Capítulo 39: Desejos e Desilusões

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O sol ainda mal havia despontado quando meus olhos se abriram. Um desejo inusitado me atingiu em cheio: pão com chantilly. Olhei para o relógio e eram sete da manhã. Minha mãe ainda dormia profundamente no quarto ao lado. Fiquei em dúvida entre ceder ao desejo bizarro ou tentar voltar a dormir, mas a curiosidade — e a fome — venceu.

Levantei, fiz minhas higienes matinais e fui à cozinha, tentando fazer o mínimo de barulho. O cheiro de café fresco da noite anterior ainda pairava no ar. Peguei o pão, passei o chantilly e dei a primeira mordida. A combinação estranha, doce e salgada, me surpreendeu. Dois pães depois, ainda não conseguia acreditar no que tinha acabado de comer. Se eu contasse isso para o Ian, ele certamente zombaria de mim para o resto da vida.

De volta à sala, tentei assistir TV, mas nada segurava a minha atenção. Confesso que o silêncio do Ian me irritava. Ele não respondia minhas mensagens desde ontem, e a ansiedade só aumentava. Olhei para o celular várias vezes, mas a tela continuava sem notificações.

Minha mãe desceu as escadas por volta das oito e meia, e me encontrou no sofá. Ela pareceu surpresa ao me ver tão cedo.

— Já acordada? Ainda é cedo, tenta dormir mais um pouco! — Ela me olhou com aquele misto de curiosidade e preocupação, que só mães conseguem expressar.

— Estou sem sono. — Respondi, bocejando.

— Já tomou café da manhã? — perguntou enquanto caminhava até a cozinha.

— Sim... mas acredita que eu acordei com um desejo maluco?

— Pior do que quando você misturou pizza com brigadeiro? — Ela riu, me lançando um olhar divertido.

— Acho que sim... Comi pão com chantilly! — Confessei, esperando sua reação.

— O quê?! Seus desejos estão ficando mais estranhos a cada dia.

— Espero não ter desejos quando o Ian estiver por aqui... Ele nunca me deixaria em paz. — Ri, imaginando sua reação.

Acompanhei a minha mãe até a cozinha, mais para fazer companhia do que por fome, já que ela preparava o próprio café. Acabei pegando apenas uma porção de frutas. Durante a conversa, ela sugeriu que fôssemos caminhar no parque, insistindo que eu precisava sair mais e pegar um pouco de sol. Apesar de não estar muito empolgada, concordei.

Escolhi uma roupa leve: shorts branco, top vermelho, e tênis esportivos. Amarrei o cabelo, e quando desci, ela já estava pronta, segurando uma bolsa com garrafinhas de água. O parque não ficava muito longe, e logo estávamos a caminho.

— Vamos nos encontrar com uma amiga minha. Ela está louca para ver sua barriga. — Minha mãe sorriu, seus olhos brilhando de expectativa.

— Mas eu nem a conheço. — Revirei os olhos, desconfortável com a ideia.

— Garanto que vai gostar! — Ela sorriu, o tom leve, mas com uma pitada de autoridade.

Quando chegamos ao parque, avistamos a tão falada amiga: uma mulher loira, alta, e claramente adepta de cirurgias plásticas. Mirella, era seu nome. Seu corpo malhado contrastava com o rosto excessivamente artificial. Ela se aproximou com entusiasmo, esticando a mão para tocar minha barriga.

— Quantos meses? Já sabe o sexo? — Perguntou com um sorriso largo.

— Quatro meses... e ainda não sei. — Respondi, tentando ser simpática.

Ela parecia divertida, mas logo desviou o assunto.

— Bom, fico sempre por aqui. Podemos sair, sabia? Eu sou vip em várias baladas. Quando quiser, pode me chamar! — disse com um sorriso travesso, que me fez sentir um desconforto crescente.

— Não estou saindo ultimamente... — Respondi, educadamente, mas sem interesse.

— Que tal irmos hoje à noite? Todos juntos, vai ser divertido! — Ela insistiu.

Minha mãe, que até então estava calada, apoiou a ideia, olhando para mim com expectativa.

— Vai ser bom para você, filha. Vamos sair todos juntos, você precisa se divertir! — Ela falou, e apesar de relutar, senti que seria impossível recusar.

Fizemos a caminhada pelo parque, o sol suave batendo no rosto. Eu mantinha meu ritmo lento, tomando água regularmente e me certificando de que estava tudo bem com o bebê. Não queria admitir, mas a caminhada foi relaxante. Ao voltarmos para o carro, minha mãe me lançou um olhar de curiosidade.

— E então, o que achou da Mirella?

— Gente boa. — Respondi com um tom monótono, ainda incerta sobre ela.

— Eu sabia que vocês duas iam se dar bem. Ela pode ser uma boa companhia para você enquanto estiver aqui!

— Mãe, vamos devagar... Não quero criar expectativas. — Suspirei, jogando a cabeça para trás.

Mais tarde, de volta para casa, tomei banho e escolhi um vestido branco. A tarde se arrastava, e Ian continuava sem me responder. A angústia crescia dentro de mim. Algo estava errado.

A minha mãe preparava um lanche natural quando recebi uma mensagem do meu pai. O coração acelerou, e me conectei rapidamente.

Bate-papo on: Pai / online

— Boa tarde! Podemos conversar? — Ele começou.

— Claro! O que houve?

— Sei que você está esperando o Ian, mas... saiba que ele não irá mais.

Senti um gelo percorrer minha espinha.

— Como assim?! Por quê?!

— Ele passou aqui em casa hoje cedo e disse ao Léo que não iria mais, por motivos pessoais. O que houve entre vocês?

— Nada que eu saiba... Ele não responde as minhas mensagens.

— Talvez tenha tido algum problema.

— Obrigada por me avisar, pai. — Digitei, sentindo o coração apertado.

— Não se preocupe, o seu irmão e a Leticia ainda vão. Aproveite com eles!

Bate-papo off.

Fiquei ali, estática, o telefone nas mãos, o coração dividido entre frustração e decepção. O Ian tinha suas razões, mas a sua ausência repentina, sem explicações, me deixava com um gosto amargo na boca.

De Repente GrávidaOnde histórias criam vida. Descubra agora