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Sayuri

Quando Mbappé me avisou que o Samir tinha sido atingido, nem liguei pra mais nada, me botaram num carro com ele e ficamos caçando um hospital longe, tenho muita pena do garoto que veio dirigindo, como eu perturbei o juízo dele garota, deve ter pego um ranço sinistro da minha pessoa.

Tudo aqui nesse hospital é na base do cala boca, comprei todo mundo nessa porra. Me orgulho disso ? Nenhum pouco, mas se o tráfico me deu esse recurso, eu uso ele pra salvar a vida do meu irmão sem nem piscar o olho.

Tô fora do mundo, Gabriel e Ana Paula tão escuro, não pude contar nada a eles, tive que quebrar meu telefone e tudo, tava grampeado. Melhor assim, quanto mais gente entra nisso, mais a merda fede.

Já avisei pro André, que ele me deve um celular novo e a blindagem do meu carro, Deus me livre e guarde, vai que alguém cisma comigo por causa dele ? Enche o carro e eu de tiro. Tô aqui com o dele, toda hora me liga pra saber do amigo, já tô sem o que dizer, médico me deixou no querer e foi embora lá pra dentro.

O fato de entender das coisas e já ter ajudado em casos como o do Samir me deixam mais nervosa, primeira vez na vida que eu desejei ser ignorante sobre esse tipo de assunto, ia ficar com menos preocupações na cabeça. Só sei rezar com a medalhinha na mão, tirei do corpo dele no caminho pra cá, muito valor sentimental pra neguinho dar a Elza.

Médico - Senhora ?

Sayuri - Pois não.

Médico - A cirurgia foi complicada, mas conseguimos retirar as balas, seu marido é bem forte, pra ter certeza de que o procedimento foi bem sucedido, ele irá ficar mais alguns dias conosco!

Sayuri - Que ótimo, quando eu posso ver meu marido ?

Médico - Agora, mas ele ainda tá sedado...

Sayuri - Tudo bem...

Pois é, a convivência com ele e com o André me deixaram treteira igual, tô mentindo sem nem piscar, mas foi a única alternativa que eu arranjei pra poder ficar aqui prolongadamente e sem levantar suspeitas. O médico me acompanhou até o quarto e me deixou sozinha com o Samir.

É aqui que a gente vê que toda a brabeza acaba, cadê o fuzil ? Consideração na hierarquia ? Tem não, mô. Só quem fica são os amigos de verdade, a família e pronto. Aghata só não tá aqui, porque isso exige um pouco de calma, por mais que eu esteja preocupada consigo me controlar, ela não.

Fiquei bastante tempo ali com ele, agradecendo por Deus ter deixado ele escapar mais uma vez. Esse viado gosta de brincar com a morte, ama correr perigo e quem sofre é a gente.

Dedé 🌟

- E aí ? Como tão as coisas ?

- Bem, ele já saiu da cirurgia, já tiraram a sedação dele, o bonito já até jantou...

- Porra, só essa notícia mermo pra aliviar a cabeça!

- Mas tão querendo deixar ele por mais dias, sabe como é, né !? Pra ter certeza de que tudo foi feito direitinho...

- Vai ter isso não, Sayuri, tu acha que não já se ligaram que o mano tá pista !?

- Cara...

- Tenta me convencer, não! Já falei e é isso mermo, mais tarde eu te ligo com o proceder certinho!

Deu nem tempo de dizer "tchau", desligou na minha cara esse puto. Tá nervoso, conheço bem a peça, por isso deixei na onda, já aprendi que não é toda hora que eu posso ficar provocando ele.

Umas meia hora depois, André me ligou de volta, me passou tudo o que ia ser feito, entre códigos, né !? Ninguém é idiota, principalmente como eu deveria agir. Samir parece que sente, tá me observando horrores.

Chelsea - Vai rolar resgate, né !?

Sayuri - Não sei _ menti.

Chelsea - Tá se borrando, por que então ? Mano tava agitadão contigo no telefone, pô, deu pra ouvir tudo!

Sayuri - Pra quem acabou de escapar da dona da foice, tu tá bem fofoqueirinho, né colega !? _ ele riu.

Chelsea - Tem que ficar ligadão nas paradas...

Sayuri - Aham!

Chelsea - E o vacilão ? _ se referiu ao Danado.

Sayuri - Sei dele não Sam, se morreu, foi lentamente, com a gana que teu parceiro tava dele, duvido muito que tenha sido rápido.

Chelsea - Seu marido! _ debochou.

Sayuri - Marido não, homem que dorme comigo! _ falei e nós rimos.

Deu nem tempo do bonito falar nada, escutei aquela gritaria das atendentes no hall, Samir botou logo um sorriso no rosto, rapidamente os garotos entraram no quarto, um deles rendia o médico enquanto os outros dois ajudavam meu irmão a andar. Caminhamos apressados pros fundos do hospital, colocaram meu irmão no carro de trás, e o médico junto.

Fui na frente com o motorista, eles rabiscaram a pista legal, só pararam quando chegou perto da favela, trouxeram a gente pra um lugar bem dentro do morro mesmo, nem eu que sou cria conheço esse buraco. André trabalhou bem a ameaça na cabeça do médico, cara se mijou todo, deixou logo uma cabeçada pra tomar conta da casa, acionaram a Aghata e ela veio com as coisas do marido dela, ficamos mais um pouco e viemos embora.

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20/09/2020

Dilema - FinalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora