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Sayuri

Hoje trouxe o acarajé de dona Gisele, mas ela tava de ovo virado, me falou que a filha vem do exterior, que não faz questão dela aqui, que não dá a mínima pra ela, e que fica feito urubu, só esperando o corpo cair pra chafurdar na carniça, morro com dona Gisele, não tem jeito.

Dia passou rasteiro, a bonita não tava afim de conversa e eu também não puxei, fiquei o tempo todinho conversando com as garotas no grupo. Eles planejando o final de semana e eu concordando com tudo, mal sabem que sábado e domingo serei casa.

Sayuri - Tchau dona Gisele, fica com Deus!

Gisele - Tchau filha, desculpa o mal humor, tá !?

Sayuri - Fica tranquila, até semana que vem!

Gisele - Até....

Um ventinho frio do caralho, botei meu casaco e saí do prédio.

XxX - SAYURI!

Olhei pra trás, não reconheci o homem, então, apressei meus passos. Ele veio atrás de mim em passos largos, impossível competir com um homem do porte dele.

XxX - Patrão mandou te buscar, se eu chegar lá sem você, ele me mata cara, colabora aí! _ me pegou pelo braço.

Sayuri - Quem é teu patrão ?

XxX - Mbappé...

Sayuri - Manda ele deixar minha égua andar, tchau! _ me saí e continuei andando.

XxX - Qual foi cara ? Eu tenho família porra, minha filha de um ano me esperando em casa, tô de tróia contigo, não!

Confesso, fiquei comovida pelo desespero dele, e pelo o que falam, André cumpre a risca as ameaças que faz, quero testar a fé do vagabundo, não, ainda mais com a vida de uma pessoa que não tem nada haver com isso. Entrei no carro puta da vida, quis nem conversa e o cara não rendeu também, ótimo!

Quando percebi já estávamos atravessando a ponte, quê que o bonito do André quer do outro lado da cidade ?

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O garoto me deixou na porta do restaurante Olimpo, já ouvi falar nesse lugar, porém, nunca tive interesse em conhecer. Primeira vez que vejo o André no estilo de antigamente, calça jeans, blusa e tênis, pretinho tá lindo, de perfume importado e tudo.

Sayuri - Quê que tu quer comigo ? _ disse quando ele me estendeu a mão.

Mbappé - Desarma, jaé ? Fica namoral.

Resolvi me calar, vim andando separada dele, a mão também não dou, sou carne de pescoço garota, já sou criada nas armações de André.

O jantar foi ótimo, não posso negar, a vista é linda, ficamos na parte externa do restaurante, brabo demais.

Sayuri - Tá, a gente já jantou, já estamos na sobremesa, e até agora tu não disse o que quer comigo...

Mbappé - Te trouxe pra jantar, pode não ?

Sayuri - Trouxe não, me raptou...

Mbappé - Que eu saiba tu veio por livre e espontânea vontade! _ debochou.

Sayuri - Eu fiquei com pena do cara, só não queria que uma criança ficasse sem pai! _ falei e ele gargalhou _ Falei alguma besteira ? _ cruzei os braços e ele foi parando de rir.

Mbappé - Falcão jogou alto, hein !? Porra, nego é bom de lábia. Ele não tem filho, não doidona, solteiro que nem eu _ falou me deixando puta.

Sayuri - Nego mentiroso cara, acreditei nele real André...

Mbappé - Acreditando em bandido neguinha ? Muito inocente tu!

Nessa graça quem perdeu fui eu, né !? Fomos brincando, brincando, quando vi já tínhamos saído do restaurante, fui rindo, e rindo, tarde demais, já tava peladinha na cama dele, depois de uma surra daquelas, cansada a beça.

Já ia ficando de chamego com o bofe, mas lembrei que não tenho nada com ele, levantei, botei minha roupa e ele ficou me olhando, terminei de pegar minhas coisas, e calcei meu sapato.

Mbappé - Qual foi ? Dorme aí pô!

Sayuri - Durmo é nada....

Mbappé - Tá mandada Sayuri ?

Sayuri - Tô não, só estou te comunicando que não vou dormir contigo.

Mbappé - Para de doce cara, deita logo nessa porra! _ se alterou.

Ri debochada e saí do quarto, ainda pude ouvir ele me xingar, vai bater cabeça sozinho, bofe tá cheio das emoções e eu cortei logo, tô correndo de laço. Vim pra casa rindo sozinha, muito cretina eu, puta que pariu.

Alegria da pobre, solteira, assalariada e favelada durou pouco, fiquei até murcha com o que eu vi.

Mayra - Bora entrar ? Tá a maior friaca aqui fora.

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26/08/2020

Dilema - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora