Seria fácil se eu soubesse esquecê-lo, se eu soubesse viver com quem realmente me valorizou, mas o coração e a emoção falaram mais alto, me deixei levar por aquele velho amor de adolescência, sendo o que sempre abominei. Na esperança de que voltasse...
Esses dias com o Átila foram bons demais, tava precisando ficar num lugar que não fosse a minha casa. Tô me arrumando pra trabalhar e ele tá aqui me olhando.
Sayuri - Sou tão bonita assim ? _ disse e ele riu.
Popeye - Tu se arruma animadona pra trabalhar, pô.
Sayuri - Eu gosto do que eu faço, aí fica fácil! _ disse e ele assentiu.
Popeye - Tô pensando em ir pra Arraial, tá ligada ? _ disse e eu assenti _ Bora comigo ?
Sayuri - Sei lá Átila.
Popeye - Leva tuas colegas, pô.
Sayuri - Vou ver com elas.
Popeye - Jaé, sei que tu não gosta, mas eu comprei pra tu _ falou me mostrando um relógio.
Sayuri - Valeu cara, é lindo _ beijei ele.
Átila é tão abusado, que bateu na porta do dono da padaria e fez ele abrir, mandou fazer café da manhã pra gente e tudo. Um menino da contenção dele veio me trazer no trabalho, a de adoro, né !? Fui trocar de roupa, vi meu presente dentro da bolsa, Popeye é doido cara, doido demais.
Bagulho ficou frenético, vários pacientes pra atender, mas material que é bom !? Nada nega, uma colega minha trabalha lá em Botafogo, num hospital de rico que tem lá, disse que tão precisando de gente, mandei meu currículo pra ela pôr lá, tô travada aqui, sabe ? Quero ajudar as pessoas, mas as vezes nem gase tem, muito complicado.
Eles só resolvem o problema, quando um de nós vai pra televisão, faz denúncia, manda fotos pra imprensa, principalmente pra Globo, que ama botar no cu dos hospitais do RJ. Ficam putinhos, mandam nota pros noticiários, tudo ao contrário do que a gente vive aqui e presencia, maior chacota.
XxX - Ô COLEGA ? MEU PAI TÁ SENTINDO DOR AQUI, TU TÁ SURDA ?
Sayuri - Senhora, eu não tenho o remédio necessário pra cessar a dor do seu pai, sinto muito! _ disse com toda a paciência.
XxX - SE NÃO TEM REMÉDIO, POR QUE ESSE CARALHO AINDA TÁ ABERTO ?
Sayuri - Isso não é a minha jurisdição senhora, sou uma simples funcionária aqui, tão prejudicada quanto você....
XxX - QUE PREJUDICADA GAROTA, TU TÁ RECEBENDO E NÃO QUER TRABALHAR, ISSO SIM, TÁ ACHANDO QUE PORQUE MEU PAI É VELHO ELE TEM QUE MORRER ? VOCÊS ATENDEM ESSES BABA OVO AÍ, QUE SOCA PRESENTINHO NO CU DE VOCÊS, SUAS PUTAS, FAZ CURSO PRA FICAR COÇANDO A XERECA, E OLHANDO PRA GENTE COM CARA DE CU EM HOSPITAL, DÁ O LUGAR PRA QUEM QUER TRABALHAR DE VERDADE!
Eu ia xingar ela real, mas a minha chefe chegou e mandou sair de perto, fiquei sentada no balcão de atendimento vendo o desenrolar da história.
Chefe do setor - Chama o segurança, pede pra ele levar essa moça pra tomar um ar, tá muito nervosa ela! _ disse pra uma colega minha.
O segurança veio, colocou ela pra fora do setor, minha chefe desceu, disse que não é pra deixar ela entrar, e pra ligar pra casa do paciente, chamar outro parente pra ficar com ele, maior bafafá. Pelo o que eu entendi, ela tá pintando desde sexta-feira, já brigou com todas as enfermeiras do turno, horrível.
Me desbundou real, perdi até o ânimo de trabalhar, troquei até com uma colega minha que é do CTI, fiquei lá quietinha, bom que aqui ninguém fala, todo mundo entubado e não tem acompanhante, melhor coisa. Depois de verificar meus pacientes, fiquei conversando com as meninas no grupo.
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A tarde passou devagar, quando chegou minha hora de sair, dei graças a Deus, tava seca nesse feijão sujo, deixei pra tomar banho no Biel, peguei o primeiro ônibus que passava perto da favela, depois de uma hora, tava subindo as ladeiras.
Deixei minhas bolsas em casa, resolvi pra tomar um banho aqui em casa mesmo, brinquei com Laurinha, Biel ligou, troquei de roupa e saí. Mayra doidinha pra saber onde eu ia, e eu nem tchum.
