Será que dona Gisele tá certa ?
Sayuri
Ontem a noite vim embora, povo tava livre, mas eu não. Super tranquila, de ônibus, com as minhas bolsinhas, Ana Paula me ligando de meia em meia hora, com medo de me acontecer alguma coisa, muito cagona essa garota.
Tava moída, mas levantei, tomei meu banho, fiz um ovo mexido e comi com café. Nem fiquei enrolando, terminei de me arrumar e já fui logo saindo de casa, daqui na zona sul tem é chão.
Fiquei com a bunda doendo, de tanto tempo que fiquei sentada esperando a condução. Acabei tendo que pegar o frescão, é mais caro, mas não posso chegar atrasada, né !? Tirei até mais um soninho, tava precisada.
Cheguei no prédio, cumprimentei o porteiro e subi pelo elevador de serviço, desci no andar do apartamento da minha "paciente". Dona Gisele abriu a porta pra mim como todos os dias, xícara de café na mão, sorriso no rosto.
Sayuri - Como foi o final de semana ?
Gisele - Tudo na mesma, meu filho veio com a mulher e meus netos, trouxe aquela comida ruim, sem sal, devem tá pensando que eu tô caduca! _ falou e eu ri.
Sayuri - Eles se preocupam com a senhora, dona Gisele!
Gisele - Mas minha filha, minha nora cozinha mal que só a praga, não sei onde que meu filho tava em ficar com essa mulher, não sabe fazer um nada e quando faz é ruim. Sou mais o seu tempero! _ mandou beijo e eu sorri.
A comida da nora dela é ruim mesmo, só Deus na causa, refogo tudo novamente e dou meus toques, porque a mona acha que tempero é só sal. Sabe aquelas dondocas de zona sul, que chega no mercado e não sabe a diferença entre um alface e uma acelga ? É a nora de dona Gisele, ô mulherzinha bisonha!
Eles vieram aqui um dia desses, me deu nervoso, umas crianças frescas, sabe ? Tô acostumada com as crianças lá da favela, que já nasce criando anticorpos, esses meninos não podem nem andar descalços que já gripam, só Jesus...
Gisele - E aquele rapaz ?
Sayuri - O André ? _ ela assentiu _ Ele tava lá no sítio também, nós passamos a noite juntos...
Gisele - E como foi ? _ bateu palminhas animada.
Sayuri - Ótimo...
Gisele - E vocês voltaram ?
Sayuri - Foi só uma noite dona Gisele, ele não me pediu em casamento, não! _ ri e ela me olhou séria.
Gisele - Pois deveria, vocês se gostam, tem que ficar juntos...
Sayuri - Gosto muito da minha liberdade, sabe ? Sirvo pra isso mais não...
Gisele - Vai fazer um filho como ?
Sayuri - Tanta criança abandonada por aí, adoto uma! _ rebati.
Gisele - Muita coisa vai acontecer, e você ainda vai mudar de ideia, vocês jovens pagam com a língua...
Sayuri - E essa sobrancelha, posso deixar na régua ? _ mudei de assunto.
Gisele - Só se eu puder fumar um cigarro.
Acendi um cigarro pra bonita, esperei ela fumar, cada tragada era um suspiro, gosta muito, nunca vi. O filho só permite um por dia, mas tem dias que dou dois, ela não tem lá um divertimento, distração dela sou eu, por isso converso mesmo, dou a maior atenção.
Já me apeguei a essa velha, semana que vem ainda vai fazer um mês que tô aqui, mas eu já simpatizei de cara, conexão fortíssima, tem dias que trago as coisas pra cozinhar, porque aqui só tem comida de hospital, parecem que querem que dona Gisele se vá mesmo.
As seis meu turno acabou, minha colega de revezamento chegou e eu fui embora, velha treteira, me deu dinheiro pra trazer um acarajé pra ela na quinta, pediu bem quente. Se eu vejo que não vai fazer mal, faço as vontades dela mesmo, não sou maluca de prejudicar uma idosa e de cara queimar meu filme.
Cheguei na favela iam dar nove horas, ansiei pela minha cama, queria ficar quietinha, mas Mayra resolveu dar uma de irmã dedicada. Veio aqui, trouxe Laura, fez janta pra mim, brinquei a beça com a minha dinda, esses dias tava no bucho, agora já tá quase fazendo um ano.
É minha irmã ? É! Eu amo ? Muito, mas dei graças a Deus quando foi embora, só queria um banho, ficar pelada, dormir e mais nada.
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25/08/2020
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Dilema - Finalizado
Teen FictionSeria fácil se eu soubesse esquecê-lo, se eu soubesse viver com quem realmente me valorizou, mas o coração e a emoção falaram mais alto, me deixei levar por aquele velho amor de adolescência, sendo o que sempre abominei. Na esperança de que voltasse...