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Sayuri

Ressaca me pegou com força filhas, não tô avistando nada, muito menos sendo avistada. Passei a manhã toda na merda, Ana Paula e Gabriel que fizeram tudo pra mim, arrumaram a casa e ainda deixaram almoço pronto.

Foi foda pra eu reagir, mas essa vida de coçar até sangrar me deixa agoniada, não consigo ficar muito tempo sem fazer nada, levantei, botei meu almoço, um copo de coca e comi sentada na bancada.

Lavei a louça, tomei um banho, infelizmente tive que me desfazer da escova no cabelo, tava um cheiro de cachaça danado, lavei meu muco, hidratei, terminei de tomar banho, me vesti, penteei meu cabelo, e pronto. Deu até um ânimo, sabe ?

Arrumei meu quarto, era o único lugar da casa que tava um lixo, troquei as roupas de cama, abri as janelas, bati o tapete lá fora e botei no lugar. Fiquei vendo um pouco de série na sala, tentando agitar a boa do sábado.

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Sabia que Gabriel não ia ficar nessa por muito tempo, ele tava guardando essa informação, se bobear deve ter terminado a dias, mas só teve coragem de contar no baile de ontem, e por tá com cachaça na mente, se não fosse isso, só Deus sabe quando e...

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Sabia que Gabriel não ia ficar nessa por muito tempo, ele tava guardando essa informação, se bobear deve ter terminado a dias, mas só teve coragem de contar no baile de ontem, e por tá com cachaça na mente, se não fosse isso, só Deus sabe quando esse bafo ia ser revelado.

Nem tomei banho, já tinha tomado mesmo. Passei a roupa que ia sair, vi sapato, acessórios que ia usar e fui logo me aprontar. Quando ia botar roupa, começaram a me chamar no portão, vesti a blusa que tava antes e fui abrir toda afoita. Danado todo nervoso, a blusa manchada de sangue, aquilo foi me deixando triste, choro veio na garganta, comecei a me tremer.

Sayuri - O quê que tu fez ?

Danado - Me ajuda Sayuri, me ajuda caralho! _ disse nervoso e saiu andando.

Peguei a chave de casa, tranquei tudo e saí doida atrás dele, vim parar na casa dele com a Andreza. Mona tava jogada na sala, desmaiada, sangrando. Emerson parecia até uma estátua, a lágrima escorrendo no rosto dele babado.

Sayuri - Chama alguém que seja limpo pra levar ela no hospital Emerson, ANDA CARALHO!

Ele pareceu despertar e foi correndo lá pra fora. Subi pro quarto deles, peguei os documentos dela, enfiei numa bolsa que achei lá e desci, não demorou muito e o Emerson voltou, pegou Andreza no colo, colocou ela deitada no banco de trás do carro e logo em seguida eu entrei, o garoto acelerou, chegamos rápido no hospital.

Sayuri - ALGUÉM AQUI PRA AJUDAR ? A GAROTA TÁ SANGRANDO!

Rapidinho veio médico, enfermeira, maqueiro. Fiz a ficha dela na força do ódio, queria mesmo era voar na atendente. Depois disso, fiquei horas mofando na sala de espera, sem notícia nenhuma, Emerson me ligando de meia em meia hora, já me escaldei logo, dei um coió, entendo o nervosismo dele, só que porra, se eu já tava nervosa, piorou meu nervoso. Não trouxe celular, tô com o da Andreza, achei pela casa e pus na bolsa que trouxe com os documentos dela.

Médico - Você é parente de Andreza Barbosa ?

Sayuri - Sou sim! _ menti.

Médico - As agressões foram bem graves, causando o aborto dela, fratura na costela, um braço quebrado, daqui há alguns dias ela vai ter fortes hematomas!

Sayuri - Meu Deus!

Médico - Se serve de consolo, ela tava grávida de poucas semanas, não foi preciso passar por curetagem _ assenti e ele saiu de perto.

Como que vou falar pro homem que ele surrou a mulher e matou o próprio filho ? Jesus, poderia ser a Mayra no lugar dela, eu poderia ter que dar essa notícia pra minha irmã ao em vês da Andreza, meu Deus! Vieram me avisar que eu já poderia entrar no quarto. A arrogância, a coroa de fiel ficaram lá fora, porque aqui eu vejo uma mulher triste, indefesa e acuada.

Andreza - Tu já sabe, né !?

Sayuri - Sei!

Andreza - Sempre sonho ter um filho pra chamar de meu, eu tive, não soube e ele ainda foi tirado de mim pelo próprio pai, tu tem noção da minha dor ? _ disse chorando.

Sayuri - Não posso imaginar Andreza, nunca passei por isso. Deus sabe de todas as coisas, as vezes não era a hora do seu sonho se realizar e nem o Emerson a pessoa certa pra dividir essa realização, entende ? _ ela assentiu _ Hoje eu te trouxe pra internar e se cuidar, mas amanhã eu não quero te trazer pra que algum médico faça teu atestado de óbito, pensa nisso, tá !?...

Andreza - Obrigada, de verdade e me desculpa por distorcer a tua imagem!

Sayuri - Tá tranquilo.

Emerson me ligou, pediu pra falar com a mulher, menti dizendo que ela estava dormindo e ele acreditou, perguntou sobre o estado dela, disse tudo, sem rodeios, ele ficou um tempão chorando comigo no telefone. Depois de um tempo o menino que trouxe a gente veio me buscar, Andreza ia ficar, uma tia dela vem pra ficar como acompanhante.

Cheguei na favela tarde já, mais de meia noite, Ana Paula me xingando horrores, me limitei a dizer que tive um problema, e só, boquinha fechada. Danado mandou me entregarem um malote, aceitei de bom grado, tô precisando mesmo. Até me senti mal em ter aceitado, mas depois levei isso como um extra, é como seu eu ainda estivesse no Albert e estivesse sobre aviso, entendeu ? Fiquei "a disposição" dele e quando ele precisou eu fui.

Passada com tudo isso, Emerson vai ter que conviver com isso pelo resto da vida dele, isso se ele tiver coração, né !? Compaixão pela mulher que dedicou a vida a ele. Eu tenho muita pena da Andreza, deu pra perceber que ela queria muito ter um filho e queria que o Danado fosse o pai da criança.

Mas o destino não quis assim, e eu acho até melhor, isso deve ser um aviso pra ela caçar o próprio rumo, bem cruel, só que um aviso, né !?

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16/08/2020

Dilema - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora