Capítulo 30: Palavras Profundas

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A nossa noite foi um remédio para a alma. Meses longe um do outro haviam deixado marcas profundas, mas ali, nos braços de Ian, eu sentia que tudo voltava a ter cor. O desejo que nos consumia foi finalmente saciado, e eu decidi não deixar que os pensamentos sombrios ofuscassem aquele momento. Pedi a ele que esquecesse as preocupações que haviam surgido, e embora ele parecesse preocupado, concordou com um sorriso.

Adormeci envolta em seu calor, sua respiração suave ao meu lado me trazia conforto. O cheiro do seu corpo era um bálsamo, e eu sabia que, a partir daquele instante, nossas prioridades eram únicas: cuidar do nosso bebê juntos. O Ian se comprometeu a me ajudar recuperar o peso que havia perdido, e juntos, lutaremos para garantir que nosso filho venha ao mundo saudável.

(...)

Na manhã seguinte, despertei com a sensação de beijos suaves sendo depositados em meu rosto. Fazia tempo que não acordava assim, tão leve e feliz. O Ian estava ali, sorrindo, e me fazia sentir completa. Aquele recomeço entre nós parecia perfeito; talvez o tempo longe apenas tivesse fortalecido o que já existia.

— Bom dia, meu amor! — A voz grossa e rouca de Ian ecoou, me puxando suavemente da cama.

— Me deixe dormir só mais um pouquinho. — Encarei seus olhos esverdeados, ainda sonolenta, e bocejei.

— Depois, você precisa alimentar o nosso filho. — Ele riu, a preocupação sempre presente em sua voz.

— O médico deixou claro que eu preciso descansar bastante! — Rebati, mas um sorriso se formava em meus lábios.

Levantei-me cuidadosamente, tentando não me deixar levar pela tentação de voltar a dormir novamente. Ian, por outro lado, parecia decidido a me alimentar, obrigando-me a comer cereais e frutas. Após o café da manhã, nos acomodamos no sofá, assistindo a uma série, e, por um momento, o mundo exterior parecia distante.

No entanto, o silêncio do meu celular era ensurdecedor. Eu havia dormido fora de casa, e a ausência de mensagens me fazia sentir sozinha. Mesmo tendo saído sem avisar, parecia que ninguém se importava comigo como antes. O meu estado frágil durante a gravidez estava sendo ignorado, e a sensação de abandono começou a pesar.

— Acho melhor eu ir embora. Quero descansar no meu quarto! — Falei, desviando o olhar de Ian, que me observava com preocupação.

— Eu te levo. Tem certeza que está tudo bem? — Ele insistiu, e sua voz transparecia um cuidado que me tocava.

— Tenho. — Respondi, embora minha voz tivesse saído mais fraca do que eu pretendia.

Assim que chegamos ao carro, um frio na barriga me acometeu. Olhei em volta, tensa, como se a Duda pudesse aparecer a qualquer momento com um sorriso malicioso e um plano traiçoeiro.

— Ian... — Engoli em seco, a raiva crescia por ter que falar sobre ela novamente. — A Duda vai estar na festa hoje?

— Óbvio que não! Eu não vejo ela desde que terminamos, e o Iago a odeia. — Ele falou com firmeza, mas eu ainda sentia uma sombra de dúvida.

— Ah! — Soltei um suspiro de alívio. Não que eu estivesse com medo, mas sabia que uma eventual confrontação com Duda poderia ferir a estabilidade que tentava construir.

— Por quê? Ela está te atormentando, Isabele? — Ian me lançou um olhar sério, e eu neguei, apressando-me a entrar no carro.

Senti uma tensão entre nós, e enquanto ele acariciava a minha barriga, uma nova onda de preocupação o envolvia. Eu sabia que ele tinha medo de perder o bebê, talvez mais do que eu, mas não permitiria que isso acontecesse. O Ian não entrou em minha casa, e nos despedimos no carro. Antes de sair, ele insistiu que eu fosse à festa, mas eu ainda não havia me decidido.

Ao entrar em casa, avistei meu pai e a Carla cozinhando o almoço juntos. O Léo, aparentemente, também não dormiu em casa. Ignorando o caloroso cumprimento de meu pai, passei direto para o meu quarto. Precisava de um momento sozinha, mas o cheiro da comida invadiu meus sentidos, e não consegui resistir.

— Oi, filha! Eu não tinha visto você chegar! — Meu pai disse, sorridente, mas revirei os olhos.

— Eu sei, agora você só tem olhos para a Carla. Percebi a minha invisibilidade desde que você soube da minha gravidez.

— Eu também percebi que agora você só tem olhos para o seu bebê! — Ele respondeu, como se o que eu havia dito fosse um absurdo.

— Você sabe que um bebê precisa de cuidados especiais. — Respondi, tentando manter a calma.

— Mas, ele nem nasceu. — Meu pai se mostrou sarcástico, e cada palavra dele cortava.

— Qual é o problema? — Eu o encarei, minha voz se elevando. Meus sentimentos eram uma tempestade.

— O problema é que você nunca se importou com essa criança, e agora que está à um passo de perdê-la, você resolveu se importar! — As palavras dele ecoaram como um golpe.

Aquelas poucas palavras me atingiram em cheio. Sem conseguir suportar, levantei-me da mesa, o coração apertado, e corri para o meu quarto, trancando a porta atrás de mim. A frustração e a dor me invadiram, não contive as lagrimas. Ele tinha razão, eu me sentia desnaturada e irresponsável. Era para o bebê estar saudável, e eu falhei nessa missão.

Não precisava de lembranças dolorosas, eu já estava ciente do que estava acontecendo. Estava tentando mudar, mesmo que fosse difícil, mas eu estava tentando.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora