/1/

106K 3.2K 1.2K
                                    

Só pra deixar vocês com gostinho de quero mais, beijão. ❤

Sayuri

Plantão de hoje foi puxado viu, mas amo a minha profissão, sou muito grata por tudo o que passei pra poder estar atuando nessa área, sou enfermeira no Albert Schweitzer, em Realengo.

Trabalho na emergência, então vocês imaginem o caos que é, tudo o que é de fodido, bate nesse lugar, tô falando sério, tá !? Papo de colega meu fazer a triagem com um trinta e oito apontado pra cabeça e tudo.

Mas acima dos riscos, gosto do que faço, é gratificante ver a pessoa saindo bem do hospital, e tu saber que fez por onde ela ter uma melhora, que ajudou pra que a recuperação dela fosse tranquila.

Tomei um banho no banheiro dos funcionários, troquei a roupa, já enfiei a roupa que trabalhei no saco de lixo hospitalar e coloquei na minha bolsa, me despedi dos meus colegas e saí do hospital.

Caminhei até o ponto mais próximo e fiquei esperando o meu chegar, depois de uma hora mofando no sol, consegui pegar o ônibus. O caminho até em casa é longo, então, me possibilitei dormir.

Faço isso tantas vezes em uma só semana, que já acordo quando falta dois pontos pra chegar onde devo descer. Esperei um pouco, levantei, segurei no negócio, quando foi se aproximando da minha parada, puxei o fio, não demorou muito e motorista parou.

Sayuri - Valeu motô, bom trabalho! _ bati na lataria do ônibus ao descer.

Atravessei a passarela, andei um pouco e logo cheguei na principal da favela.

Sayuri - Qual foi colega ? Tá livre ?

XxX - Tô pô, sobe aí! _ falou e eu subi na moto _ Pra onde tu vai ?

Sayuri - Rua D.

Só esse moto táxi pra salvar mesmo cara, tava só o pó da rabiola, tem dias que eu consigo subir tranquilo, mas hoje eu tô toda estragada. Paguei o garoto, desci da moto e entrei em casa, da porta eu já ouvi os gritos da Mayra.

Mayara - NÃO QUERO SABER SE VOCÊ TEM FAMÍLIA OU DEIXOU DE TER BOFE, EU QUERO QUE VOCÊ DÊ A PENSÃO DA SUA FILHA! ...... SUA MESMO, NÃO FIZ COM O DEDO! QUER SABER ? EU VOU AÍ BUSCAR, VOU TE FAZER PASSAR VERGONHA!

Todo início de mês é a mesma coisa, sempre a mesma novela. Minha mãe morreu, Mayra era pequena, eu que terminei de criar.

Teve um projeto aqui no morro de cursos, fiz o supletivo, depois fiz o técnico em enfermagem, só que na época, eu estudava a beça, trabalhava numa lojinha aqui do morro de dia, estudava a noite e ainda dava conta de casa e da minha irmã. Foi nessa de não ter muita gente em cima, que ela conheceu o pai da minha sobrinha.

Ele é casado, e ela se envolveu sabendo, novinha emocionada, mas não era tão inocente, na primeira bobeada com a injeção, fez um filho. O pai da minha sobrinha é tão safado, mais tão safado, que come a mulher dele e a Mayra.

Conclusão, toda vez que ela cobra pensão pra Laura, ele diz que não tem. Mayra sempre surta, faz esse show todo, vai lá e busca a pensão, aproveita e senta pra ele também, parece até que gosta.

Nem dei confiança, entrei pro meu quarto, tomei banho, fui na cozinha, bebi água e tomei um remédio pra dormir, voltei pro meu quarto, fechei as cortinas, liguei o ar e deitei, cansada demais pra poder reagir.

-#-#-#-#-#-#-#-#-#-#-#-#-#-

Acordei com Laura dando uns gritinhos no meu ouvido, Mayra não tem juízo nenhum cara, puta que pariu, com certeza fez a menina dormir e jogou aqui do meu lado.

Sayuri - Oi dengo de tia, tia já acordou, tá !? _ dei um cheirinho nela _ Hum, cheirinho de totô minha tia, vamos tomar banho ? _ ela fez uns barulhinhos fofos.

Peguei roupa pra Laurinha no quarto da minha irmã, separei roupa pra mim, peguei nossas toalhas no varal e fui com ela pro banheiro. Tomei banho junto dela, fizemos a maior farra.  Saí do box, sequei minha sobrinha, vi umas assaduras, passei uma pomadinha e logo botei a fralda, coloquei body também, quanto menos pegar corrente de ar, melhor. Escovei o cabelinho dela, passei perfuminho e pronto.

Me enrolei na toalha, peguei o carrinho de Laurinha, abri, pus ela nele, levei pro quarto e me vesti enquanto olhava ela. Penteei meu cabelo, passei meus cremes, desodorante, tudo na maior calma, tanto tempo que não faço isso, sempre é tudo na maior correria.

Dei comida pra minha dinda, sim, além de tia, sou madrinha de Laura. Pelo menos nessa parte, Mayra tem senso, fui a única que fiquei com ela em todos os momentos. As colegas dela ? Se afastaram babado.

Depois de dar comida, dei uma frutinha raspada na colher, dei água, pus pra arrotar e logo em seguida, fiz dormir. Rapidinho Laurinha pegou no sono, a casa tava mais ou menos limpa, fiz só conservar, passei uma vassoura, um pano no chão, tirei pó dos móveis e pronto. Passei a tarde deitada com minha dinda, ela dormindo e eu vendo televisão.

A bicha parece um reloginho, quando foi cinco horas, acordou e ficou perturbando meu plantão por causa de comida. Amassei banana com farinha láctea e mucilon e entulhei na bolota.

Sayuri - Já tem identidade, né Laura Hadassa !? Vamos querer fazer uma carteira de trabalho, arranjar um empreguinho e ajudar a dinda, porque tu come feito uma desesperada! _ falei e ela "riu".

Deu seis, deu sete, deu oito, Mayra só chegou na hora da novela das nove, e a novela já tava no meio. Laura já tinha jantado, brincado e dormido. A bonita veio com a cara mais lavada do mundo.

Mayra - Tão bonitinha, né Say !?

Sayuri - Uhum....

Mayra - Aqui, metade do da conta de luz, e metade pra fazer a compra do mês! _ me deu o dinheiro, guardei nos peitos na mesma hora _ Foi mal por hoje cedo!

Sayuri - Jaé, vou dormir, amanhã tem plantão cedo.

Ela pegou Laurinha no colo e saiu fechando a porta, tranquei a mesma, enfiei meu dinheiro na bolsa e deitei, amanhã ainda é quinta bebê...

____________________

20/07/2020



Dilema - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora