferir a estabilidade que tentava construir.
— Por quê? Ela está te atormentando, Isabele? — Ian me lançou um olhar sério, e eu neguei, apressando-me a entrar no carro.
Senti uma tensão entre nós, e enquanto ele acariciava a minha barriga, uma nova onda de preocupação o envolvia. Eu sabia que ele tinha medo de perder o bebê, talvez mais do que eu, mas não permitiria que isso acontecesse. O Ian não entrou em minha casa, e nos despedimos no carro. Antes de sair, ele insistiu que eu fosse à festa, mas eu ainda não havia me decidido.
Ao entrar em casa, avistei meu pai e a Carla cozinhando o almoço juntos. O Léo, aparentemente, também não dormiu em casa. Ignorando o caloroso cumprimento de meu pai, passei direto para o meu quarto. Precisava de um momento sozinha, mas o cheiro da comida invadiu meus sentidos, e não consegui resistir.
— Oi, filha! Eu não tinha visto você chegar! — Meu pai disse, sorridente, mas revirei os olhos.
— Eu sei, agora você só tem olhos para a Carla. Percebi a minha invisibilidade desde que você soube da minha gravidez.
— Eu também percebi que agora você só tem olhos para o seu bebê! — Ele respondeu, como se o que eu havia dito fosse um absurdo.
— Você sabe que um bebê precisa de cuidados especiais. — Respondi, tentando manter a calma.
— Mas, ele nem nasceu. — Meu pai se mostrou sarcástico, e cada palavra dele cortava.
— Qual é o problema? — Eu o encarei, minha voz se elevando. Meus sentimentos eram uma tempestade.
— O problema é que você nunca se importou com essa criança, e agora que está à um passo de perdê-la, você resolveu se importar! — As palavras dele ecoaram como um golpe.
Aquelas poucas palavras me atingiram em cheio. Sem conseguir suportar, levantei-me da mesa, o coração apertado, e corri para o meu quarto, trancando a porta atrás de mim. A frustração e a dor me invadiram, não contive as lagrimas. Ele tinha razão, eu me sentia desnaturada e irresponsável. Era para o bebê estar saudável, e eu falhei nessa missão.
Não precisava de lembranças dolorosas, eu já estava ciente do que estava acontecendo. Estava tentando mudar, mesmo que fosse difícil, mas eu estava tentando.
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De Repente Grávida
Teen Fiction+16 "Ela não quer alguém que a entenda por completo. Mas ela não abre mão de alguém que acalme sua cabeça e principalmente o seu coração. Ela quer por as vezes estar junto de ti e ficar apenas em silêncio, mas que esse silêncio nunca signifique...